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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 12. Psicologia

AVALIAÇÃO DO USO QUESTIONÁRIOS ELETRÔNICOS PARA O ESTUDO DA ACURÁCIA EMPÁTICA ENTRE CASAIS DE CLASSE MÉDIA DE BELO HORIZONTE

Tamires S. Diniz  1
Janine Marinho Dagnoni  1
(1. Departamento de Psicologia - Faculdade de Minas - Muriaé/ FAMINAS - Muriaé)
INTRODUÇÃO:

A avaliação familiar é um campo da Psicologia que tem se desenvolvido muito nos últimos anos. Métodos de diagnóstico e pesquisa são elaborados preocupando-se com a fidedignidade e a validade ecológica dos achados. Entre os temas abordados na pesquisa com famílias, encontra-se o estudo da inferência empática, que é a capacidade de fazer inferências sobre pensamentos e sentimentos de uma outra pessoa. A medida do sucesso nesse empreendimento é chamada de acurácia empática (AE), que evidencia uma motivação para compreender o outro (Ickes, 1997), tem sido considerada uma habilidade fundamental para o sucesso de relações sociais e é um aspecto importante da inteligência emocional (Goleman, 1995). No contexto familiar, a percepção acurada dos sentimentos das crianças é um agente favorecedor para o desenvolvimento das habilidades sociais (Garcia-Serpa, Meyer & Del Prette, 2003). Além disso, em alguns casos, a AE é considerada uma das capacidades associadas à qualidade do relacionamento conjugal (Simpson & Ickes, 1997). O estudo da AE tem interfaces com a pesquisa sobre cognição social e percepção interpessoal, envolvendo o estudo das emoções e cognições relacionadas. No entanto, a AE em si, enquanto objeto de estudo, é um tema de investigação recente. Partindo desse princípio, o estudo busca investigar o impacto de uma abordagem para o estudo da AE de casais, pais de filhos adolescentes, no contexto diário das famílias.

METODOLOGIA:

São poucas as propostas metodológicas para investigação da AE. Dentre os principais grupos de pesquisa estão o grupo do Dr. William Ickes (Universidade do Texas, EUA), que investigam a AE em ambiente de laboratório, avaliando interações naturais em sala de espera (Ickes, Stinson, Bissonnette & Garcia, 1990). Nessa abordagem, a amplitude dos sentimentos e pensamentos avaliados é restrita, a intensidade dos sentimentos é baixa e, dado o contexto laboratorial, carece de validade externa e ecológica. Em busca de maior validação ecológica para a AE, o grupo de Wilhelm e Perrez (Universidade de Friburgo, Suíça) desenvolveu uma metodologia de diários eletrônicos para investigar a AE no contexto familiar (Perrez, Schoebi & Wilhelm, 2000). Na presente pesquisa, avaliamos a replicação (Dagnoni, J.M., 2005) do estudo de Wilhelm e Perrez (2004) sobre AE entre casais por meio de um “automonitoramento familiar em contexto”. Foram estudadas 43 famílias de classe média de Belo Horizonte. Os participantes responderam a um questionário inicial (informações sócio-demográficas), a um questionário eletrônico (informações sobre as situações emocionais, físicas, cognitivas e interacionais da família) seis vezes ao dia, durante sete dias da semana e ao final da semana de coleta, responderam a outro questionário, para avaliar o impacto da metodologia com o uso do computador. As respostas fechadas do questionário final foram submetidas a análises de freqüência e as dissertativas à análise de conteúdo.

RESULTADOS:

Como resultado da análise de freqüência das questões objetivas, os participantes relataram grande aceitabilidade do procedimento, por exemplo, de maneira geral, os participantes consideraram o tempo necessário para responder às perguntas como bom/adequado (76,9%) e avaliaram o método de maneira positiva (96,2%). A partir da análise de conteúdo das questões dissertativas sobre a avaliação dos participantes a respeito do uso diários eletrônicos, foram encontradas cinco categorias: 1) influência positiva, que se relaciona à interferência positiva do método na vida dos participantes (24,21%), 2) influência negativa, relacionada à interferência negativa do método na vida dos participantes (20,75%), 3) problemas com o procedimento, que se relaciona aos problemas com o procedimento de pesquisa, incluindo os instrumentos, a duração da coleta de dados e a inadequação das opções de resposta (7,55%), 4) justificativas para omissão, que se refere às justificativas para as omissões de respostas (39,62%) e 5) respostas irrelevantes para análise, que se referem às respostas não relacionadas diretamente com a metodologia e com o procedimento de pesquisa, situações externas à pesquisa e, portanto, irrelevantes para análise no momento (7,86%).

CONCLUSÕES:

Os resultados encontrados sugerem grande aceitabilidade do procedimento, visto que os participantes consideram de maneira positiva a influência do uso de diários eletrônicos como método de coleta de dados. No entanto, apareceram queixas e indicação da existência de influências negativas decorrentes do uso de diários eletrônicos, por exemplo, a alteração da rotina das famílias e os problemas com o procedimento. Tal fato coloca em questão a validade ecológica do método e sugere que, o estudo de famílias em seu contexto e ambiente natural ainda é um desafio aos psicólogos envolvidos com a avaliação familiar.

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: avaliação familiar; questionários eletrônicos; validade ecológica.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006