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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia
Proposta Metodológica de Setorização Voltada ao Estudo de Vulnerabilidade Social em Assentamentos Urbanos em Áreas de Risco
Carla Meneses de Arruda  1
Pedro Barbiere  1
Sueli Angelo Furlan  1
(1. Departamento de Geografia - FFLCH - USP)
INTRODUÇÃO:

O forte processo de urbanização pelo qual vem passando as cidades brasileira nas últinas 4 décadas, tem deixado sua marca na forma heterogênea de organização da cidade, quase sempre acompanhada pela periferização de porções sociais segregadas.  A organização do espaço urbano construído pelas sociedades modernas, está diretamente condiciona aos mecanismos do sistema imobiliário, que reserva para uma clientela de alto poder aquisitivo os locais passíveis de maior valorização fundiária, sendo estes, geralmente, os mais favoráveis para ocupação, tanto em relação a configuração do seu sítio físíco, quanto à concentração e acesso a infra-estrutura e equipamentos urbanos. Aos que não são atendidos pelo sistema imobiliário, ou seja, a população de baixa renda impossibilitada de pagar o preço da terra exigida pelo mercado, resta apenas ocupar porções periféricas da cidade, muitas vezes precariamente conectada a malha urbana,  de forte degradação ambiental gerada por atividades econômicas e/ou suscetíveis a calamidades naturais. Assim, o risco apresenta-se como estritamente social, uma vez que os processos desencadeadores de catastrofes envolvendo elementos do meio natural estão diretamente vinculados a forma de ocupação e uso do solo destinado ao espaço pelas sociedades humanas.

            Porém, a definição de metodologias eficientes para intervenção e reversão de quadros sócio-ambientais desfavoráveis, gerados por conflitos que envolvem diretamente ocupações humanas em áreas de risco e altos índices de vulnerabilidade social, apresenta-se como um forte obstáculo ao planejamento urbano no Brasil. Este trabalho traz uma proposta metodológica de setorização, identificando áreas homogêneas intra-urbanas a partir de técnicas de fotointerpretação, voltada ao estudo da vulnerabilidade social como mecanismo de identificação de áreas prioritárias para intervenção por parte do poder público.  

METODOLOGIA:

Dentro desta temática de investigação científica, a Teoria Social de Risco busca, pela integração de fatores locais com a atuação de agentes e estruturas sociais, os aspectos que permitem a interpretação geográfica dos riscos. Assim, segundo Garcia Tornel[1], os espaços de pobreza e marginalização são com frequência cenários das catastrofes sociais envolvendo elementos do meio natural. Aqui, o estudo da vulnerabilidade social torna-se fundamental, uma vez que possibilita a visualização do grau de eficiência de um grupo social em adequar sua organização frente as transformações no meio ambiente que incorporam risco, ou seja, a capacidade humana de resposta.

A divisão de assentamentos urbanos em setores residenciais homogêneos a partir da utilização de tecnicas de fotointerpretação, é baseada nas caracteríscas texturais presentes nas fotografias aéreas em escala aproximada de 1 :10000, produzidas pelas diferentes formas e arranjos dos objetos dispostos na superfície, possibilitando uma abordagem sistêmica da cidade, como afirma Kurkdijian[2]. Para a classificação dos setores residenciais homogêneos e análise de suas relações intra-urbanas, serão aplicadas técnicas qualitativas e quantitativas, baseadas na definição de indicadores de aspectos significativos da população residente de cada setor segundo os critérios do estudo da  vulnerabilidade social. 

 



[1] García-Tornel, Francisco Calvo. Algunas Questones sobre Geografía de los Riesgos. In Scripta Nova : Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales, Universidad de Barcelona, n. 10, 1997, Barcelona-Espanha.

[2] Kurkdijian, Maria de Lourdes Neves de Oliveira. Um Método para a Identificação e Análise de Setores Residenciais Urbanos Homogêneos, através de Dados de Sensoreamento Remoto, com Vistas ao Planejamento Urbano.Tese de Doutoramento, apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, sob orient. do Prof. Dr. Brenno Cyrino Nogueira. 1986, São Paulo.

RESULTADOS:

A partir de uma abordagem que admite a heterogeneidade na organização estrutural dos espaços intra-urbanos como reflexo do perfil e condições sociais diferenciadas dos grupos humanos, ou seja, que o uso do solo residencial urbano não constitui uma classe única, mas pode ser dividido em sub-classes que relacionam-se ente si, compondo um intricado mosaico de utilização do solo, propomos que para se conhecer a vulnerabilidade social das populações assentadas em áreas de risco, se faz necessária a realização de uma análise em escala de maior detalhamento. Este trabalho propõe uma metodologia para a análise dos setores residenciais através da interrelação das diferenças visuais (espaço construído associado as características ambientais) com a caracterização da população residente segundo os critérios do estudo de vulnerabilidade social, como parte de um diagnóstico mais completo que possa subsidiar o poder público na idendificação de áreas prioritárias para intervenção e no planejamento urbano.

CONCLUSÕES:

Parece ser fundamental ao planejamento urbano metodologias que consigam dar conta dos freqüentes conflitos sócio ambientais enfrentados no Brasil. Tais conflitos devem ser analisados diante a apropriação humana com relação a natureza, já que as situações de risco não vem apenas pelos fatores físicos ambientais e sim de como a sociedade age, entende e iterage com os recursos naturais em geral.

            No caso desta metodologia fica evidente a aplicabilidade do sensoriamento remoto como ferramenta ao entendimento e solucionamento de conflitos sócio ambientais urbanos. Sendo capaz de reduzir custos e agilizar a interpretação, conhecimeto e análise das áreas em estudo. Neste contexto a análise da vulnerabilidade social pode sim ser avaliada e diagnosticada, de modo quali e quantitativo, com o uso desta ferramenta.

Os estudos de vulnerabilidade social tem grande importância em diversos campos do planejamento, principalmente no ordenamento territorial, servindo de base a projetos de intervenção e recuperação de quadros sócio ambientais desfavoráveis. Os processos naturais que ocorrem em áreas degradadas e em situação de risco social interferem potencialmente na segurança humana e surgem como um aspecto importante do conhecimento quando se pretende recuperar o ambiente, pois envolvem as influências mútuas entre sociedade e natureza, sendo um importante instrumento para se compreender o modo e o perfil da ocupação de áreas degradadas e sua capacidade de resposta a situações de risco.

Instituição de fomento: FAPESP
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Vulnerabilidade; Risco; Planejamento Urbano.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006