Este resumo analisa a evolução da carreira, seu direcionamento para a área acadêmica e apresenta um estudo realizado com profissionais de Administração de empresas. Tem como objetivo apresentar as autopercepções e aspirações de carreira e as exigências em termos de competências profissionais. Foram realizadas entrevistas em profundidade, conjugadas com a aplicação do Inventário de Âncoras de Carreira de Edgar Schein, como etapa inicial e exploratória de um estudo mais amplo. Com as organizações sem fronteiras (ASHKENAS et al., 1995), carreiras sem fronteiras emergiram (DEFILLIPPI e ARTHUR, 1994). Carreiras se tornaram transacionais, flexíveis, e a dinâmica de reestruturação embaça as antigas rotas apertadas e firmes para o sucesso (BARUCH, 2003).

A idéia de Hall, sobre a carreira proteana (HALL, 1996; HALL e MOSS, 1998), manifestou uma perspectiva diferente de direção de carreira, com foco no indivíduo estando ele no comando. Segundo Baruch (2003), a carreira é o principal componente da vida, está envolvida ao redor do trabalho, e o trabalho proporciona um senso de propósito, desafio, satisfação pessoal e, claro, renda. Além disso, trabalho é um tipo de identidade, criatividade, desafio de vida, assim como status e acesso à rede social. Acima de tudo, a carreira pode ser vista como uma jornada. Igualmente à metáfora de jornada de vida, as pessoas podem seguir o caminho tradicional, ou optar por navegar pelo próprio caminho nas planícies abertas.

O estudo adotou como metodologia um estudo exploratório, através do método qualitativo e quantitativo, sob a forma de um estudo comparativo de casos e realizado com o propósito de analisar trajetórias e transições de carreiras, assim como identificar as metáforas associadas à carreira e às competências demandadas no atual contexto de negócios. Foram entrevistados 32 alunos de curso de mestrado em Administração de uma Universidade de Belo Horizonte, Minas Gerais. A escolha dos entrevistados se deu mediante critério de acessibilidade. Os instrumentos de coleta de dados utilizados foram: pesquisa bibliográfica e documental, entrevista semi-estruturada associada à apresentação das metáforas de carreira e de competências profissionais, grupo de foco e o inventário de âncoras de carreira de Edgar Shein (1993). A metodologia adotada permitiu o aprofundamento de questões internas dos sujeitos pesquisados, em relação ao trabalho e à carreira, possibilitando a manifestação de seus sentimentos, angústias e aspirações, assim como o repensar de suas escolhas e trajetórias profissionais, de forma livre e criativa. A análise dos dados foi qualitativa.

A maioria dos entrevistados apresentou âncoras de carreira similares - estilo de vida, autonomia e desafio puro - o que pode ser atribuído à fase da carreira dos entrevistados que se caracteriza pela preparação para a carreira acadêmica. Em alguns casos com a finalidade de complementar os rendimentos e/ou alcançar uma maior realização, em outros com o objetivo de transitar de uma carreira técnica ou gerencial para docência. Dentre as metáforas ou analogias de carreira reveladas por meio de figuras escolhidas pelos entrevistados, algumas se apresentaram de forma recorrente, tais como: multifunção, busca de conhecimento, preocupação com o desemprego, relacionamentos, direcionamento/foco, recompensa financeira, formação acadêmica, vida acadêmica e equilíbrio entre a vida pessoal e familiar, sendo essa última apontada como de grande relevância. As competências profissionais mais apontadas foram: formação acadêmica, relacionamento interpessoal, espírito de equipe, equilíbrio/saúde, busca de informação/conhecimento, busca de conhecimento técnico, liderança/carisma, visão global. As trajetórias de carreira estudadas, assim como as metáforas de carreira e competências, foram consideradas exemplares de tendências como a necessidade de ampliação das competências, a valorização da aquisição de conhecimentos técnicos associada à busca do desenvolvimento pessoal. Refletem a busca comum por novas alternativas de atuação profissional, sem ter que necessariamente abandonar a atividade atual.

As trajetórias de carreira estudadas confirmam, assim, a tendência atual de carreiras em ziguezague, em que se passa por diversas transições e se defronta com diversas alternativas, que também são procuradas em uma postura mais pró-ativa. Os profissionais estudados revelaram um perfil mais próximo do detentor da carreira proteana (HALL, 1996), no sentido de que estão mudando por sua própria determinação, embora não se possa afirmar que não possuam características do "homem camaleão" (CARVALHO E GRISCI, 2002). O fato de o entrevistado desta pesquisa estar fazendo um curso de mestrado, já ter realizado outras pós-graduações, além de deter o curso superior, nos ajuda a explicar os indicadores de uma maior autonomia e autodeterminação, evidenciados em sua trajetória e metáforas de carreira, assim como a busca de um equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho.

Segundo Simendinger et al. (2000), uma recomendação comum é que as universidades precisam encontrar caminhos para incorporar gerentes práticos nas salas de aula. O gerenciamento prático transferido para as regras gerenciais do meio acadêmico traz muitas vantagens para a sala de aula. Professores que tem parte do tempo na experiência prática são capazes de discutir a teoria com base nas experiências do mundo atual. Eles podem trazer exemplos e ilustrações concretas que tenham vivido.