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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana

A UTILIZAÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO PELOS AGENTES DO CAMPO DE PODER NO ESTADO DO MARANHÃO COMO ESTRATÉGIA DE MANUTENÇÃO “POLÍTICA”

Carlos Rerisson Rocha da Costa 1
Juarez Soares Diniz 2
(1. DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS, CURSO DE GEOGRAFIA/UFMA; 2. ORIENTADOR, PROF. DR DO DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS, CURSO DE GEOGRAFIA/UFMA)
INTRODUÇÃO:

Após a Segunda Guerra Mundial o conceito de desenvolvimento passou a ser difundido mais massificamente nos campos de poder. O termo desenvolvimento admite diversas acepções ou conteúdos, tanto na conceituação quanto na prática. No campo de poder, desenvolvimento passou a ter sentido contrário ao que o presidente norte-americano Harry Truman chamou de subdesenvolvimento, ou seja, desenvolver era ser oposto à estagnação, ao atraso.

No Brasil as idéias desenvolvimentistas foram difundidas a partir do governo do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961) e, com isso, esse ideário passou a ser reproduzido pelos governantes Estaduais. Advém desse processo a inserção do discurso desenvolvimentista pelos agentes do campo de poder do Estado do Maranhão.

Neste trabalho pretende-se demonstrar as várias formas de utilização do conceito de desenvolvimento através dos discursos de governantes do Estado do Maranhão, seus planos de governo e de desenvolvimento para este Estado, a partir de 1958, ano de criação e publicação do primeiro plano estadual de desenvolvimento, fazendo as devidas relações entre a utilização desse ideário e as tentativas de manutenção/perpetuação de poder político de grupos e seus agentes.

O presente estudo proporciona a possibilidade de interpretação e crítica das políticas e dos grupos políticos que se utilizaram e utilizam-se do discurso desenvolvimentista como forma de atrativo para as massas e ferramenta de manutenção/perpetuação de poder político no Estado.

METODOLOGIA:

Para a realização desta pesquisa fez-se necessária a consulta e análise de fontes documentais oficiais e jornalísticas disponíveis em órgãos públicos (Federais, Estaduais e Municipais) e bibliotecas, além de consultas a bibliografias especializadas. Esta análise foi realizada seguindo a ordem cronológica dos acontecimentos políticos no Estado, possibilitando a interpretação dos posicionamentos distintos de cada grupo político que estava no poder em determinado momento histórico, bem como a ligação destes posicionamentos aos interesses dos grupos ou de alguns agentes em particular. Fez-se necessária uma investigação sobre as visões do conceito de desenvolvimento, sua evolução e importância para o campo de poder. Através da relação entre os discursos, planos, a propaganda do Estado e todo o referencial teórico sobre desenvolvimento, é que se tornou possível a análise da consonância/dissonância teórica e prática dos processos aqui investigados.

RESULTADOS:

Os resultados do trabalho apontaram que o discurso de desenvolvimento realizado pelos agentes do campo de poder no Estado do Maranhão tem sido vazio do ponto de vista da consonância teórica, visto que, após todos os anos que constituíram o espaço temporal objeto desta pesquisa alguns avanços realmente foram notados, porém de forma parcelada, setorializada, o que não configura a existência de um desenvolvimento. Esses avanços são observados principalmente no setor econômico, que merece a ressalva de que o crescimento da economia do Estado, objetivo comum dos planos analisados durante a pesquisa, deu-se de forma concentrada, atendendo às necessidades de uma elite, aumentando assim o abismo que separa ricos de pobres. O quadro social do Estado também reflete claramente o que foi gerado. Com seus 68,42% de miseráveis, com a concentração de 68,9% da renda do Estado nas mãos dos 20% mais ricos, ficou claro que as ações tomadas pelos governantes não tiveram o intuito de gerar desenvolvimento, mas sim o crescimento da economia, concentrando os incrementos nos setores que convinham em cada momento, e com isso geraram elevados índices de exclusão social em detrimento do desenvolvimento outrora pregado.

CONCLUSÕES:

O modelo político oligárquico instaurado no maranhão tem como base o que foi detectado nesta pesquisa. A utilização do ideário desenvolvimentista, passando pelas teses industrialistas e suas difusões através dos meios de comunicação de massa, formaram instrumento de singular eficácia para a manutenção do poder político do grupo que por mais de 40 anos guia as ações no campo de poder deste estado. A repetição deste discurso difundido no Brasil por Juscelino Kubitschek é fundamentada na aceitação dos objetivos em nível teórico por parte da população, carente e em busca de melhor qualidade de vida, elemento que configura um dos objetivos intrínsecos ao que se convencionou chamar de processo de desenvolvimento. Para o Maranhão, após a identificação dos discursos do Estado, a observação do cenário gerado pelas ações paradoxalmente colocadas em relação aos discursos, e a análise da dissonância entre estes e as teorias produzidas acerca do desenvolvimento, resta incitar o debate político desde a academia às classes mais oprimidas do ponto de vista social, a fim de intervir na manutenção do modelo perverso de concentração de renda e aniquilamento da possibilidade de existência de cidadania e dignidade para a população deste estado.

 
Palavras-chave: Campo de Poder; Desenvolvimento; Estado.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006