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E. Ciências Agrárias - 1. Agronomia - 5. Agronomia

UTILIZAÇÃO DA CASTANHEIRA DA PRAIA (Bombacopsis glabra) COMO MOURÃO VIVO PELAS COMUNIDADES AÇORIANAS DA ILHA DE SANTA CATARINA

Victor Barbosa do Carmo 1
Paola May Rebollar 1
Paul Richard Miller 1
(1. Departamento de Engenharia Rural, Laboratório de Biotecnologias Neolíticas/ UFSC)
INTRODUÇÃO:
No Brasil, a grande maioria dos lotes é delimitada por cercas com quatro fios de arame e mourões de madeira a cada 4 metros. Tais mourões de madeira precisam ser periodicamente substituídos, sendo necessário o emprego de uma enorme quantidade de madeira para tal processo. Diante da quantidade de mourões utilizados por quilômetro de cerca e da escassez de madeira, torna-se relevante a pesquisa em busca de alternativas que conjuguem a manutenção das árvores, regeneração natural e a formação de cercas eficientes, como a substituição dos mourões de madeira morta por cercas de mourão vivo, formando as chamadas cercas vivas. Atualmente, denomina-se cercas vivas as barreiras de espécies arbóreas ou arbustivas compostas por arbustos espinhentos, árvores com arame farpado ou uma combinação dos dois. Existem diversas espécies de árvores que podem ser utilizadas como mourão vivo. Estas cercas podem ser estabelecidas, basicamente, de duas formas: através de mudas ou a partir de mourões que rebrotam e regeneram uma nova árvore.As cercas vivas reduzem drasticamente o custo de manutenção em relação às cercas tradicionais, por não ser necessária a substituição do mourão. Esta pesquisa pretende registrar as técnicas de manejo da Castanheira-da-praia (Bombacopsis glabra) para a construção de cercas vivas, desenvolvidas pelas comunidades açorianas da Ilha de Santa Catarina, utilizando os métodos e técnicas da Etnobotânica, para seu emprego nos agroecossitemas.
METODOLOGIA:
Utilizamos como método, entrevistas semi-estruturadas com os proprietários de terrenos que ainda estão cercados com a árvore. Selecionamos cinco comunidades na Ilha de Santa Catarina: Costa da Lagoa, Fortaleza da Barra, Ribeirão da Ilha, Rio Vermelho e Lagoa do Perí.  As três primeiras estão localizadas em encostas de morro, onde predominam os solos argilosos, e as duas últimas estão em platôs de solos arenosos. Todas são comunidades antigas onde ainda há forte influência do ambiente rural e da cultura açoriana. Em cada uma das cinco comunidades foram selecionados três informantes-chave. A coleta dos dados foi feita a partir de gravações das entrevistas e fotos das cercas e proprietários. As entrevistas foram transcritas para se obter as informações na íntegra.O experimento para testar o índice de rebrote dos mourões de Castanheira da praia foi implantado na Fazenda Experimental da Ressacada (UFSC).Realizamos o plantio no dia posterior ao corte. Optamos por um delineamento ao acaso, acompanhando uma cerca já existente. Foram plantados 35 mourões do pé, ponteiro e árvore inteira de forma alternada. Registramos a espessura dos mourões através da medição do comprimento da circunferência a altura do peito (CAP). Fizemos duas avaliações, três e sete meses após o plantio. Avaliamos o número de brotos em cada mourão e o vigor dos mesmos, a partir de características visuais.
RESULTADOS:
Questão 1: sobre a ocorrência da árvore nos arredores da casa todos os proprietários tinham árvores perto das residências.Questão 2: sobre à origem do mourão, onze dos entrevistados os cortavam na sua propriedade, três cortavam nas vizinhanças, um comprava os mourões. Questão 3: sobre qual parte da planta é utilizada como mourão, nove indicaram o pé, outros seis qualquer parte da planta. Questão 4:nove indicaram a época de chuvas como melhor para o corte dos mourões, outros seis em qualquer época. Questão 5: sobre método de fixação do arame,oito afirmaram pregar o arame e sete citaram a amarração como técnica utilizada. Questão 6: sobre poda das cercas, todos os quinze afirmaram realizar podas regulares Questão 7: sobre adaptação da árvore aos diferentes tipos de solo encontradas na região. Para esta pergunta nove  indicaram os solos argilosos como os mais propícios, outros seis indicaram os solos arenosos.Questão 8:outros usos conhecidos da árvore, um apontou a utilização das folhas para alimentação animal, cinco apontaram as castanhas produzidas pela árvore como comestíveis se torradas, a utilização para confecção de acordoamento (embira) foi apontada por quatro, um mencionou a utilização do óleo extraído das castanhas produzidas pela árvore para iluminação, outro indicou produção de sabão a partir deste óleo, três afirmaram desconhecer outras utilidades. No experimento, a Castanheira teve 91,43% dos mourões rebrotando, 82,86% destes com vigor forte.
CONCLUSÕES:
A implantação de cercas vivas de Castanheira da praia pode ser feita com os mourões definitivos,cortados nos bancos de árvores ou adquiridos no pequeno comércio existente nas comunidades preferencialmente na época de chuvas.Os mourões ideais devem ter pelo menos três metros de altura e espessura mínima de 20 cm de CAP para que seja forte o suficiente para sustentar o arame e para que os brotos não sejam alcançados pelo gado. Não é necessário nenhum tipo de tratamento além do desgalhe, apenas que sejam plantados em alguns dias após o corte em covas de 60 a 80 cm de profundidade com terra bem compactada a fim de deixar o mourão firme, facilitando o enraizamento.O espaçamento depende do tipo de arame utilizado (arame farpado de três a quatro metros e arame eletrificado 10 metros).A fixação do arame pode ser feita através de grampos,mas os ferimentos causados por esta técnica podem interferir no rebrote. O mais indicado é a amarração do arame utilizando um outro arame liso. As duas técnicas necessitam de revisão a cada três ou quatro anos.Após alguns anos do estabelecimento das cercas de Castanheira da praia, as copas podem ser podadas para reduzir o sombreamento sobre a cultura principal. As folhagens servem como alimento para o gado.Diante do baixo custo de obtenção de mourões e de estabelecimento deste tipo de cerca, esta espécie apresenta grande potencial de uso em sistemas silvipastoris e pode auxiliar o desempenho econômico e ambiental das pequenas propriedades rurais.
 
Palavras-chave: Agroecossistemas; Etnobotânica; Cercas Vivas.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006