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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho
O TRABALHO NOS SUPERMERCADOS
Paula Alexandra Serafini Binotto 1
Mariângela Rangel Jacques Penido 2
Leonardo José Ostronoff 3
Ana Yara Paulino 3
Clóvis Scherer 1
(1. Instituto Observatório Social - IOS/SC; 2. Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Sócio-econômicos - ER/MG; 3. Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Sócio-econômicos - EN/SP)
INTRODUÇÃO:

A intensificação da concorrência intercapitais desencadeou a adoção de medidas, por parte das empresas, que possibilitem a elevação da produtividade e a redução dos custos, como forma de manter a competitividade. Entre estas, pode-se citar a redução do contingente efetivo de funcionários em ritmo de trabalho mais acelerado, de maior intensidade e responsabilidade, com conseqüentes efeitos deletérios sobre a sua saúde, sobre o aumento do número de acidentes de trabalho e a diminuição das horas livres e de convívio social e familiar.

Considerando que as empresas transnacionais exercem um papel central para a conformação do processo de globalização e seus efeitos sociais e trabalhistas, o DIEESE, IOS e organizações sindicais de comerciários do país realizaram uma pesquisa buscando avaliar as relações de trabalho e as relações sindicais vividas no comércio varejista, com o estudo de caso da maior empresa transnacional do ramo supermercadista que atua na Europa, América do Sul e Ásia. Este trabalho faz parte de um estudo comparativo, que envolveu instituições do Brasil, França e Argentina.

A justificativa para a escolha da empresa Carrefour deveu-se à sua representatividade mundial. A mesma, em 2003, podia ser encontrada em 30 países, com mais de 10 mil unidades, das quais 69% situavam-se na Europa, 21% na América Latina e 10% na Ásia. Gerava 407.302 empregos e atendia, em média, a 2 bilhões de clientes ao ano. Em 2003, 10% dos seus hipermercados localizavam-se no Brasil.

METODOLOGIA:

A pesquisa foi organizada em duas fases. Na primeira, de caráter exploratório, após a consulta à bibliografia e aos documentos disponíveis na Internet, foram realizadas entrevistas em profundidade com representantes sindicais, funcionários e ex-funcionários da empresa em foco em quatro regiões brasileiras – Rio Grande do Sul, São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais -, em 2003 e 2004. Essas entrevistas seguiram a metodologia desenvolvida pelo IOS.

Na segunda fase, concentrou-se o estudo na Região Metropolitana de São Paulo, através da adequação da abordagem ergológica, para observar e analisar as situações de trabalho em duas lojas de hipermercado da empresa, ali situadas.

A equipe do DIEESE/IOS buscou a cooperação da direção da empresa para realizar o estudo, de modo a colher dados oficiais, incorporar sua visão sobre os temas tratados e ter acesso facilitado aos locais de trabalho. Mas a recusa da empresa inviabilizou este procedimento da pesquisa.

Assim, a pesquisa foi realizada com o apoio e o compromisso de 8 Sindicatos de Empregados no Comércio (SEC) e de duas centrais sindicais, que se mostraram diretamente interessados: SEC de Porto Alegre, de Canoas, de Caxias do Sul e o de Novo Hamburgo (RS); SEC do Espírito Santo, em Vitória (ES); SEC de São Paulo, de Osasco e Região (SP) e o de Belo Horizonte e Região Metropolitana (MG); Central Única dos Trabalhadores (CUT), através da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços (CONTRACS) e Força Sindical.

RESULTADOS:

As diretrizes da OIT pesquisadas foram: liberdade sindical (capacidade de o sindicato manter contato com os trabalhadores dentro do ambiente de trabalho), direito à negociação coletiva, não discriminação de gênero e/ou raça, inexistência de trabalho infantil e de trabalho forçado e saúde e segurança no trabalho.

Os principais resultados foram: dificuldade de acesso aos sindicalistas às dependências das áreas internas das lojas; e os trabalhadores sindicalizados não comunicavam esta condição aos seus superiores, temendo represálias. Resistência da empresa ao cumprimento dos compromissos firmados em Convenções Coletivas. Os entrevistados diziam existir, ainda que de forma velada, a discriminação a mulheres e negros, sendo que estes demoravam mais a ascender hierarquicamente e permanecem mais tempo em funções de baixa remuneração. Houve, também, informações de que as promoções são arbitrárias, dependendo mais do ponto de vista do superior, do que do desempenho profissional do funcionário. A saúde e segurança no trabalho não eram respeitadas, pois havia excesso de jornada de trabalho, uso indevido do banco de horas e limitação das pausas de descanso.

A segunda fase, com base na ergologia, teve dois resultados principais: a cultura da empresa, que pressiona os funcionários e chega a comprometer a sua integridade física e a distância entre o trabalho real e o trabalho prescrito, sendo que o primeiro não pode ser antecipado e, portanto, não há preparo para tanto.

CONCLUSÕES:

A empresa vem expandindo sua atuação no mercado brasileiro nos últimos anos e seus funcionários têm condições de trabalho bastante rigorosas. A empresa também se mostrou bastante fechada ao diálogo com os sindicatos, situação que vem muito lentamente mudando.

Mas há situações diferenciadas que parecem refletir tanto a correlação de forças entre os sindicatos locais e a empresa, quanto a diferentes estratégias adotadas. A capacidade de atuação coordenada em nível nacional entre as entidades sindicais, inexistente ou débil, parece ser uma variável chave para melhorar as relações sindicais em relação a alguns pontos das condições de trabalho. Basta ver que a estrutura das lojas e os equipamentos utilizados são bastante padronizados.

Os depoimentos que avaliavam a abordagem ergológica das situações de trabalho permitem concluir que apesar da orientação para a padronização das tarefas, há a necessidade permanente do trabalhador renormalizá-las, modificando-as para satisfazer a pressão exercida pela empresa quanto ao ritmo e à qualidade do trabalho e para personalizar, na medida aceitável, os produtos e as formas de execução. Assim, apareceram alguns elementos, como a forma pessoal de manipulação de instrumentos, o modo de tratar os clientes, a arte na elaboração final e apresentação de produtos. Com certeza o clima de pressão e as jornadas alongadas causam bastante sofrimento aos funcionários, expressos em estresse e doenças crônicas.

Instituição de fomento: CNPq, DIEESE, IOS
 
Palavras-chave: Relações de trabalho; Sindicalismo; Setor supermercadista.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006