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E. Ciências Agrárias - 1. Agronomia - 4. Fitotecnia
CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE AUTO-INCOMPATIBILIDADE EM GOIABEIRA-SERRANA (Acca sellowiana (Berg) Burret.)
Karine Louise dos Santos 1, 2
Maurício Lenzi 1, 2
Clarissa Alves Caprestano 1
Adriana Cibele de Mesquita Dantas 1, 2
Afonso Inácio Orth 1, 2
Miguel Pedro Guerra 1, 2
(1. Departamento de Fitotecnia, Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC; 2. Programa de Pós-Graduação em Recursos Genéticos Vegetais/UFSC)
INTRODUÇÃO:
Acca sellowiana (Berg) Burret. (Myrtaceae) é uma frutífera nativa da região sul do Brasil e nordeste do Uruguai, e vem despertando grande interesse devido ao alto potencial organoléptico de seus frutos. Embora existam vários trabalhos de pesquisa que objetivam intensificar o processo de domesticação da goiabeira-serrana, grande parte da biologia básica da espécie ainda é desconhecida, particularmente no que diz respeito à sua biologia reprodutiva. As flores de A. sellowiana são desprovidas de nectários, apresentando quatro pétalas vistosas, carnosas e adocicadas, que são o principal recurso floral para os polinizadores. A flor é bispórica e longistilada com tendência à dicogamia por protoginia, uma vez que o estigma torna-se receptivo 24 horas antes da deiscência das anteras, permanecendo receptivo ainda por dez horas após a deiscência. O mecanismo de ação do sistema auto-incompatível até então não tem sido esclarecido, com poucos estudos que o caracterizem. Desta forma, estas informações são úteis no planejamento de estratégias dentro dos programas de melhoramento, com hibridações controladas e para composição dos pomares com o uso de variedades compatíveis. Neste contexto, o objetivo do presente estudo foi caracterizar o tipo de sistema de incompatibilidade atuante em A. sellowiana com o auxílio da técnica de epifluorescência.
METODOLOGIA:
Foram utilizados dois acessos pertencentes a diferentes classes de compatibilidade: 458-auto-compatível e 101-auto-incompatível. Antes da antese, flores previamente protegidas foram coletadas e as anteras removidas e mantidas em estufa BOD a 24ºC por 24 horas até a completa deiscência, sendo os grãos de pólen mantidos a 4ºC. Para a verificação da viabilidade dos grãos de pólen, utilizou-se a metodologia proposta por Franzo et al. (2005). As observações foram efetuadas em microscópio de luz, quatro e seis horas após a aspersão do pólen sobre placas de petri. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado com quatro repetições. Os dados foram submetidos ao T- teste a 5% de significância. Para avaliação do desenvolvimento do tubo polínico foi realizada a polinização manual em quatro tratamentos: 101x101, 101x458, 458x458 e 458x101. Para cada tratamento, 50 flores de cada acesso foram previamente ensacadas e emasculadas. Nos testes de crescimento do tubo polínico, 10 pistilos de cada tratamento foram coletados em intervalos regulares de 12, 24, 48 e 96 horas após a polinização, e fixados em FAA 50%. Para tanto utilizou-se a metodologia proposta por Martin (1959). As observações foram feitas em microscópio invertido Olympus IMT-2 com aparato do epifluorescência com filtros de 450 nm. Quanto à frutificação efetiva foram realizados cruzamentos em 40 flores polinizadas para cada um dos quatro tratamentos. As avaliações foram realizadas 50 dias após a polinização.
RESULTADOS:
As contagens de grãos de pólen germinados apresentaram diferenças estatisticamente significativas. A maior percentagem de germinação foi observada no acesso 101, com média de 68,8%. No acesso 458 a média de germinação foi de 42%. Embora ambos os acessos tenham apresentado acréscimo na percentagem de germinação após seis horas de incubação, não houve diferença significativa utilizando-se como variável o tempo de incubação. Do mesmo modo não houve interação significativa entre acessos e tempos de incubação. Não foram observadas diferenças significativas no crescimento dos tubos polínicos em pistilos autopolinizados ou de polinização cruzada, em ambos os acessos e coletados 12, 24, 48 ou 96 horas após a polinização. O crescimento do tubo polínico após 12 horas limitava-se a superfície estigmática ou ao início do primeiro terço do pistilo; com 24 horas situava-se no primeiro terço, com 48 horas já se encontrava na região central do pistilo. O crescimento completo do tubo polínico até atingir o ovário observou-se em pistilos coletados 96 horas após a polinização independente do tratamento submetido. Porém, não foi possível observar claramente a entrada do tubo polínico na micrópila do óvulo, sugerindo a ampliação do período de análise. Para os tratamentos 458x458 e 458x101, não houve diferença entre a percentagem de frutificação efetiva (ambos com 50%). Para o tratamento 101x458, a percentagem foi de 72,5% enquanto que para o tratamento 101x101, não foi verificada frutificação.
CONCLUSÕES:
O desenvolvimento do tubo polínico e a presença destes no ovário indica que não existe um sistema clássico de auto-incompatibilidade que impeça a germinação dos grãos de pólen ou o crescimento do tubo polínico, sugerindo, portanto, um fenômeno de auto-incompatibilidade tardia, que pode ser decorrente de um efeito de depressão endogâmica ou de respostas pós-zigóticas. A interpretação conclusiva de qual das formas de ação que podem estar atuando é através da observação do período de abortamento dos frutos. Assim, considerando-se que o abortamento dos frutos de A. sellowiana é uniforme, propõe-se que o sistema de auto-incompatibilidade atuante na espécie seja a resposta pós-zigótica. É relevante destacar a necessidade de ampliação deste estudo, uma vez que o aprimoramento da caracterização do sistema atuante sobre a auto-incompatibilidade será possível avançar em estudos relativos à ecologia da goiabeira-serrana, bem como otimizar os métodos de melhoramento e produção.
Instituição de fomento: CNPQ
 
Palavras-chave: Feijoa sellowiana; Biologia reprodutiva; auto-incompatibilidade.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006