A literatura do século XVI, no Brasil, é uma “literatura de viagem” feita por cronistas e viajantes. É uma literatura feita no Brasil, sobre o Brasil, mas não é uma literatura do Brasil. Esta pesquisa tem como objeto de estudo uma leitura em profundidade dos textos da literatura do século XVI, no Brasil, de autores portugueses. Tratamos os textos como documentos ligados às paisagens sociais, geo-históricas e culturais que nos coloca em contato com raízes nacionais ainda pouco exploradas. Objetivamos estabelecer um diálogo entre a Literatura e a História, examinar o tratamento dado aos índios pelos cronistas e viajantes, identificar visões de mundo filtradas pela ideologia vigente e relacionar elementos sócio-culturais e geo-históricos sobre a influência da ética e da estética da época. A relevância da pesquisa baseia-se no entendimento de que a Literatura está em diálogo constante com a História e que esta fornece matéria para o desenvolvimento de temas tratados pela Literatura. E por isso achamos por bem traçar uma perspectiva de imaginação que possibilitasse ampliar o olhar do investigador para um espaço interdisciplinar. Também é necessário olhar em retrospectiva para um passado distante e revigorar a crença de que o presente pode contribuir para a compreensão da formação identitária dos elementos nativos do primeiro século de colonização do Brasil.

Sendo uma pesquisa de natureza qualitativa trabalhamos durante a investigação com um universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, próprios da Literatura Informativa do século XVI. Empregamos o método histórico-sociológico, nos baseando em técnicas de levantamento bibliográfico, de leitura, de fichamento, de resumo, de resenha e de elaboração de relatório de pesquisa. A pesquisa teve um enfoque, respaldado pelos estudos culturais, não só para se destacar os elementos da cultura, mas também para não se descuidar do domínio das identidades coletivas ou individuais, fixado nas paisagens da natureza humana e fisiográfica, com a sua gama de subjetividade. Após elencar os dados para estudo, fizemos a sua interpretação para atribuir sentido aos elementos destacados, situação que permitiu reunir questões espaço-temporais, o solo do sagrado, marcas identitárias, vieses históricos, aspectos sociais entre outros.

Durante o desenrolar da pesquisa se estabeleceu um diálogo entre a Literatura e a História nos colocando em contato com novas epistemologias, o que nos deu margem a descobertas de variadas abordagens dos textos Literário-Históricos.  Este estudo contribuiu para uma maior compreensão dos procedimentos para a elaboração de uma pesquisa e para o desenvolvimento de nossa capacidade de análise dos textos. Após esta análise, a investigação nos permitiu identificar as visões de mundo dos autores portugueses imbuídas pelo mercantilismo vigente do século XVI, destacando o papel dos índios dado pelos cronistas e viajantes, fizemos uma relação com os elementos sócio-culturais e geo-históricos influenciados pela ética e a estética do período em que esta literatura se desenvolveu.

Verificou-se que é possível estabelecer um diálogo entre a Literatura e a História, o que nos conduziu a uma análise dos textos Literário-Históricos através de novas abordagens. Esta pesquisa nos permitiu examinar a relação entre os colonizadores e o povo indígena exposta pelos autores portugueses, que deixaram visíveis a ideologia vigente baseada na visão mercantilista dos primórdios da colonização brasileira. Na análise se detectou que, de princípio, a Literatura e a História tem em comum alguns dados, destacando-se neste estudo a linguagem, embora se saiba que na Literatura ela funciona como possibilidade e na História, como realidade. Logo, os textos estudados e analisados ressaltam mais a textura histórica, uma vez que tudo converge para a representação da percepção de mundo do povo português, sendo destacados os aspectos formais que dão sustentáculo a literariedade do texto.