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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências

CONCEPÇÕES ALTERNATIVAS SOBRE ANFÍBIOS APRESENTADAS POR ALUNOS DE 6ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA EXPERIÊNCIA DIDÁTICA

Maristela Gonçalves Giassi 1
Tiago Nesi Trento 1
Edson Schroeder 2
Tatiana Comioto Menestrina 3
(1. Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC; 2. Universidade Regional de Blumenau – FURB ; 3. Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC )
INTRODUÇÃO:

Os alunos quando vêm para a escola trazem consigo experiências e conhecimentos que são diferentes dos saberes científicos nela apresentados. Essas experiências e conhecimentos são tratados atualmente por pesquisadores em educação como “concepções alternativas”. De acordo com estes pesquisadores, as concepções alternativas deveriam ser aproveitadas pelos professores para, a partir delas, introduzir os conhecimentos científicos já sistematizados. Segundo Mortimer (2000), as concepções que o aluno traz consigo forma o seu “perfil conceitual”, sendo fundamental que o professor o conheça para planejar o seu ensino, pois as pessoas aprendem com base no que já é conhecido. De acordo com Giordan e Vecchi (1996), as concepções alternativas formam um conjunto de informações do qual o aluno estrutura progressivamente os conhecimentos. Martinand apud Astolfi (1994), chama a atenção para a organização de objetivos autênticos de aprendizagem, trazendo a idéia de objetivo-obstáculo para o planejamento das aulas. Astolfi (1993), destaca ainda que o aluno deve construir primeiramente novas ferramentas conceituais para depois fazê-las funcionar em novos contextos. A experiência didática aqui apresentada visa chamar a atenção para a importância de se conhecer essas concepções trazidas pelos alunos com seus obstáculos subjacentes, objetivando um planejamento e uma execução eficiente do processo ensino aprendizagem.

METODOLOGIA:

A pesquisa realizou-se com alunos da sexta série de uma escola da Rede Estadual de Ensino em Criciúma/SC. Inicialmente foi realizada uma conversa com os alunos, incentivando-os a relatar suas idéias, conhecimentos e preocupações sobre os anfíbios, visando obter informações acerca desses animais, que foram registradas pelo professor. Num segundo momento foi realizada análise dos relatos obtidos e partiu-se para as aulas com o objetivo de aprofundar o tema e desmistificar algumas das concepções encontradas. Num terceiro momento, dividiu-se o conteúdo para ser trabalhado em equipes, usando-se materiais de apoio como: livros, vídeo, gravuras, revistas e textos científicos, havendo a produção de um texto final. Após essa etapa, foi realizada uma visita de estudos ao parque ecológico da cidade para verificar a presença de sapos, pererecas e rãs em seu espaço natural; foi realizada também palestra com um biólogo da universidade local, que abordou aspectos gerais dos anfíbios, sua importância para o ecossistema e outras curiosidades. Nesta etapa, os alunos fizeram muitas perguntas e conheceram de perto a anatomia destes animais. Concluíram-se as atividades com um seminário e os alunos apresentaram suas impressões sobre o que tinham visto e ouvido. Após as atividades realizadas foram elaborados registros desenhados e escritos, além de colagens, expressando suas concepções atuais sobre os anfíbios, servindo como fonte importante para avaliação das atividades.

RESULTADOS:

Nos relatos dos alunos, identificamos concepções como as que seguem: se sapo soltar leite no nosso olho, ficamos cegos; quando um carrasco gruda numa parte do corpo, só sai no tempo da colheita do milho; se olhamos para o sapo enquanto ele mija, ficamos cegos; quando a rã gruda na perna, deixa marca e só sai com água quente; sapos, rãs e pererecas são nojentos, fedidos, gosmentos e gostam de viver em esgoto; se jogar sal no sapo ele morre; quem mexe no sapo faz xixi na cama; se a perereca grudar em alguém, nunca mais solta. Observamos por meio das respostas, a presença marcante de aspectos do folclore e da crendice popular existentes sobre os anfíbios. Verificamos também, que grande parte das respostas tem a sua origem no convívio familiar, determinando a formação das concepções presentes nas declarações dos alunos. Não podemos afirmar, com certeza, se as mudanças de concepções ocorridas após as atividades são definitivas, no entanto, as respostas posteriores mostraram que houve mudanças conceituais a respeito dos anfíbios. Entre elas, destacamos: desde o momento que nascemos, ouvimos falar coisas ruins de sapos [...] na verdade são apenas alguns mitos, crenças e lendas, que as pessoas contam para nos assustar; os sapos são inofensivos, eles só se defendem quando se sentem ameaçados; seu papel na cadeia alimentar é no controle natural dos insetos; os sapos se alimentam de insetos, pequenos invertebrados, pequenos vertebrados e, às vezes, de camundongos e minhocas.

CONCLUSÕES:
As concepções apresentadas pelos alunos são marcadas, principalmente, por elementos folclóricos, regionalismos, mas também por fatores afetivos e emocionais: sapos, por exemplo, são facilmente associados a histórias de feitiçaria, filmes de terror, de mundos subterrâneos, sugerindo mau agouro, além de se transformar em objeto de maus tratos pelas crianças e mesmo pelos adultos. Muitas dessas concepções alternativas tornam-se obstáculos à aprendizagem dos conceitos científicos, necessitando ser reconhecidas pelo professor. Para que este, no seu processo de ensino, auxilie na superação dessas concepções, deve utilizar-se de estratégias que conduzam os alunos a reconhecer que os conhecimentos científicos são mais adequados para compreensão desses fenômenos. Schnetzler (1995) propõe ao professor de Ciências compreender e aceitar que seu aluno é possuidor e construtor de idéias; saber que as concepções alternativas dos mesmos resistem às mudanças. Algumas vezes, os conhecimentos científicos podem não substituir integralmente o referencial conceitual que os alunos possuem. No entanto, os modelos explicativos podem co-existir na forma de diferentes zonas hierárquicas do seu perfil conceitual (MORTIMER, 2000), embora o professor deva trabalhar para que os alunos percebam suas concepções alternativas incorretas e rompam com as mesmas. Finalmente, as concepções alternativas podem indicar ao professor de Ciências sobre o quê e como organizar o ensino.
 
Palavras-chave: ensino de ciências; concepções alternativas; anfíbios.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006