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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)

FORMAÇÃO PROFISSIONAL: A PERCEPÇÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA COMO ELEMENTO DA CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO DO PROFESSOR

Leonardo Germano Krüger 1
Hugo Norberto Krug 2
(1. Universidade Federal de Santa Maria/PPGE/CE/UFSM; 2. Departamento de Metodologia de Ensino/MEN/PPGE/CE/UFSM)
INTRODUÇÃO:

Este estudo objetivou interpretar a percepção de estagiários do curso de Licenciatura em Educação Física em relação às emoções expressadas pelos alunos em suas ações, bem como se os próprios estagiários interpretam as suas emoções expressadas nas suas ações durante as aulas de Educação Física (EF). A relevância desse estudo foi a de se justificar as ações dos estagiários visando desvelar elementos que viessem a auxiliar a construção do pensamento do professor sobre saberes necessários a prática educativa em um determinado contexto e espaço educacional como desenvolvimento profissional. Neste sentido, buscou-se dar suporte para o estagiário compreender o seu complexo processo de aprender a ser professor, seus limites, dificuldades e virtudes em relação a constante reconstrução da sua prática pedagógica para além da simples formação didático-metodológica, mas também a relacionando a uma bagagem filosófica, histórica, cultural, social e política de educadores e educandos.

METODOLOGIA:

Participaram deste estudo de caso qualitativo fenomenológico dezesseis alunos do curso de Educação Física do CEFD/UFSM em situação de Estágio Curricular Supervisionado do 7º semestre do curso de EF. Os mesmos realizaram estágio durante o segundo semestre letivo de 2005, de 1ª à 4ª série, em duas Escolas do Sistema Público Estadual da cidade de Santa Maria/RS. A Escola A localiza-se na periferia da cidade, possui espaço limitado para as aulas de EF, sendo constituída por alunos de famílias de baixa renda financeira; a Escola B está localizada próxima ao centro da cidade, possui boas condições materiais e espaço físico para a prática da EF, além de ser freqüentada por alunos de famílias de média renda financeira. Utilizou-se um diário de campo para fazer anotações das observações da prática pedagógica dos sujeitos observados. Foram analisados os conteúdos de um questionário e dos discursos realizados através de entrevista semi-estruturada. Dessa forma, construíram-se categorias através da convergência e divergência, assim como das relações existentes entre as descrições interpretadas à luz da teoria, do contexto e da prática.

RESULTADOS:

A percepção das emoções nas ações dos alunos pelos estagiários na Escola A foi, em ordem de significância: alegria, amizade e tristeza; vergonha, rejeição e raiva; Na escola B: alegria, amizade e raiva; rejeição e ócio; tristeza e vergonha. A percepção das emoções expressadas pelos próprios estagiários na Escola A foi: alegria, afetividade e amizade; orgulho e tristeza; medo; e raiva. Na Escola B: alegria e afetividade; amizade; tristeza e raiva; orgulho; medo; rejeição. Considerando os dois contextos, percebeu-se que a maioria dos alunos expressa satisfação, alegria e prazer em participar das aulas de EF. Entretanto, os aspectos negativos referem-se ao fator de inferioridade e agressividade, o que pode estar relacionado desde fatores socioculturais ao tipo de planejamento realizado. Em relação às emoções positivas expressadas pelos próprios estagiários, destacam-se alegria e afetividade; às negativas: tristeza, medo e raiva tais como frustração, ansiedade, insegurança e medo. Ainda notou-se diferença no discurso dos estagiários em relação ao que os próprios estagiários percebem neles e o que é percebido nos alunos. A diferença significativa é que eles percebem nos alunos a predominância de emoções positivas, enquanto que os próprios estagiários, enfatizam os seus aspectos negativos, mesmo mencionando os positivos. De modo geral, poucos foram os estagiários que não conseguiram definir as emoções expressadas.

CONCLUSÕES:

A relação do fenômeno emoção-percepção, assim como a formação de professores apresenta-se bastante complexa, tanto para quem vivencia como para quem elabora as possibilidades projetadas na compreensão dos sentimentos no mundo vivido pelos sujeitos. Nesse sentido, este estudo procurou colaborar oferecendo elementos até então pouco explorados na literatura sobre a percepção das emoções dos alunos e dos estagiários no tocante da formação de professores. Em decorrência, entendemos que estes são, muitas vezes, elementos menosprezados ferindo a capacidade de professores se autoapresentarem frente às dificuldades da Educação. Assim, é necessário contribuir para o alargamento da consciência dos educadores, de modo que em suas práticas concretamente situadas, gestem a sua formação científica, social e cultural. O desenvolvimento do pensamento do professor, portanto, perpassa o mesmo como agente ativo de sua própria compreensão, procurando descrever e explicar eventos e concepções ao aparato político, filosófico e conceitual que o mesmo faz sentido na realização e construção social da realidade. Refletir e aprender com a própria experiência do mundo vivido, compartilhando-a socialmente, pode nos tornar mediadores colecionadores de múltiplos processos pedagógicos abertos à conversação, inovação e reconstrução, retroalimentando o nosso pensamento, o complexo itinerário da formação profissional e da construção da escola.

Instituição de fomento: Universidade Federal de Santa Maria
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Formação Profissional; Fenomenologia; Pensamento do Professor.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006