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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 6. Educação Especial

POSSÍVEIS PROBLEMATIZAÇÕES DA ESCRITA NA COMUNIDADE SURDA

Mônica Zavacki de Morais 1
Márcia Lise Lunardi 1
(1. Departamento de Educação Especial/UFSM)
INTRODUÇÃO:

Este trabalho teve como objetivo falar sobre a surdez e sobre os surdos no mundo contemporâneo e ampliar um estudo sobre as imagens que os alunos fazem da escrita. Como objetivo principal contemplou uma discussão sobre possíveis representações culturais da escrita de jovens surdos inseridos no 4º ciclo da Escola Especial Doutor Reinaldo Fernando Cóser da cidade de Santa Maria - RS. Esta pesquisa procurou fazer uma aproximação com os chamados "Estudos Surdos". Esse campo de investigação se fundamenta nos Estudos Culturais, em que a surdez é vista como diferença política, de identidade e de diversas representações. Nesta investigação também se pretendeu trazer como ferramenta conceitual o tema letramento e suas implicações no processo de significação de escrita para o surdo. Conduz seu olhar para as narrativas de surdos que não só participam como sujeitos de um plano educacional, como também trazem, em suas narrativas, o papel da escola nas suas histórias de vida e a significação da escrita para estes.

METODOLOGIA:

O trabalho proposto foi conversar com as narrativas dos surdos na concepção de letramentos para além de uma prática pedagógica. Para realizar tal pesquisa, utilizei-me das ferramentas que percorrem o caminho dos Estudos Culturais, no qual apontei as noções de letramento, representação e cultura. Portanto, essa pesquisa teve como pressuposto metodológico a questão da dialogicidade, ou seja, foi realizado um fórum de discussão composto por quatro alunos do quarto ciclo, correspondente à 8ª série do ensino fundamental, todos adolescentes na faixa dos 15 aos 18 anos. Também participaram a professora de Português da turma, que também é intérprete da Língua Brasileira de Sinais e um funcionário surdo da escola que filmou as conversas. Foi entregue para cada aluno um Termo livre e esclarecido para que os pais assinassem, aprovando que seu filho participasse da pesquisa, pois esta seria filmada. Ao começar a filmagem, a professora sinalizou para os alunos que eu gostaria de fazer algumas perguntas. Fazer esse exercício investigativo significou entender que essas questões estão envolvidas em relações de poder e em práticas discursivas. Desse modo, desfragmentar os discursos que produzem algumas narrativas como verdadeiras e absolutas é efetuar uma ruptura para desenvolver uma visão de futuro valorizando narrativas que enfoquem a integração e organização social.

RESULTADOS:

Acreditou-se que a falta de conhecimento em relação ao que realmente acontece nas produções escritas dos surdos pode levar a atos extremos de arbitrariedade e marginalização dos alunos no contexto escolar. Através dos diálogos com o grupo surdo, pode-se perceber os desejos e direitos dos surdos em significar uma escrita, para que essa possa, na sala de aula e no decorrer da vida, servir como um motivo para romper com essa escrita e essa leitura que são tão fortemente marcadas por medo, insegurança e angústias, um constante sentimento de insatisfação, devido ao fraco desempenho acadêmico dos alunos em noções básicas como ler, escrever, interpretar. Desse modo, entendeu-se que surge a necessidade de se adotar uma política de educação para as diferenças para que haja uma proposta efetiva para a educação dos sujeitos surdos promovendo um "melhor" uso da leitura e da escrita por parte desses sujeitos e, assim, ir além das práticas homogeneizantes, ou seja, uma educação que seja pensada por professores ouvintes e surdos, para alunos surdos. Também, deve-se aprofundar os estudos do ensino da língua portuguesa e compreender o processo de construção dos conhecimentos nessa língua. Também devemos investir no acesso dos surdos à língua de sinais o mais precoce possível e continuar a pesquisar esta língua, no intuito de conhecê-la e também de ser proficiente no uso da mesma, para que, desta forma, consigamos trabalhar com e para os surdos.

CONCLUSÕES:

Revisitar a escola significou ver experiências de escrita que, talvez, possam contar aos professores sobre outras formas que os surdos querem da escrita. Essa intenção não centrou sua preocupação apenas na escola, mas também nas coisas da vida, na breve análise das falas dos sujeitos surdos dividindo estas com suas aflições, ansiedades, alegrias, prazeres, sonhos e desejos que, futuramente, práticas de letramento possam vir a auxiliar em um modo de escrita não só no pedagógico, mas também nas práticas sociais e culturais do uso da escrita. As representações descritas permitiram-me entender que o ensino de uma escrita totalmente fora de um "padrão" de significação, que poderia ser descrita como uma colonização do português escrito, poderá provocar novamente um fracasso na vida educacional dos alunos surdos, tendo em vista que essa escrita nem sequer se relaciona com a língua de sinais, mas sim com uma língua que a ele é totalmente estranha. A partir desse exposto, quem sabe, a partir de todas as reivindicações por parte dos sujeitos surdos, a pedagogia da diferença e o letramento possam juntos vir a auxiliar no processo da representação que a escrita tem para esses, o modo que os espaços educativos e a consolidação dos grupos surdos e de suas produções culturais possam fazer a diferença, e a sua educação possa ser entendida como a educação que conhece e reconhece as diferenças.

Instituição de fomento: Apoio PROESP/SEESP/CAPES-UFSM
 
Palavras-chave: Letramento; Representação; Surdos.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006