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E. Ciências Agrárias - 3. Recursos Florestais e Engenharia Florestal - 4. Conservação da Natureza
OBSERVAÇÃO DO IMPACTO DO DESMATAMENTO NO CERRADO NO MUNICÍPIO DE BREJO-MA
Luiz Alves Ferreira  1
Irene Alves Ferreira 2
Luciana Brandão Ferreira  3
Rosilda Silva Dias  4
Luiz Henrique Brandão Ferreira  5
(1. Depto. de Patologia/Universidade Federal do Maranhão-UFMA; 2. Unidade Municipal de Ensino Domingos Pacífico - Buriti -MA ; 3. Depto. de Turismo e Hotelaria/Universidade Federal do Maranhão-UFMA; 4. Depto. de Enfermagem/Universidade Federal do Maranhão-UFMA; 5. Depto. de Direito/Universidade de São Paulo- USP)
INTRODUÇÃO:

O Município de Brejo, 29 mil habitantes localiza-se na microrregião do Baixo Parnaíba Maranhense, Cerrado e Semi-árido, Bioma de transição com vegetação do Cerrado, da Caatinga e da Mata de cocais característico da região, suscetível à desertificação (PAN-Brasil), “região meio norte do Brasil”. O ecossistema do Município apresenta rica fauna e flora. As observações foram realizadas nas bacias do Rio Buriti, afluente do Rio Parnaíba, onde reside parte da população a partir das comunidades Santa Rosa, Bandolim, Cantinho, Santa Tereza, Boa Esperança, São Raimundo, Pacoti, Igaipe, Garrapato, Lagoa, Forquilha, até o limite de Milagres do Maranhão, neste trecho o rio forma diversas lagoas onde a população apanha água para uso doméstico, para os animais e para pesca. Serão considerados os aspectos geográfico, ambiental, econômico-social, a qualidade de vida da população, a problemática da atividade agrícola mecanizada com a monocultura da soja introduzida nos últimos anos, sem um estudo de impacto ambiental dentro dos parâmetros da legislação e de estudo científico sério e aprofundado dos Biomas, sem considerar as populações tradicionais, as comunidades quilombolas rurais, que vivem em harmonia com o meio ambiente há várias gerações. A população rural vive da agricultura familiar, do extrativismo vegetal de plantas frutíferas, piquí, bacuri, cajuí, jatobá, murici, da utilização de plantas medicinais como o jaborandi, Tingui, barbatimão e outras.

METODOLOGIA:

Foi realizada uma viagem por mês durante o período de 2000 a 2005 onde foi acompanhado na localidade o processo desmatamento, sendo fotografadas as áreas em desmatamento por uso de correntão e tratores, onde são derrubadas até plantas protegidas pela legislação e há um processo de degradação na região da bacia do rio Buriti no município de Brejo para plantio da monocultura da soja. Foi observada também a percepção da população das comunidades sobre a agricultura mecanizada, ouvindo as pessoas das localidades sobre a produção da agricultura familiar e o deslocamento de famílias para a zona urbana.

RESULTADOS:

Desmatamento acentuado no cerrado e semi-árido para monocultura da soja chega ao índice de 420,8% de 2000 a 2004. A população do Município de Brejo tem predominância de afro-descendentes e traços indígenas. Maioria lavradora, vivendo da agricultura familiar de subsistência, produzindo arroz, mandioca, milho, feijão e do extrativismo de frutas: Bacuri, Piqui, Jatobá, Murici, Cajuí, Mangaba, Araticum, Buriti, Juçara, Bacaba, Babaçu, plantas medicinais como jaborandi, aroeira, barbatimão, tingui, mata-cachorro, fava danta, botica inteira, araruta do campo, sucupira branca, cabelo de negro, pimenta de macaco, amargosa, e Gonçalo Alves, Ipê, Aroeira, como complemento alimentar e de renda. Utilizam o rio, as lagoas e os riachos para apanhar água para uso doméstico, para os animais beberem e para pesca. Nas observações realizadas percebe-se que a fauna está bastante reduzida, são observados tatus, raposas, cachorro do mato e roedores procurando refúgios.  Percebe-se redução de volume de água no rio Buriti, riachos e lagoas e diminuição de chuvas de janeiro a junho nos últimos anos.

CONCLUSÕES:

O Desmatamento para agronegócio “monocultura da soja” vem violando os direitos humanos em relação à água, alimento, meio ambiente saudável e desqualificando as práticas tradicionais de utilização de recursos naturais. Degradando o bioma de transição, comprometendo os recursos hídricos, a saúde, a segurança alimentar e nutricional. Expulsando o lavrador da zona rural, que é forçado a migrar para a periferia da zona urbana da cidade e povoados sem saneamento sanitário e com ausência de trabalho para jovens. Os quais vêm usando drogas, e sendo atendidos em programa de ação social, o que não existia anteriormente. Há conflitos pela posse da terra e reconcentração da terra por grandes empresas. Percebe-se aumento da temperatura, redução da precipitação pluviométrica, da produção de mandioca, milho, arroz; desnutrição em crianças e idosos. Trabalho infantil e adolescente nas carvoarias. Redução drástica na fauna e flora, plantas medicinais e frutíferas de complementação renda protegidas pela legislação: bacuri, piqui, cajuí, jatobá. Redução do habitat da abelha tiúba, produtora do mel, alimento e fonte de renda desta população. As observações indicam que os Biomas do município não suportam nenhum tipo agricultura mecanizada, como é o caso da monocultura da soja. É necessário implantar urgente a Vigilância em Saúde Ambiental para evitar ainda mais contaminação por agrotóxicos das bacias hidrográficas, medida de promoção da saúde aprovada na 12ª Conferência Nacional de Saúde.

 
Palavras-chave: Brejo; Desmatamento; Promoção da saúde.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006