Este trabalho é parte de um projeto maior que visa à obtenção de cepas de fungos da região amazônica produtores de enzimas de interesse industrial. Fungos endofíticos colonizam o interior de tecidos sadios de plantas sem lhes causar danos aparentes numa relação mutualística, sendo capazes de produzir metabólitos como as lipases, enzimas hidrolíticas que catalisam reversivelmente a hidrólise de triacilgliceróis sob condições naturais. Tais propriedades, aliadas a crescente necessidade do uso racional dos recursos naturais do planeta e a imensa diversidade biológica amazônica, fundamentaram a abordagem de lipases para biotransformações. O objetivo deste estudo foi isolar fungos endofíticos de castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa) e tucumã (Astrocaryum aculeatum) e analisar seu potencial de produção de lipases.

Os isolados foram obtidos a partir de ramos e folhas de castanheira e polpa e sementes de tucumã. O seguinte procedimento foi adotado visando eliminar a microbiota epifítica: o material foi lavado por períodos de tempo específicos para cada tecido (folha, caule e fruto) com água corrente, álcool 70%, hipoclorito a 3%, álcool 70% novamente e água destilada esterilizada. Posteriormente, os fragmentos foram transferidos para placas de Petri com meio BDA acrescido de tetraciclina (1 mL/L) e incubados a 28 ^oC por nove dias. As colônias obtidas foram isoladas de modo a obter culturas puras, que foram repicadas para placas de Petri contendo meio de cultura composto de peptona (5 g/L), extrato de levedura (3 g/L), ágar (10 g/L) e tributirina a 1% e incubadas a 28 ^oC por 10 dias. A formação de halos translúcidos circundando as colônias era indicativo de atividade lipolítica.

Foram obtidos 15 isolados de fungos endofíticos, sendo oito de castanheira (três dos ramos e cinco das folhas) e sete de tucumã (três de polpa e quatro de sementes). Após quatro dias de cultivo já era possível observar a formação de halos circundando algumas culturas cultivadas em meio com tributirina. Dentre os 15 isolados obtidos, seis apresentaram colônias com halos indicando atividade lipolítica, sendo dos de castanheira (folhas) e quatro de tucumã (dois da polpa e dois da semente).

A formação de halos translúcidos circundando as colônias evidenciou a atividade lipolítica em fungos isolados de espécies vegetais da Amazônia. Futuramente serão realizados experimentos visando determinar o potencial enzimático das cepas em biotransformações.