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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social

YAUARETÊ (CACHOEIRA DA ONÇA): UMA LOCALIDADE ESQUECIDA NO INTERIOR DO ESTADO DO AMAZONAS.

Luiz Roberto Vasconcellos Boselli 1
Aldrey Cândida Alvarez Maranho 2
Artur Gouveia Rocha 3
Carlos Eduardo Amaral Paiva 4
Vanessa Lopes Maciel 5
(1. Prof. A. Dr. do Depto. de Fonoaudiologia - Fac. de Filosofia e Ciências - UNESP; 2. Graduanda do Depto. de Enfermagem, Fac. de Medicina, Campus de Botucatu - UNESP; 3. Graduando do Depto. de Medicina Veterinária, Campus de Jaboticabal - UNESP; 4. Graduando do Depto. de Ciências e Letras, Campus de Araraquara - UNESP; 5. Graduanda do Depto. de Odontologia, Campus de Araçatuba - UNESP)
INTRODUÇÃO:

Este trabalho teve como objetivo recolher informações junto a comunidades indígenas e formalizar um diagnóstico propositivo. Está em consonância com os ideais do Projeto Rondon que apresenta no âmago de sua proposta a perspectiva de viabilizar a participação de estudantes universitários e professores no processo de transformação da realidade brasileira e de fortalecimento da cidadania. A localidade de Yauaretê está inserida geograficamente, como distrito, no Município de São Gabriel da Cachoeira e está localizada a oeste do Estado do Amazonas. O acesso a esta comunidade pode ser feito apenas pelo rio Uaupés e pelo aeroporto da Base Militar do 1º Pelotão Especial de Fronteira. Esta localidade, anteriormente habitada apenas por agrupamentos indígenas, começou a se estruturar, como é conhecida hoje, a partir do momento que Missionários da Ordem dos Salesianos edificaram um templo católico e um internato. Inicialmente os indígenas colocavam seus filhos no colégio e voltavam para as suas aldeias. Posteriormente, quando a Igreja acabou com os internatos, as famílias indígenas iniciaram sua mudança e começaram a ocupar as terras circunvizinhas para que seus filhos não interrompessem seus estudos. As novas famílias solicitavam para as famílias que eram consideradas proprietárias destas terras, uma parte de terra para se fixarem e fazerem sua roça. Este processo fez que, pouco a pouco, fossem estruturadas as várias Comunidades Indígenas que hoje habitam e concretizam esta localidade.

METODOLOGIA:
Iniciamos os trabalhos em campo realizando reuniões com os líderes indígenas das várias comunidades. Nestas ocasiões explicamos os nossos objetivos e a razão de estarmos entre eles. Posteriormente, durante uma semana, entrevistamos os indígenas e colhemos informações acerca do Sistema Administrativo, Sistema Comercial, Sistema Habitacional, Sistema Educacional e Sistema de Saúde que configuram a localidade de Yauaretê. Participaram deste estudo dez Comunidades Indígenas, divididas em duas partes pelo rio Uaupés, afluente da margem direita do Rio Negro. Estando o observador olhando para a subida do rio, ele terá à sua esquerda, uma parte da localidade onde se encontram três Comunidades Indígenas: Fátima - 25 famílias; Santa Maria - 60 famílias; São Pedro - 30 famílias. E à sua direita, outras sete Comunidades Indígenas: Dom Bosco - 62 famílias; Aparecida - 100 famílias; São Miguel - 62 famílias; Cruzeiro - 60 famílias; Dom Pedro Massa - 45 famílias; São José - 45 famílias; São Domingos Sávio - 47 famílias. As etnias indígenas Tariano, Tukano Piratapuia, Desano, Wanano, Arapassos e Hupda são as predominantes nestas Comunidades Indígenas. As etnias Baré, Tuyuka, Cobeus, Mirititapuia, Carapanã, Baniwa e Bará somam a minoria. A taxa de analfabetismo só é elevada entre os mais velhos, o restante da população indígena tem o ensino fundamental completo ou também o ensino médio completo. É costume local, há muito tempo, permitir casamentos apenas entre cônjuges de etnias diferentes.
RESULTADOS:
Sistema Administrativo: ocorre a inexistência de um poder civil constituído. A autoridade é exercida por um Padre Salesiano. O Tenente do Batalhão é chamado a contribuir para a resolução de conflitos. Os indígenas têm líderes. Sistema Comercial: o comércio é marcado pelo escambo e pelo alto número de inadimplentes junto às casas comerciais. As famílias possuem roças. O excedente é comercializado ou trocado. O comércio é constituído de diversas casas comerciais que vendem todo tipo de mercadoria. Sistema Habitacional: a maioria das residências é construída em madeira. A maioria das casas não possui banheiro e água encanada. As necessidades fisiológicas são realizadas na vegetação próxima a casa. Os indígenas lançam os seus lixos ao rio ou incineram no fundo dos quintais. Sistema Educacional: nas escolas é ministrada a grade curricular comum e são acrescentadas a ela as disciplinas do idioma tucano e outra chamada de arte indígena. Elas têm por objetivo a manutenção da cultura indígena. O estudo do espanhol também foi introduzido em razão da proximidade com a Colômbia. Sistema de Saúde: a morbidade tem como causas a diarréia e a pneumonia. Inexiste saneamento básico. São relatados casos de diabetes, hipertensão arterial e infecções respiratórias agudas. Ocorrem doenças sexualmente transmissíveis. A mortalidade aponta o suicídio e a violência entre os jovens adultos. Os indígenas tratam com ervas e com os pajés, só depois procuram o médico, quando a doença já apresenta evolução.
CONCLUSÕES:
Yauaretê vivencia um relativo isolamento. É intrigante tantos aviões mensais e viagens realizadas pelo rio Uaupés, não serem suficientes para fomentar, possíveis benefícios, efeitos de uma ligação mais estreita com outras localidades brasileiras. Ao mesmo tempo em que existe um hospital capacitado para realizar atos cirúrgicos de ponta, a população indígena padece de males primários, em virtude da manutenção de hábitos arraigados a sua cultura e a inexistência de um sistema de saneamento básico e tratamento da água consumida pelos indígenas. Embora os indígenas tenham acesso ao ensino fundamental e médio, é problemático o ingresso em Universidades Públicas, um anseio das novas gerações indígenas. Os indígenas ao desorganizaram o seu sistema de provimento, fundamentado na subsistência, quebraram os antigos núcleos de cooperação e vem aumentando, cada vez mais, o seu grau de dependência em relação à sociedade constituída e consolidada dos homens brancos, ao vivenciar a economia de mercado. A vivência desta transição mostra que muito há de ser ainda estruturado. A população indígena, impelida historicamente a vivenciar o processo de aculturação, se revela carente, em vários setores, das supostas comodidades proporcionadas pelo mundo civilizado e que supostamente todo e qualquer cidadão brasileiro tem o direito de usufruir. Assim, fica evidenciada uma realidade impregnada por perversos efeitos, sempre presentes, em um processo de aculturação. A franca constatação nos entristeceu.
Instituição de fomento: Apoio da Fundação para o Desenvolvimento da UNESP - FUNDUNESP.
 
Palavras-chave: Caracterização psico-bio-social; Comunidade indígena; Efeitos da aculturação.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006