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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 14. Ensino Superior
REDE DE ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO E O ACESSO À UNIVERSIDADE: O FIM DA VELHA CLIVAGEM ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO?
Mariléia Maria da Silva 1
(1. Universidade Estadual de Santa Catarina.UDESC)
INTRODUÇÃO:

Neste estudo pretende-se refletir sobre a atual configuração do perfil dos egressos do ensino superior quanto à rede de ensino freqüentada nos níveis fundamental e médio. A atual política de expansão do acesso ao ensino superior tem enfatizado a necessidade de democratização desse nível, optando, em linhas gerais, pelo estímulo ao crescimento das universidades privadas, que, por meio de diversas modalidades de financiamentos, têm incorporado grande contingente. Isso se revela no acentuado índice de estudantes universitários pertencentes à rede privada de ensino.

Se de um lado, nos últimos anos, o aumento relativo da população escolar universitária tem contribuído para o processo de democratização desse nível de ensino - situação que carece de amplo debate - , por outro, uma questão vem à tona: em que medida a democratização, via setor privado, tem permitido desfazer a velha clivagem que tende a separar os jovens universitários de acordo com a rede de ensino fundamental e médio freqüentada?

O objetivo deste estudo consiste em analisar a composição da trajetória dos egressos das universidades, públicas e privadas, no que se refere à rede de ensino básico cursada. Estudos dessa natureza contribuem para a avaliação das políticas públicas, bem como para a reflexão em torno da origem social da população escolar no Brasil, particularmente, do ensino superior.
METODOLOGIA:

O estudo em questão refere-se a um recorte realizado a partir dos dados obtidos para a elaboração de tese de doutorado defendida em 2004, no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina, que objetivou conhecer e analisar a trajetória profissional dos egressos do ensino superior. Esse estudo foi realizado com egressos de cinco cursos - Administração de Empresas, Direito, História, Pedagogia e Odontologia - de três instituições de Santa Catarina: uma federal, uma estadual e uma privada. A partir da lista de formandos, fornecida pelas instituições de ensino, foram enviados 479 questionários - via on-line e postagem convencional -, dos quais 255 retornaram preenchidos, o que equivale à taxa de 53, 2% de retorno. Dentre esses, foram escolhidos para análise apenas os egressos com idade até 32 anos, no momento da coleta de dados.

Tal recorte se justifica pela necessidade de homogeneizar a população a ser investigada, assim garantindo a especificidade na análise. Para os fins deste trabalho foram selecionados os dados referentes ao item sobre a rede de ensino freqüentada nos níveis fundamental e médio.

RESULTADOS:

No que se refere ao ensino fundamental, com exceção dos egressos de Direito, a maioria freqüentou a rede privada. Dentre os graduados de Odontologia pela universidade federal, constata-se um equilíbrio entre os que freqüentaram a rede pública e a privada do ensino fundamental. O mesmo não ocorre com os egressos da universidade privada, em que a maioria estudou, desde o ensino fundamental, na rede privada. Quanto aos egressos de Administração de Empresas, da universidade privada se situaram, majoritariamente, no ensino fundamental público, diferente dos egressos das universidades estadual e federal. A mesma observação pode ser feita para as egressas do curso de Pedagogia.

 Em relação ao ensino médio, a maioria das egressas do curso de Pedagogia da universidade federal realizou o ensino médio privado. Já entre as graduadas pela universidade estadual, a maioria cursou o ensino médio na rede pública. No que diz respeito às graduadas na instituição de ensino privado, a maioria veio do ensino médio público. Para os diplomados em História, predominou os que freqüentaram o setor público no ensino médio. Dentre os graduados no curso de Administração de Empresas, a maioria cursou o ensino médio em escola privada. Os informantes do curso de Direito se caracterizam pela predominância de egressos do sistema privado de ensino. Para os egressos do curso de Odontologia, observa-se também o predomínio dos que realizaram seus estudos de nível médio na rede privada.

CONCLUSÕES:

A opção das famílias pela escola privada, no nível médio, tende refletir o interesse em garantir boa preparação para o vestibular. Pode-se supor que a migração de uma parcela dos informantes para a rede particular de ensino, a partir do ensino médio, representaria uma estratégia adotada pelo jovem e sua família com o intuito de melhor se preparar para o vestibular.

Visto a partir da rede de ensino freqüentada, identifica-se um caráter relativamente elitista no ingresso ao ensino superior entre os informantes, já que a maioria é oriunda da rede privada de ensino fundamental e médio. Porém, essa avaliação somente é válida para os egressos de alguns cursos, o que significa destacar que existem variações importantes para as quais não é possível fazer um julgamento definitivo, único, cartesiano, sobre o perfil desses egressos.

Os mecanismos de ingresso dos jovens no ensino superior parecem ser mais complexos, devendo se considerar outras variáveis,  por exemplo, o turno e a carreira seguida. Há cursos, independentemente da origem institucional, que tendem a concentrar alunos pertencentes aos segmentos sociais com maior poder aquisitivo. Enquanto em outros, a presença de alunos oriundos das camadas sociais com menores recursos financeiros é mais visível, se usarmos o critério do pagamento de mensalidade como um indicativo da renda familiar.

 

 

Instituição de fomento: CNPq
 
Palavras-chave: ensino público; ensino privado; graduação.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006