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C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 6. Zoologia
RÉPTEIS DOS CAMPOS DAS VERTENTES DE MINAS GERAIS
Bernadete Maria de Sousa 1
Aline de Oliveira Santos 1
Samuel Campos Gomides 1
(1. Zoologia, ICB, Universidade Federal de Juiz de Fora/UFJF)
INTRODUÇÃO:
Os répteis apresentam uma ampla radiação adaptativa e embora alguns lugares demonstrem possuir a mais alta diversidade, a maioria das espécies provavelmente ocorra nos ambientes tropicais. O Brasil, considerado a quarta maior diversidade de espécies de répteis do mundo, apresenta poucas informações sobre o grupo. Dados sobre a fauna reptiliana em Minas Gerais são pontuais, revelando a carência de informações sobre este grupo, principalmente em regiões de transição entre a Mata Atlântica e o Cerrado, mesmo havendo pesquisas iniciadas na década de 80. A localização da Floresta Nacional de Ritápolis é de importância estratégica por estar numa área de transição entre as regiões mineiras da Zona da Mata, Sul de Minas e Centro-Oeste, onde ocorrem composições vegetais características de Mata Atlântica e Cerrado. O presente estudo pretendeu conhecer a composição da herpetofauna local e auxiliar na elaboração do plano de manejo da FLONA de Ritápolis. Além disso, espécies pobremente conhecidas ou não descritas irão enriquecer a lista de espécies presentes na Coleção Herpetológica da Universidade Federal de Juiz de Fora, auxiliando outras instituições no ensino, pesquisa e extensão, além de adicionar espécies ainda desconhecidas pela ciência.
METODOLOGIA:
O presente trabalho foi desenvolvido no município de Ritápolis, localizado na microrregião Campos das Vertentes (20° 59' 47,0" S e 44° 16' 20,5" W), região Sudeste de Minas Gerais e bacia do Rio Grande. Apresenta altitudes variando de 937 a 1.268 metros, temperatura média de 20,700C e precipitação média anual de 1.300 mm. O clima típico da região é o tropical sazonal, caracterizado por uma estação seca e outra chuvosa e o relevo é ondulado e montanhoso. As observações e coleta de material foram realizadas quinzenalmente, durante dois dias consecutivos, de outubro de 2005 a fevereiro de 2006. Foi considerado o bioma do Cerrado no sentido amplo, incluindo além das áreas abertas (cerrado desde campo limpo ao cerradão, campos rupestres) certas formações florestais características (veredas, matas de galeria, matas mesofíticas). Os répteis foram capturados no período diurno, de forma direta e indireta, manualmente, com ganchos ou com o auxílio de armadilhas adesivas ou através de armadilhas de queda (n=120) com direcionadores, sendo que 60 foram instaladas em uma área aberta e 60 em uma de mata. Os répteis capturados foram identificados, fotografados e soltos em seguida, sendo o material testemunho depositado na Coleção Herpetológica da UFJF. Os indivíduos doados pela comunidade também foram computados neste inventário. Foram utilizados métodos estatísticos para definição de abundância e riqueza de espécies.
RESULTADOS:
Durante todo o período de amostragem, foi registrada a presença de 11 espécies de lagartos, representantes de oito famílias: Anguidae (Ophiodes striatus), Gekkonidae (Hemidactylus mabouia), Gymnophthalmidae (Cercosaura ocelatta ocelatta), Leiosauridae (Enyalius sp.), Polychrotidae (Polychrus acutirostris), Scincidae (Mabuya frenata), Teiidae (Ameiva ameiva, Tupinambis merianae) e Tropiduridae (Tropidurus itambere, T. torquatus e Tropidurus sp.), sendo mais representativos nas armadilhas e visualmente os lagartos das espécies A. ameiva e M. frenata. Entre os representantes dos anfisbaenídeos, foi registrada a presença de duas espécies da família Amphisbaenidae (Amphisbaena dubia e Leposternon microcephalum). Confirmou-se o registro de 20 espécies de serpentes, com destaque para as não-peçonhentas, incluídas em quatro famílias: Colubridae (Apostolepis assimilis, Atractus reticulatus, Atractus pantostictus, Erythrolamprus sp., Leptodeira cf. annulata, Liophis poecilogyrus, Oxyrhopus guibei, Philodryas olfersii, Philodryas sp., Pseudoboa coronata, Pseudoboa nigra, Sibynomorphus mikanii, S. neuwiedi, Waglerophis merremii), Boidae (Epicrates cenchria), Viperidae (Bothrops jararaca, B. alternatus, B. fonsecai, Crotalus durissus terrificus) e Elapidae (Micrurus frontalis), sendo as mais abundantes as espécies O. guibei e S. mikanii.
CONCLUSÕES:
Os lagartos estão bem representados na área, com espécies típicas de Mata Atlântica como Enyalius sp. e P. acutirostris, e de Cerrado como A. ameiva e M. frenata, demonstrando se tratar de área de transição. Os lagartos do gênero Enyalius, habitantes de regiões florestadas, já têm registro de ocorrência nos biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica, entretanto, o padrão cromático dos indivíduos de Enyalius, capturados em matas de galeria do Cerrado, não correspondente aos demais listados para o gênero. Uma revisão do gênero poderá mostrar uma nova espécie endêmica para este bioma. Embora o levantamento seja ainda pouco expressivo em número de espécies, a fauna de serpentes registrada possui representantes típicos de áreas abertas do Cerrado, como O. guibei e M. frontalis, e de regiões florestadas da Mata Atlântica, como P. olfersii. A família mais representativa foi Colubridae com primeiro registro de várias espécies para Minas Gerais. Entre as peçonhentas, B. fonsecai tinha registro apenas para o sul do Estado. Confirmando a grande dificuldade em serem encontrados e estudados, devido ao hábito fossorial, os anfisbaenídeos são o grupo de menor riqueza, estando pouco representados. Porém, como este é o primeiro registro de A. dubia para Minas Gerais, os resultados indicam a grande potencialidade dos Campos das Vertentes em abrigar expressiva diversidade, o que se espera constatar com a continuidade deste projeto.
Instituição de fomento: FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA DE MINAS GERAIS
 
Palavras-chave: Herpetofauna; Serpentes; Lagartos.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006