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F. Ciências Sociais Aplicadas - 11. Educação Física e Esportes - 1. Educação Física e Esportes

PRIMÓRDIOS DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA NO RIO GRANDE DO SUL

Silvana Vilodre Goellner 1
Ana Paula Duarte 1
Anna Maurmann 1
Camile Saldanha Romero 1
Johanna Coelho Von Muhlen 1
(1. ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - UFRGS)
INTRODUÇÃO:

A Escola de Educação Física  da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, criada em 1940,  foi a instituição  pioneira na formação de professores e técnicos de Educação Física no Estado do Rio Grande do Sul. Até 1969 esteve  sob a tutela do Estado cujas condições de funcionamento eram bastante  restritas, especialmente no que estava relacionado  à infra-estrutura para a realização das suas atividades. Em 1969 foi concluído o processo de federalização da ESEF que, a partir desse momento, começa a ampliar suas dependências físicas bem como as vagas oferecidas nos diferentes cursos desenvolvidos pela instituição. Entendendo a história não como a realidade sobre algo transcorrido no passado, mas como um discurso sobre o real, essa pesquisa narra fragmentos da história da ESEF a partir da memória de diferentes homens e mulheres que, em diferentes tempos,  vivenciaram essa instituição. Não se trata, portanto, de uma narrativa oficial sobre a sua história; o que está reunido nessa pesquisa são pequenos vestígios da memória de alguns de seus sujeitos cujas informações permitiram esboçar as reflexões aqui apresentadas.

METODOLOGIA:

Sustentada pelo eixo teórico-metodológico da História Oral, a pesquisa apresenta como fontes primárias depoimentos de pessoas que tiveram significativa contribuição e conhecimento sobre a estruturação da ESEF. Foram entrevistados 50 sujeitos entre professores, servidores técnicos-admininstrativos e alunos que estão atuando ou que já fizeram parte dos quadros da Escola. Estas entrevistas reuniram  um conjunto de informações que possibilitaram analisar a trajetória da ESEF desde seus primórdios. A pesquisa desenvolveu-se a partir dos seguintes procedimentos metodológicos: identificação das pessoas a serem entrevistadas; elaboração de roteiros para cada entrevista; realização da entrevista; processamento da entrevista,  incluindo as etapas de transcrição, conferência de fidelidade, copidesque e leitura final; assinatura, por parte do entrevistado, de um documento concedendo ao Centro de Memória do Esporte da ESEF/UFRGS a propriedade e os direitos autorais do depoimento de caráter histórico e documental; catalogação da entrevista conforme orientações específicas, visando a organização do acervo de memórias; disponibilização para consulta via meios computacionais e in loco.

RESULTADOS:

Desde a criação da Escola, diferentes pessoas com suas diferentes personalidades compartilharam não apenas o mesmo espaço físico, mas também as mesmas rotinas, tarefas e  vários sentimentos em comum. Em muitas entrevistas foi mencionado ter sido a ESEF o espaço que permitiu a emergência de grandes amizades, amores, casamentos, desavenças, tensões e rompimentos, despertando nos sujeitos envolvidos a representação da existência do que denominam de “comunidade esefiana” expresso por promover um certo pertencimento familiar. Além dessa representação foi notório, nos depoimentos, a importância da ESEF no incentivo à prática esportiva feminina pois, desde a sua fundação, houve o  incentivo à muitas mulheres para a adesão e permanência no campo das práticas corporais esportivas,  consideradas, então,  como  um espaço de domínio masculino. Nos anos  40, 50 e 60, muitas das atletas que participavam dos clubes da cidade, em diferentes modalidades da  eram alunas da ESEF. Uma instituição é feita de memórias. Para além dos registros, dos eventos, das instalações, da concretização operacional e acadêmica de sua existência há, ainda, aquelas pequenas histórias que conferem vida e registram detalhes do cotidiano que, na grande maioria das vezes, não figura na oficialidade com a qual se narra a história. Dentre os vários depoimentos coletados muitos fizeram referência a pequenas histórias, sua maioria, narradas com entusiasmo, orgulho, traquinagem e emoção pois os narradores sentiam-se sujeitos de uma construção coletiva.

CONCLUSÕES:

Vale lembrar que assim como a entrevista está intimamente relacionada à memória, seu processamento articula, simultaneamente, pesquisa e documentação na medida em que permite, também, a produção de um documento histórico. Daí sua riqueza pois “a evidência oral, transformando os “objetos” de estudo em “sujeitos”, contribui para uma história que não só é mais rica, mais viva e mais comovente, mas também mais verdadeira”.  Verdadeiro, entendido nesse contexto, não no sentido de que o que está sendo relatado efetivamente aconteceu assim,  mas de que há ali uma vida a ser exposta a partir de quem a viveu. Essa e tantas outras situações evidenciam a sutileza  através da qual a história de uma instituição se faz. Revelam particularidades, encantamentos, surpresas, desatenções, enfim, um universo de possibilidades que texto algum pode apreender. Pode sim rememorar para que a partir dele outras memórias aflorem, desdobrem-se e transformem-se, por fim, em narrativas históricas.

 

 

Instituição de fomento: CNPQ, FAPERGS, PROPESQ/UFRGS, MINISTÉRIO DO ESPORTE
 
Palavras-chave: MEMÓRIA; HISTÓRIA; EDUCAÇÃO FÍSICA.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006