A cidade de Primavera do Leste localiza-se na região Sudeste do Estado de Mato Grosso, nas coordenadas de latitude sul 15°33’45 “e longitude oeste de 54°17’41” cerca de 230 km de distância de Cuiabá, capital deste Estado. Primavera do Leste foi criada pela construtora Imobiliária Consentino em 1979, cresceu rapidamente tornando-se distrito do município de Poxoréu em 1981. Em 1986, após plebiscito, foi elevada a categoria de município. Atualmente Primavera do Leste conta com uma população de 53.881 habitantes (Anuário Estatístico de Mato Grosso, 2004).

Este município surgiu de um empreendimento colonizador, com o ideal de ser uma cidade moderna e planejada, destacando-se dos demais municípios (Poxoréu, Rondonópolis e da capital Cuiabá) pelo seu planejamento urbano. O presente estudo visa analisar o processo de segregação sócio espacial em Primavera do Leste partindo do pressuposto que tal processo se intensificou em decorrência da modernização no campo, como também da valorização imobiliária no perímetro urbano. Convém destacar aqui que o município de Primavera do Leste se destaca a nível estadual devido à agricultura mecanizada que se desenvolveu fortemente nas ultimas décadas.

A base econômica do município está voltada para o agronegócio - agricultura mecanizada, no qual se destaca no cenário econômico estadual, por possuir a 4ª economia de Mato Grosso. A agricultura e os fortes investimentos em pesquisas resultam em uma área com grande produção e alta produtividade, é o caso da cultura de soja, (com 260.000 ha plantados e produção de 811.200 toneladas, safra de 2003-2004). Com uma economia forte, consolidada também pelos incentivos fiscais à industrialização, Primavera do Leste conquistou o status de cidade promissora e com um dos melhores índices de qualidades de vida do Estado de Mato Grosso, transformando-se em um centro de negócios e pólo industrial. Entretanto, tal desenvolvimento atrai um contingente populacional não somente do Estado, mas também de outras regiões do país como Nordeste e Sul. Tais migrantes são atraídos pela “propaganda” de quê no município apresenta certa demanda de trabalho, as condições de vida são ótimas, tem moradia para todos entre outros aspectos positivos. Todavia, a realidade nos mostra que tais benesses não estão acessíveis a todas as classes sociais. Haja vista que a demanda de emprego exige mão de obra especializada, e os migrantes que se dirigem ao município não se encaixam neste perfil e acabam por desenvolver algumas atividades agrícolas, fixando suas moradias na periferia urbana, em áreas menos favorecidas de infra-estrutura básica. Intensificando assim, a segregação sócio-espacial em Primavera do Leste.

A segregação sócio-espacial presente no município em estudo, têm reflexos diretos na produção do espaço urbano onde determinados grupos sociais são excluídos (trabalhadores braçais, em sua maioria oriundos do nordeste) em predominância a outros grupos que detêm o poder político e econômico (grandes agricultores e empresários, na maioria sulistas). Essas características são observadas nos bairros destinados à classe de baixo poder aquisitivo, onde a atuação do poder público é mínima, estes se localizam entre imensas áreas desocupadas, como é o caso dos bairros Primavera III e Bela Vista. Enquanto que os bairros destinados à classe alta, o poder municipal têm ampla preocupação em inserir infra-estrutura qualificada.

No estudo realizado no município, identificou-se vários contrastes em relação à propaganda, que em Primavera do Leste era a cidade de empregos e oportunidades. Mas as oportunidades existentes são destinadas para quem tem qualificação e domínio técnico. Para os que não possuem tais características, se colocam a mercê da exclusão e do descaso por parte do poder público, ficando nítido uma grande concentração de renda e o interesse imobiliário dos grandes incorporadores.