A inserção da mulher no mercado de trabalho e, posteriormente, nas universidades, permitiu que houvesse uma verdadeira revolução dos papéis sociais. Assim a mulher, nos dias atuais, não é educada somente para ser subserviente ao marido ou para ter subempregos, mas também para se tornar uma profissional qualificada dentro de sua área de atuação. Apesar das mudanças na sociedade, tanto homens quanto mulheres continuam a desempenhar velhos papéis sociais. Ainda que haja na sociedade atual uma independência maior das mulheres, um aumento da participação no mercado de trabalho e crescente divisão de tarefas quando se trata do cuidar da casa e de filhos, esses novos papéis sociais ainda convivem lado a lado com os antigos, já que eles permanecem, como podemos observar na exigência da dedicação total da mulher a sua família em detrimento da carreira profissional, no sentimento de culpa se há uma tentativa de unir os cuidados maternos com a profissão etc. A jornada dupla de trabalho desempenhado pela mulher contemporânea pode vir a acarretar sensações de culpa, não cumprimento do dever, remorso, insatisfação. O objetivo deste trabalho foi analisar o discurso de mães universitárias do Instituto de psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro para que pudéssemos observar como se mantêm a relação da mulher, nos dias atuais, com a maternidade e com a profissão, tentando observar os arranjos que são feitos para conciliar essas duas esferas e como se compõe a sua identidade. 

Foi feito um exaustivo levantamento bibliográfico sobre análise do discurso, a identidade cultural da mulher na pós-modernidade e sobre a permanência dos velhos papéis sociais na vida das mulheres contemporâneas. Em seguida foram realizadas entrevistas com cinco mulheres de 23 a 28 anos, que eram estudantes de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e que ficaram grávidas e tiveram filho(s) durante a faculdade. A técnica utilizada foi entrevista semi-estruturada. Para registrar todas as falas da entrevista, utilizou-se gravador a fim de que fosse possível fazer a  transcrição da entrevista na íntegra. As entrevistas foram gravadas com a autorização dos participantes. Em seguida foi feita uma análise do discurso das entrevistas realizadas, foram estabelecidas 5 categorias como critérios para uma exploração comparativa entre os discursos obtidos: maternidade, estudos/ carreira, paternidade, relacionamentos e arranjos. Dentro de cada categoria abordada, mostraram-se os principais pontos levantados nas entrevistas tomando por base a fala de cada sujeito, que foi recortada do discurso para exemplificar o aspecto apontado. Finalmente, realizou-se uma articulação destes com outros estudos e contribuições teóricas, tomando os mesmos dados sob diferentes pontos de vista apontados anteriormente.

Verificamos, por meio da análise do discurso das mães entrevistadas, que há a presença de duas visões de mundo que se opõem ao mesmo tempo em que se complementam. Uma delas é aquela marcada pela transmissão cultural de valores, tradições e costumes que faz com que haja a permanência de antigos papéis sociais, tais como a obrigatoriedade da mulher de cuidar dos filhos enquanto que ao homem caberia o papel de provedor “eu pensei em largar a faculdade para ficar com meu filho ‘Ah não, ele é muito mais importante!”- Sujeito 2. A outra é uma visão contemporânea da mulher marcada, por exemplo, pelo surgimento de certa insatisfação/ incômodo em algumas mulheres em relação à dependência financeira delas em relação ao marido. O sujeito 3 relata que:“Eu acho que é deveria ser proporcional. Tanto que um dos nossos planos é que a gente quando eu estiver trabalhando calcular as despesas ver qual é a renda de cada um e proporcionalmente cada um arcar com as suas despesas de acordo com o que ganha.”. A questão da culpa, por não dedicar integralmente o tempo aos cuidados com os filhos, também surge nos discurso das mães entrevistadas, demonstrando a permanência de idéias como estas, de que a mãe só deve ter tempo para os filhos, para as tarefas do lar, mesmo que este tempo em que estivesse longe do filho fosse para seu engrandecimento pessoal e profissional, como podemos notar no discurso do Sujeito 3 “É....se sentir culpada em determinados momentos que poderia estar com os meus filhos.”.

Constatou-se que a visão antiga da mãe dedicada aos filhos e ao lar ainda continua nos dias de hoje, só que agora ela coexiste com a visão da mãe e mulher profissional, que estuda e quer ter uma carreira. O fato de ser mãe não exclui o fato da mulher ter uma profissão bem sucedida, e vice-versa, como vemos no discurso do sujeito 2: “Acho que é isso, não é uma escolha assim: eu preciso escolher o A. ou a faculdade, ou o A. ou a minha carreira. Tem o caminho do meio, com certeza”. É importante ressaltar que tanto a maternidade quanto à profissão ou estudos são importantes para as mulheres entrevistadas, mas elas enfrentam muitos obstáculos para conciliar essa jornada dupla, como a responsabilidade da criação dos filhos, que recai principalmente sobre as mães, já que aos pais caberia as despesas da casa; a culpa por não dedicar-se exclusivamente a criação dos filhos e até a dificuldade em conciliar horário para estudos e cuidados com o filho, pois não há mais a presença maciça dos avós no cuidados com os netos, já que muitas avós contemporâneas não podem se ocupar das tarefas de cuidar dos netos por terem compromissos com o trabalho ou mesmo com os estudos. Entretanto verificou-se nas entrevistas que há um apoio dos companheiros com relação à carreira e ao estudo. O que relativiza os obstáculos enfrentados pelas mães universitárias. Concluímos, deste modo, que tanto a maternidade quanto o estudo e a carreira são de fundamental importância para as mulheres de hoje em dia.