F. Ciências Sociais Aplicadas - 5. Arquitetura e Urbanismo - 3. Projeto de Arquitetura e Urbanismo |
|
DIRETRIZES DE PROJETO QUE VISAM À ACESSIBILIDADE ESPACIAL NA FUNDAÇÃO CATARINENSE DE EDUCAÇÃO ESPECIAL |
|
Walmir Rigo 1 |
Marta Dischinger 1 |
Elom Alano Guimarães 1 |
Milena de Mesquita Brandão 1 |
|
(1. DEPTO. DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA) |
|
|
INTRODUÇÃO: |
A acessibilidade espacial está intimamente ligada ao conceito de cidadania e participação. Um espaço acessível é de fácil compreensão, permite ao usuário ir e vir, e fazer parte de todas as atividades com segurança, conforto e autonomia e sem discriminação.
Para avaliar as condições de acessibilidade espacial e gerar diretrizes projetuais para a Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE), situada no município de São José, na grande Florianópolis, foi realizado projeto de pesquisa e extensão entre a FCEE e o Grupo PET[1]. Participaram deste os bolsistas Elom A. Guimarães, Milena M. Brandão e Walmir Rigo, acadêmicos do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sob orientação da professora Marta Dischinger e de técnicos da FCEE.
A FCCE atende a pessoas com deficiência de todo o estado, desenvolvendo atividades de ensino, pesquisa, atendimento e reabilitação. Dada a relevância de sua atuação para a sociedade, é fundamental que seu campus constitua referência como espaço acessível e que propicia a inclusão social. Porém, paradoxalmente à sua função, o que se observa é a falta de acessibilidade espacial do mesmo criando situações de exclusão.
Apresenta-se aqui, de forma sucinta a metodologia utilizada no projeto e que permitiu adquirir e aprofundar conhecimentos numa área de conhecimento tão complexo. Este aprofundamento foi possível através da interação com diversas pessoas com deficiência da instituição, condição esta primordial para a elaboração de diretrizes de projeto que visam soluções universais de acessibilidade.
|
|
METODOLOGIA: |
Inicialmente efetuou-se a leitura espacial das instalações da FCEE buscando compreender seus problemas e suas potencialidades através de análise documental, levantamento físico-arquitetônico e entrevistas com funcionários de diferentes setores (dentre eles muitos com deficiência) e da observação dos usos do espaço. Buscou-se entender como se desenvolve o funcionamento do complexo; como se estrutura a hierarquia de caminhos e quais os centros de interesse.
Na seqüência, buscando alcançar uma percepção do espaço mais próxima à do usuário, utilizou-se o método investigativo “passeios acompanhados” (DISCHINGER-2000) que consistem em visitas do grupo ao local de estudo em companhia de diversos usuários, tais como: cadeirantes, pessoas com deficiência visual, mães com filhos com deficiência múltipla, visitantes ou usuários que apresentem alguma característica relevante à pesquisa. Durante o processo, simula-se um percurso, sendo possível observar o comportamento do usuário. Solicita-se, ainda, que ele verbalize as razões que o levaram a tomar determinadas decisões e a sugestão de possíveis melhorias no espaço.
Sintetizaram-se os resultados do levantamento espacial e dos passeios através da elaboração de mapas temáticos e analíticos. Após, classificaram-se os problemas conforme quatro componentes de acessibilidade espacial: orientabilidade, deslocamento, comunicação e uso. A partir destas, elaboraram-se as diretrizes de projeto. |
|
RESULTADOS: |
O principal resultado do projeto de extensão foi a elaboração de diretrizes projetuais para soluções futuras. Estas são apresentadas a seguir conforme as componentes da acessibilidade avaliadas.
Orientabilidade: inserir informações adicionais em Braille, mapas táteis, pictogramas; implantação de tótens informativos; diferenciar os centros através de cores; caracterizar arquitetonicamente as diferentes edificações permitindo a compreensão de suas funções e acessos; utilizar referenciais sonoros para auxiliar os deficientes visuais; integrar visualmente as edificações com o entorno imediato (jardins) através de aberturas.
Deslocamento: garantir a separação entre o fluxo de pedestres e de automóveis; criar passeios com pavimentação antiderrapante, com largura mínima de 1,80m e sem desníveis e com pisos direcionais táteis; criar rampas com largura mínima de 1,50m e inclinação de 6,25 % com bordas laterais, permitindo a passagem simultânea de um cadeirante e um pedestre; criar locais de estar e lazer no decorrer do caminho principal; criar novos passeios interligando e margeando as edificações; criar acessos secundários para permitir maior integração entre o caminho principal e o caminho interno.
Comunicação: Oferecer meios alternativos de informação a todo tipo de usuário incluindo linguagem de Libras e aparelhos de tecnologia assistiva. Uso: reduzir a área e centralizar os estacionamentos; implantar equipamentos nos espaços ociosos; substituir as janelas; providenciar áreas cobertas para o deslocamento dos usuários com deficiências graves. |
|
CONCLUSÕES: |
O desenvolvimento futuro de projeto executivo baseado nas diretrizes apresentadas, assim como sua execução, depende de decisão política da FCEE. Para seu desenvolvimento é fundamental a realização de experimentação e avaliação conjunta de soluções técnicas propostas com participação de pesquisadores, arquitetos, técnicos e usuários da Instituição. As intervenções no espaço físico da FCEE são urgentes para possibilitar a melhoria das condições de acessibilidade espacial de suas instalações para usuários e funcionários. Estas melhorias são fundamentais para reduzir as diversas restrições geradas pelo meio ambiente físico e melhorar as condições de integração e participação das pessoas com deficiências que utilizam seus espaços.
Sob o aspecto pedagógico foram de suma importância a aproximação, interação e o reconhecimento dos problemas enfrentados pelos deficientes. Os métodos práticos utilizados alimentaram o conhecimento técnico e serviram para sensibilizar os envolvidos no trabalho sobre as questões da diversidade e da reivindicação por direitos igualitários por parte de um grupo social que enfrenta muitas vezes situações de exclusão.
O conhecimento adquirido permitiu assim a aquisição de uma postura de projeto inclusiva e que considera desde o início a diversidade das necessidades humanas. Ao mesmo tempo este conhecimento instrumentalizou tecnicamente os alunos para efetivar melhorias, intervenções e adaptações em outros espaços existentes sendo este um dos importantes compromissos sociais dos arquitetos. Por fim, espera-se contribuir para a difusão do conhecimento gerado através da divulgação dos resultados da pesquisa, e sua apresentação para a comunidade acadêmica e sociedade em geral. |
|
Instituição de fomento: Secretaria de Educação Superior (SESu)
|
|
Trabalho de Iniciação Científica
|
|
Palavras-chave: Acessibilidade espacial; Diretrizes de Projeto; Pessoas com deficiência. |
|
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006 |
|