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F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Planejamento Urbano e Regional - 2. Métodos e Técnicas do Planejamento Urbano e Regional
IDENTIDADE E ESPAÇO: MOVIMENTO GLBT EM CONTEXTOS METROPOLITANOS
Ana Clara Torres Ribeiro  1
Pedro Bernardes Pinheiro  1, 2
(1. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional/ IPPUR, UFRJ; 2. Departamento de Geografia, UERJ)
INTRODUÇÃO:

O presente trabalho é desenvolvido no Laboratório da Conjuntura Social: tecnologia e território (LASTRO), do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) / UFRJ. Insere-se no projeto 'Cartografia da Ação e Análise da Conjuntura: reivindicações e protestos em contextos metropolitanos'. Trata-se de estudo expressivo da metodologia de análise do cotidiano metropolitano em desenvolvimento no LASTRO, que valoriza mutações na conjuntura social e política. Tais mutações compreendem a emergência de novas problemáticas, como a questão da orientação sexual e da identidade de gênero, assim como de novas formas de protesto e reivindicações, que se apropriam diferencialmente do espaço urbano e metropolitano.

A ação promovida pelo movimento social homossexual ganha destaque numa conjuntura em que a questão da identidade adquire legimitidade na sociedade, assumindo, desta forma, uma crescente importância política. Busca-se, neste sentido, compreender as relações entre as práticas sócio-espaciais esboçadas durante a realização de manifestações dos grupos sociais de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros (GLBT), e as motivações e objetivos deste movimento social.
METODOLOGIA:

O trabalho é desenvolvido a partir da leitura crítica da grande imprensa, o que envolve coleta diária de notícias sobre as diferentes formas assumidas pela ação social nos contextos metropolitanos. Tais informações são decompostas, analiticamente, tendo em vista a alimentação do 'Banco de Ações e Processos Sociais' (BAPS), elaborado pelo LASTRO. Este Banco tem sido sistematicamente alimentado, desde 1999, para as Regiões Metropolitanas do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, através, respectivamente, dos periódicos O Dia, Folha de São Paulo e Correio Brasiliense.

Neste trabalho serão refletidas as ações sociais promovidas por grupos articulados ao movimento social homossexual nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, utilizando registros da imprensa correspondentes ao período de 2000 a 2004. Além dos registros de mídia do BAPS serão utilizadas  informações e dados provenientes de grupos que defendem os direitos dos GLBT.

O trabalho apropria-se da denominada 'Cartografia da Ação', desenvolvida pelo Laboratório, como apoio à análise de conjuntura no âmago do tecido urbano e de problemáticas inscritas (e traduzidas) na ação. Esta técnica é complementada por imagens oriundas do acervo documental do LASTRO.
RESULTADOS:

Os resultados alcançados para o período analisado indicam o predomínio de quatro tipos de ação social: ‘Parada’, ‘Beijaço’, Ato público e Campanha. Tratam-se de ações que buscam a ampliação visibilidade GLBT, a ampliação da interação com outros movimentos sociais e a reivindicação de direitos.

A realização de Atos públicos e Campanhas, embora seja de fundamental importância para o próprio exercício da cidadania, não gera forte repercussão na mídia, resultando em poucos registros no BAPS. Tais ações compreendem os embates entre movimento social e Estado. O ‘Beijaço’ também não tem alcançado grande destaque na mídia escrita, embora apareça como uma ação de maior impacto, na medida em que propicia o enfrentamento direto, pelos militantes deste movimento, através de uma ação transgressora, da homofobia. As ‘Paradas’, por sua vez, apropriam-se de territórios privilegiados de modo original, e conquistando  grande presença midiática. A apropriação destes territórios, como no caso da Avenida Atlântica e a Avenida Paulista, também está relacionada à estratégia do poder municipal que se apropria da ação social na produção da imagem urbana, difundindo a idéia do Rio de Janeiro e de São Paulo como cidades abertas e cosmopolitas.
CONCLUSÕES:

O trabalho conclui que, nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e São Paulo, o movimento social homossexual produz diversas ações sociais visando objetivos distintos.  A luta pela instucionalização de direitos, deste movimento, perpassa todos os protestos analisados durante o período de 2000-2004. As práticas sócio-espaciais adotadas durante estes protestos estão associadas aos objetivos estratégicos traçados ao nível nacional, e até mesmo global. Por outro lado, as ações como ‘Campanhas’ e ‘Beijaços’ têm profunda ligação com o cotidiano da população GLBT e, deste modo, objetivam a promoção da cidadania e luta contra a homofobia na escala local.

Paralelamente, as ‘Paradas’ são responsáveis por construir uma forte identidade para este movimento por seu forte apelo midiático e alcançar ampla adesão de diferentes segmentos sociais e atores políticos. As reivindicações são, com freqüência relacionadas à conquista de direitos na esfera federal, como a união civil e/ou criminalização da homofobia. Contudo, seu aspecto celebrativo, transforma esta manifestação em um campo de conflitos em relação ao seu real significado político, entre sujeitos sociais, agentes, mediadores e Estado. Assim, o território praticado reflete a ambigüidade de seu uso como lugar do encontro e o uso de sua imagem na produção da cidade-espetáculo, que promove e controla os sujeitos da ação.
Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Ação social; Movimento Homossexual; Contextos Metropolitanos.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006