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F. Ciências Sociais Aplicadas - 5. Arquitetura e Urbanismo - 3. Projeto de Arquitetura e Urbanismo

Análise arquitetônica de unidades habitacionais de interesse social em uma perspectiva comparada

Yara Cristina Labronici Baiardi 1
(1. Universidade Presbiteriana Mackenzie/ FAU)
INTRODUÇÃO:

A crise da habitação social no Brasil data de meados da década de 30 do século passado até quando a maioria da população ainda vivia na “cidade formal”, em especial São Paulo e Rio de Janeiro, independentemente de sua classe social. A partir dessa data, inicia-se um contínuo processo de segregação social-urbano que se reflete na problemática do déficit habitacional os quais perdura até nos dias atuais. A pesquisa proposta visa elaborar uma análise comparada da qualidade dos projetos arquitetônicos e da situação pós-ocupação em unidades de conjuntos habitacionais de interesse social, cujos projetos foram resultantes dos diferentes planos habitacionais dos anos 30 até hoje. Trata-se de estudos de caso, com enfoque no projeto arquitetônico de alguns conjuntos habitacionais selecionados, os quais foram divididos em 3 épocas distintas. O Modernismo (entre os anos de 1930 e 1964), é primeiro momento histórico tomado como referência no estudo da produção de habitação social no Brasil. O Burocrático-Militar, ao longo da década 60 e 70, onde um novo modelo de habitação foi imposto pelo regime militar. Por fim, com a redemocratização, observa-se uma significativa inflexão das políticas habitacionais. Novas modalidades de produção são testadas, como os concursos de arquitetura para conjuntos habitacionais construídos pelas companhias estatais, as experiências de mutirões, e as formas tradicionais de produção da habitação do CDHU e COHAB.

METODOLOGIA:

A pesquisa foi dividida em várias etapas: primeiramente, foi feita uma revisão bibliográfica, aprofundando a caracterização conceitual de cada uma das fases históricas apontadas e da problemática da habitação de interesse social no Brasil, em especial na cidade de São Paulo. Em um segundo momento, foi feita a seleção dos projetos e de material iconográfico disponível, para iniciar a análise crítica das unidades habitacionais. Nesse sentido, uma nova revisão conceitual foi necessária, a fim de estabelecer precisamente quais os critérios de análise dos projetos, e parâmetros considerados no estudo comparativo. Na medida do possível, os conjuntos selecionados foram visitados, onde foram realizadas entrevistas com moradores. Após acumular uma bagagem suficiente de conhecimento e interpretação crítica dos projetos, foram realizadas entrevistas com alguns dos arquitetos autores dos conjuntos estudados. Por fim, juntaram-se todos os dados de cada período histórico para elaboração de uma análise crítica global da produção de habitação de interesse social na Grande São Paulo.

RESULTADOS:

Os resultados obtidos após análises dos projetos das unidades habitacionais e das visitas aos conjuntos parecem indicar uma diferenciação clara para cada período a partir dos estudos de caso. No período modernista, observou-se a preocupação com a implantação com destaque aos equipamentos sociais e de multi-uso; variedade de tipologias e grandes áreas internas, com destaque ao duplex; excelente uso pós-ocupacional, com exceção, nos projetos estudados, da ausência da lavanderia. Já no período burocrático-militar, verificou-se uma excessiva padronização das unidades habitacionais, baixa qualidade arquitetônica e metragem quadrada reduzida ao mínimo, com pouca eficiência e nenhuma identidade. O conforto térmico-acústico é ruim e  desempenho dos materiais a desejar. Os empreendimentos dessa época são, em geral, uma agressão ambiental e urbanística. Um retrocesso em relação ao período anterior, com raríssimas exceções, pois nunca mais se vivenciou projetos que se unissem arquitetura, urbanismo e habitação. Por fim, no período da redemocratização, com a abertura política, observou-se maior diversidade de projetos e soluções, eventualmente com certos ‘avanços’. Excelência na arquitetura e tipologia de alguns conjuntos. Poucos conjuntos com metragem quadrada superior a 50m2. Manutenção do baixo poder aquisitivo da população e fortalecimento de movimentos sociais.

CONCLUSÕES:

Muitas foram as mudanças em cada momento no contexto político-histórico que influenciaram na produção de habitação de interesse social e consequentemente seus resultados. Ainda não há uma concreta política habitacional no Brasil para a população de baixa-renda. Verificou-se ao longo dos anos que alguns ‘hábitos’ do período burocrático-militar ainda perduram, como a reduzida metragem quadrada em detrimento da qualidade das unidades. Ausência de área de lazer com qualidade espacial na maioria dos conjuntos. Dormitórios com metragem insuficiente na grande maioria, exceção do período modernista. Área de serviço e cozinha são espaços de pouca qualidade ou nenhuma, com raríssimas exceções. Ausência de elevadores na maioria dos estudos de caso limitando-se o gabarito. O uso da cozinha americana acarretou desvantagens na qualidade do espaço. Avanço na técnica construtiva e racionalização na construção no decorrer dos anos. Qualidade projetual de maior destaque nos projetos oriundos de concursos ou mutirões. Os conjuntos, antes ‘isolados’ da malha urbana, já estão ‘inseridos’ e consolidados na cidade, com acesso à saúde, educação e transporte. Forte ligação entre produção de habitação de qualidade com gestões públicas. População que passa ter acesso a uma habitação melhor, tem dificuldades de viver em comunidade, em que Associações ou líderes têm papel fundamental na manutenção dos conjuntos. Alta inadimplência. Ineficiência do poder público em gerenciar os conjuntos.

Instituição de fomento: Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - PIBIC da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Projeto ; Habitação; Arquitetura.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006