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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
PERCEPÇÃO DO ESPAÇO, DO CRIME E DO MEDO: APORTES TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA UMA ANÁLISE NA REGIÃO OESTE DE MARÍLIA/SP.
Márcio Ricardo de Carvalho  2, 3
Simone da Conceição Silva 3
Sueli Andruccioli Félix 1, 3
(1. Doutora e Orientadora - DCPE/FFC/UNESP ; 2. Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais - FFC/UNESP; 3. DCPE - FFC/UNESP)
INTRODUÇÃO:
No campo das representações sociais, captar as percepções do espaço, e de modo especial as do crime e do medo, permite-nos produzir reflexões das sociabilidades, dos estigmas, dos pré-conceitos, enfim, dos problemas e conflitos sócio-espaciais gerados pela chamada “escalada da violência”. Neste sentido, nossa análise tem se orientado pela compreensão de que ocorre um processo de fragmentação do “tecido sócio-político-espacial” que, por sua vez, garante, conseqüentemente, a elevação do nível de incivilidade sócio-espacial em que o medo do crime emerge como um modo de atribuir valores aos lugares do “mundo da vida” [lebenwelt]. Desse modo, integrada ao Grupo de Pesquisa e Gestão Urbana de Trabalho Organizado (GUTO/UNESP) em seu projeto em Políticas Públicas “A geografia das ofensas: diagnósticos para uma ação comunitária” financiado pela FAPESP, nossa pesquisa buscou confrontar as percepções do espaço, do crime e do medo dos moradores da Região Oeste às determinações e imperativos que se esboçam na realidade.
METODOLOGIA:

Munimo-nos das percepções dos sujeitos, por meio de pesquisa direta junto aos moradores da Região Oeste; dos dados sócio-econômicos do IBGE; e da base de dados organizada pelo GUTO e alimentada pelos B.O.s - boletins de ocorrência criminal - das delegacias de polícia da cidade. Além disso, utilizamos como referencial teórico-metodológico a categoria fenomenológica de “topofilia” cunhada por Yi-Fu Tuan, teórico da geografia da percepção que compreende a relação sujeito-espaço como uma relação mais afetiva do que simplesmente métrica. Nesse aspecto, consideramos, como aporte teórico-metodológico, as percepções que os sujeitos constroem dos seus lugares de vivência e, finalmente, das relações que estabelecem com demais sujeitos com os quais compartilham do mesmo “mundo da vida” [lebenswelt].

RESULTADOS:

A Região Oeste é uma área de altos índices de criminalidade e violência desde os primórdios de sua ocupação na década de 50, quando abrigava a Zona do Meretrício, até início dos anos 70, com muitos distúrbios sociais, mesmo após a desativação das casas de prostituição. Atualmente, abriga bairros com população de condições sócio-econômicas muito diversas, embora delimitados e isolados entre si, além das 03 universidades (UNESP, UNIMAR E UNIVEM) que, em particular, agregam à dinâmica criminal uma expressiva participação dos estudantes universitários - cerca de 15 mil alunos oriundos de outras cidades e majoritariamente residentes na região. Por exemplo: ao longo do ano, os meses de férias apresentam incidência mínima de delitos em contraposição aos demais meses do ano; e, ao longo da semana, constatamos alta concentração de ocorrências típicas desse segmento nos finais-de-semana, como lesão corporal e porte de entorpecentes em espaços de lazer. No entanto, considerando as percepções captadas pela pesquisa direta, notamos que tais percepções partem de imagens e representações que nem sempre correspondem aos dados oficiais, como é o caso do medo do crime, freqüentemente associado aos espaços mais pobres, citados recorrentemente como os bairros “mais perigosos” da cidade.

CONCLUSÕES:

De acordo com nossa pesquisa, as percepções individuais se revelam múltiplas e variadas, partindo de sentimentos próprios de uma relação afetiva com o espaço e, portanto, próprios de uma relação sócio-espacial. Entretanto, nossa preocupação em torno da percepção do espaço, do crime e do medo, reside na projeção dessas percepções como forma coletiva de compreensão do real, quando não possuem correspondência nas estatísticas criminais e, particularmente, parecem se articular com os interesses da produção e apropriação dos múltiplos espaços por meio do mercado imobiliário - pujante na Região Oeste em razão das universidades e das locações relativas às “repúblicas” de seus estudantes. Desse modo, nossa pesquisa, a partir do diálogo entre o real e o imaginário, tem se evidenciado como uma tentativa em deflagrar os preconceitos, estigmas e estereótipos relativos à “criminalização da pobreza” enquanto subsídios falaciosos às políticas públicas de segurança comumente investidas de modo opressivo sobre as classes populares.

Instituição de fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP e CNPq
 
Palavras-chave: percepção espacial; crime; medo.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006