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A. Ciências Exatas e da Terra - 3. Física - 2. Ensino de Física
IDENTIFICAÇÃO DAS FORMAS PRIMITIVAS DE PENSAMENTO FÍSICO EM ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
José Carlos Xavier da Silva 1
Paula Rocha Pessanha 1
Soraia Rodrigues de Azeredo 1
Liliane Paiva Panetto 1
(1. Dep. Eletrônica Quântica, Inst. Física, Univer. Estado do Rio de Janeiro/UERJ)
INTRODUÇÃO:
“Todo ato criador - na ciência, na arte ou na religião - implica em regressão a um nível mais primitivo, a uma inocência de percepção libertada da catarata de crenças aceitas” (Arthur Koestler). Erasmo e Reuchlin, Lutero e Melanchton regressaram aos textos gregos e hebraicos, como Copérnico e seus sucessores regressaram a Pitágoras e Arquimedes, estimulados pela mesma busca de bases na essência dos ensinamentos dos que os antecederam. Apoiando-se nisso, foi realizada atividade que procurou verificar se pré-concepções do comportamento da natureza, integrantes da Física, estão presentes naturalmente em alunos de sexta e sétima séries do Ensino Fundamental. Sabemos que a racionalização dos argumentos desempenha um papel significativo na decisão final, para que os alunos dessas séries formalizem um pensamento físico sem um ensinamento à priori. Para que possamos analisar como pensam esses alunos, para podermos ensinar melhor, temos que ter uma visão mais clara da evolução das idéias que conduziram às concepções criadas por eles. Assim sendo, ao identificar o modo como indagam as explicações naturais e as causas racionais de tudo que os cercam, obtemos uma melhor compreensão da sua forma de pensar e o ensino da Física poderá proporcionar-lhes motivação, melhorando sua assimilação. Isso acarretaria na diminuição do crescente fracasso escolar, possibilitando um melhor rendimento nesta disciplina.
METODOLOGIA:
Estudantes de licenciatura, coordenados pelo seu orientador, apresentaram um conjunto de experiências simples aos alunos de sexta e sétima séries do ensino fundamental. Este conjunto de experimentos compreendeu o duplo-cone, o ludião, os vasos comunicantes, o vaporizador e os hemisférios de Magdeburgo, dentre outros. Esses foram selecionados por não exigirem cuidados excessivos em seu manuseio e por se tratarem de experiências onde o aluno tem contato com acontecimentos e fenômenos do seu cotidiano. Assim, tais alunos poderiam estabelecer relações e transferir seus conhecimentos para a vivência diária. Após a visualização e manipulação dos experimentos, os alunos foram estimulados a descrevê-los por meio de redações. Estas redações foram analisadas, com o objetivo de perceber se nas expressões utilizadas, existiam elementos (conceitos ou leis) que evidenciassem a forma de pensar dos antigos pesquisadores que formularam as leis da Física. A análise foi feita baseada nos princípios que nortearam o aparecimento das leis da mecânica clássica, observando se elas estão interiorizadas nos estudantes destas séries. Utilizamos o ponto de vista no qual a perpetuação da física pelo espírito humano é traduzida numa sucessão de estágios, num processo cumulativo dos conhecimentos sobre os diferentes fenômenos naturais.
RESULTADOS:
Os alunos do Ensino Fundamental analisaram os experimentos e produziram um conjunto de aproximadamente 65 (sessenta e cinco) redações por experimento apresentado. Destas, as pré-concepções presentes nos alunos são evidenciadas em pelo menos 25% (vinte e cinco por cento) do total de redações. Percebe-se forte presença da corrente de pensamento aristotélico, principalmente ao tentar determinar o funcionamento do vaporizador e do ludião. “a caneta estava com ar e boiando quando a garrafa se encontrava em ‘estado normal’ (relato de um aluno sobre experimento do ludião)”. “... conforme ele desce com força ele sobe porque o gás carbônico não fica debaixo d’água... (relato de um aluno sobre o experimento do vaporizador)”. Do total de alunos que usaram pré-concepções estamos ressaltando apenas dois relatos que se encaixam na teoria, segundo Arthur Koestler.
CONCLUSÕES:
Avaliando as redações pôde ser observado nos “conceitos” construídos pelos alunos, exclusivamente a partir de dados fornecidos por suas sensações, que o modelo aristotélico do universo resolveu seus dilemas básicos e imediatos. Faz parte da conclusão, que um certo percentual de todos os estudantes ainda pensam como a filosofia aristotélica. Sendo assim, podemos usar essa forma intrínseca de pensar do aluno para formular conceitos físicos, quando estes tiverem afinidade com o modelo aristotélico e usar o própria idéia do modelo para contradizer suas concepções, quando elas estiverem erradas, e ensinar a teoria correta.
 
Palavras-chave: Princípios Físicos; Experimento; Modelo Aristotélico.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006