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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 5. Psicologia da Saúde

IMPLICAÇÕES SUBJETIVAS NO DESENCADEAMENTO DA DOENÇA: ESTUDO DE CASO CLÍNICO

Adriana Maria Monteiro Dallolio 1
Janara Pinheiro Lopes 1
Leônia Cavalcante Teixeira 1
(1. Universidade de Fortaleza - UNIFOR)
INTRODUÇÃO:
O Lupus Eritematoso Sistêmico – LES é considerado uma das doenças mais comprometedoras do sistema imunológico, sendo uma enfermidade crônica que pode afetar praticamente todos os órgãos e sistemas, causando inflamações em várias partes do corpo, especialmente na pele, articulações e rins. Ainda possui etiologia desconhecida, todavia, suspeita-se que existe uma interação entre diferentes fatores como o genético, infeccioso, imunológico, hormonal, ambiental e psicológico. O LES não constitui uma enfermidade contagiosa ou maligna e, a maioria dos pacientes com lúpus apresenta sintomas em órgãos isolados, tornando o diagnóstico difícil. Enigmas quanto à cura, ao desencadeamento da doença, à incidência predominantemente em mulheres e à alta prevalência de distúrbios psíquicos concomitantes, chamaram-nos atenção para o desenvolvimento de um estudo com pacientes que apresentam tal patologia. Nesse sentido, o presente trabalho objetivou analisar as implicações subjetivas no desencadeamento da doença, mediante o contexto familiar, no momento da eclosão da primeira crise lúpica.
METODOLOGIA:
Esse trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade de Fortaleza - UNIFOR e foi desenvolvido na enfermaria de Reumatologia do Hospital Geral de Fortaleza - HGF através do acompanhamento de uma paciente portadora de LES. A pesquisa teve caráter qualitativo com ênfase em estudo de caso clínico. A participante M. tinha 19 anos, era procedente do Município de Novo Horizonte - CE, sendo a mais velha de uma prole de seis. A paciente foi escolhida a partir de indicação da equipe médica responsável pela unidade citada, sendo considerado o respeito ao estado da paciente e privilegiado o caráter ético da investigação. As entrevistas foram realizadas ao pé do leito. Utilizamos como recurso metodológico um roteiro semi-estruturado de entrevista organizado a partir de aspectos que privilegiam a história de vida da paciente. Também foram utilizadas como ferramentas de análise o genograma familiar que foi construído juntamente com a participante do estudo, desenhos e escritos realizados pela paciente quando esta apresentava condições para efetuar tal atividade.
RESULTADOS:
M. era portadora de LES há 3 anos e verificamos que a doença foi descoberta durante a última gravidez da sua mãe, eclodindo as crises lúpicas a partir do nascimento de suas irmãs gêmeas. Nesse período, M. e sua mãe foram internadas no mesmo hospital, mas em unidades diferentes, Obstetrícia e Reumatologia, respectivamente, já que a mãe de M. estava em processo de parto e M. apresentando sua primeira crise lúpica. Depois que a mãe teve a alta hospitalar, esta ficava dividida entre as filhas gêmeas e a doença da filha mais velha, pois todas necessitavam de cuidados maternos. Constatamos que o estado de M. chegava a piorar na ausência da mãe. A paciente tinha um discurso monossilábico, descrevia seus sintomas como se fossem coisas externas, relembrando suas internações anteriores e lamentando-se por não poder desempenhar atividades rotineiras. Seu corpo apresentava-se pelas especificidades do lupus: alopecia, feridas no rosto e inchaço nas articulações. Observamos em M. aspectos que nos incitaram a pensar em sua vulnerabilidade psicossomática frente ao nascimento de suas irmãs, sendo este um evento significativo na sua vida e o que a fez instaurar estratégias para elaboração dessa situação. Tais estratégias foram direcionadas para o seu corpo, já que M. parecia não ter recursos psíquicos mediante o nascimento de suas irmãs, atribuindo ao corpo a ressignificação desse episódio.
CONCLUSÕES:
Percebemos a ausência de aspectos relacionados à figura paterna no discurso da paciente. M. atribuía o lúpus a fatores externos, não se implicando em seu processo de adoecimento, concebendo a doença como algo que deveria ser tratado pelos saberes clínicos. Após três meses, M. foi encaminhada para Unidade de Terapia Intensiva do hospital supramencionado, apresentando complicações hepáticas. A paciente permaneceu internada nessa unidade durante quinze dias, ficando separada de sua mãe e faleceu logo após esse período. Concluímos que o vínculo mãe-filha era muito forte para suportar tal distância. Destacamos aqui a necessidade de considerarmos a história de vida do sujeito, mediante a eclosão de uma doença, analisando o seu contexto familiar. Identificamos como necessário o atendimento multi e interdisciplinar às pacientes portadoras de LES devido às vicissitudes da enfermidade, trazendo benefícios para a terapêutica médica. Verificamos a importância da inserção do psicólogo como sendo necessário no trabalho junto a pacientes que sofrem de doenças auto-imunes, visando implicá-los subjetivamente em seu processo de adoecimento, favorecendo a ressignificação de seu sintoma e auxiliando na melhora no seu quadro de saúde ao possibilitá-los saírem das crises lúpicas.
Instituição de fomento: Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - FUNCAP
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Lupus Eritematoso Sistêmico; adoecer orgânico; psicossomática.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006