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B. Engenharias - 1. Engenharia - 6. Engenharia de Produção

O TRABALHO REAL E O TRABALHO PRESCRITO – O CASO DOS OPERADORES DE CAIXA DE UMA DANCETERIA

Fabiana Flores Sperandio 1
Beatriz Marcondes de Azevedo  1
Leila Amaral Gontijo  1
Paula Schlemper de Oliveira  1
(1. Universidade Federal de Santa Catarina/ UFSC)
INTRODUÇÃO:
O objetivo deste estudo é descrever sobre a inter-relação entre as condições de trabalho dos operadores de caixa de uma danceteria e a ocorrência de desconfortos psico-fisiológicos ilustrando o fato de que a discrepância entre o que é prescrito e o que é realizado gera conseqüências negativas tanto para a lógica da produção, como para a lógica dos atores sociais envolvidos
METODOLOGIA:

Esta pesquisa teve como objetivo realizar uma análise ergonômica de um posto de trabalho em Florianópolis. Trata-se de um estudo de caso em ergonomia de natureza descritivo-exploratória, assentado na investigação das condições impostas pela organização social da produção e suas implicações para o bem-estar do trabalhador. Parte-se do pressuposto de que a forma como o trabalho está organizado resulta em constrangimentos de ordem física, psicológica e social que podem ser manifestados através de queixas, desprazer e desconforto. Para a realização desse estudo, optou-se pela utilização da abordagem metodológica denominada Análise Ergonômica do Trabalho - AET (MONTMOLLIN, 90; GUÉRIN et all, 2001). A AET do posto de trabalho foi realizada a partir das análises quali-quantitativas referentes à concepção organizacional do trabalho prescrito e às atividades dos operadores numa situação real de execução das tarefas. Os sujeitos analisados foram os dois operadores do caixa de uma danceteria. Foram realizadas análises documentais, observações livres e observações sistemáticas durante os meses de julho a setembro de 2005. O registro das observações foi sendo realizado conforme as etapas da AET foram ocorrendo: análise da demanda, análise da tarefa e análise da atividade. Além disso, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com os proprietários da danceteria, com o gerente e com os operadores de caixa (GUÉRIN et all, 2001).

RESULTADOS:
Subjacentes às prescrições e às condições do trabalho encontram-se as exigências externas, ambientais, instrumentais e organizacionais. Verificou-se que o espaço físico destinado ao trabalho é muito pequeno e, portanto, inadequado para a realização das atividades, no tocante à circulação e conforto. A iluminação e a ventilação do posto demonstraram-se abaixo do mínimo desejado. Igualmente, eram utilizadas banquetas sem encosto para o tronco e membros superiores; No que tange as variáveis psicológicas identificou-se alguns problemas: perda da vida social e troca no hábito de dormir, conseqüência de jornadas de trabalho exaustivas. Os atores referiram ainda maior irritabilidade e fadiga auditiva; Igualmente, algias na coluna vertebral e cefaléias (relação: com a postura e o som), bem como perda de peso e aumento no consumo de cigarros foram algumas das variáveis apontadas como desagradáveis pelos sujeitos de pesquisa. Com base nessas análises e no contexto estudado verifica-se o risco inerente ao circuito do trabalho, possibilitando assim a expressão de desprazer e sofrimento iminente. Diante das exigências referentes ao desempenho e à produtividade dos trabalhadores, nota-se que esses necessitam aprimorar suas competências diariamente para lidar de forma equilibrada com as discrepâncias geradas no meio.
CONCLUSÕES:
Conhecer os modos de regulação que os trabalhadores utilizam para lidar com as discrepâncias existentes entre o que é prescrito e o que eles realmente fazem é o objetivo precípuo da Análise Ergonômica do Trabalho. Tal conhecimento permite que o ergonomista faça um mapeamento da situação de trabalho e elabore recomendações visando à transformação do trabalho. Recomendações essas que devem propiciar mais conforto, saúde, bem-estar, eficácia e produtividade. Neste caso específico os resultados das análises apontam para indícios de incompatibilidades entre as exigências impostas ao posto de trabalho e o repertório comportamental exibido pelos trabalhadores para atendê-las
 
Palavras-chave: ergonomia; tarefa; atividade.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006