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H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 4. Educação Artística
LOUCURA E CRIATIVIDADE
Ana Paula Santos Pessoa 1
Vladimir Santos Oliveira 1
(1. Departamento de História da Arte e Pintura, Escola de Belas Artes, UFBA)
INTRODUÇÃO:

A pesquisa aqui apresentada se propõe a pensar uma ação pedagógica dentro de uma perspectiva transdisciplinar, integrando os campos arte-clínica-educação.

Entendemos a arte-educação como um encontro capaz de produzir subjetividade e a criação como um esforço de compreensão da realidade. A criatividade, como característica inerente a todo ser humano independente do grupo social de pertencimento, tem sido historicamente manipulada pela pressão social de ideologia mecanicista, a qual esteriliza o poder de inventividade do sujeito social.

Neste projeto objetivamos experimentar a arte dentro do espaço psiquiátrico, e, não no espaço formal de educação, buscando o entrecruzamento das áreas do conhecimento referidas num esforço de produção de sentido através da criação de territórios subjetivos. Assim, a educação dialógica, que pressupõe troca de afetos, produz sentidos, e a arte, enquanto linguagem, torna-se criadora de territórios subjetivos, atendendo à necessidade de expressão inata do ser humano.

Espera-se com esta investigação contribuir para a ampliação do campo de pesquisa da arte-educação, explorando a arte em sua potencialidade cognitiva, expressiva e enquanto instrumento de inclusão no sistema simbólico social.

METODOLOGIA:

Em virtude da Reforma Psiquiátrica implementada desde 2001 estabelecemos parcerias com o Hospital Juliano Moreira e o CAPS Nzinga (Centro de Atenção Psicossocial), para realizar um trabalho de Arte-educação com portadores de transtorno mental em regime ambulatorial durante o período de quatro meses.

O trabalho consistiu na seguinte metodologia: os encontros eram realizados uma vez por semana com duração de uma hora. A cada encontro foram realizados trabalhos corporais, buscando a concentração e um maior envolvimento dos participantes, em seguida foram apresentadas temáticas com as devidas explanações teóricas dos artistas referentes e das técnicas a serem trabalhadas ilustradas através de livros de arte e trechos de filmes. Os materiais visuais e áudio-visuais funcionavam também como estímulo para os participantes produzirem. Concluíamos os trabalhos com a contemplação e verbalização em grupo dos produtos estéticos alcançados.

Foram trabalhados os seguintes artistas, temas e técnicas:

  • Juan Miró: Resgatando a criança interna - (Colagem sobre papel);
  • Vincet Van Gogh: A cor como expressão de sentimentos - (Guache sobre papel);
  • Frida Kahlo: O auto-retrato como expressão de si e do mundo – (Grafite sobre papel e Colagem);
  • Georg Baselitz e Jackson Pollock: A agressividade na arte – (Guache sobre papel e tela);
  • Hélio Oiticica: A cor em movimento no Parangolé – (Materiais diversos: filó, papel celofone, plástico bolha, sacos plásticos, presilhas, fita adesiva).
RESULTADOS:

·         Apresentação dos Produtos Estéticos alcançados ( HJM, CAPS e EBA)

·         Relatórios conclusivos e registro de observações de campo;

·         Texto crítico relacionando a experiência com bibliografia estudada;

·         Registro audiovisual e fotográfico;

·         Apresentação no SEPAV (Seminário de Pesquisa em Artes Visuais) Escola de Belas Artes/UFBA

CONCLUSÕES:

Relacionando os resultados obtidos com os objetivos propostos concluímos que a ação pedagógica desenvolvida obteve sucesso pelos seguintes motivos:

  • efetivação da proposta de transdisciplinariedade arte-clínica-educação em que pudemos avaliar como a arte é abordada dentro da terapêutica psiquiátrica;
  • produção de sentidos e territórios subjetivos tendo em vista a produção estética alcançada e a ação realizada pelos grupos, funcionando também como momento de reflexão acerca da condição de psiquiatrizados em que os participantes se encontram,
  • re-significação de certas vivências numa tentativa de compreensão mais pessoal, complementando a interpretação médica que as vê como sintomas de acordo com uma nosografia;
  • inclusão deste público no universo simbólico das artes plásticas, ampliando as possibilidades de ação e pensamento dos grupos e, em alguns casos, incentivando aptidões existentes;
  • ampliação do campo de pesquisa da arte-educação possibilitando a atuação da arte em diversos campos de conhecimento.

 

Instituição de fomento: Edital PIBIC UFBA
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Arte; Loucura; Educação.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006