O romance “Cunhataí: um romance da Guerra do Paraguai” é um texto da literatura brasileira que narra os feitos heróicos de um povo antes não mencionados na história oficial da Guerra do Paraguai, no qual personagens como escravos, mulheres, indígenas, voluntários, paulistas da região de Campinas figuram nesse romance de Maria Filomena Bouissou Lepecki, que transporta o leitor ao Brasil Imperial narrando a bravura de uma sinhazinha chamada Micaela, que ao se casar com Ângelo, um espião paraguaio na tropa brasileira, enfrenta a batalha mais sangrenta das Américas, onde ela conhece o bravo capitão Santa Cruz. Com uma linguagem simples e dinâmica Lepecki narra o conflito e a grande carnificina que foi a Guerra do Paraguai.

Assim, nos leva a um confronto inevitável e a uma discussão sobre História e Ficção, uma vez que se mesclam e se fundem não ocorrendo mais uma fronteira fixa e delimitada entre ambas. Embora a princípio sejam ciências humanas opostas, ambas são constituídas de material discursivo, permeado pela organização tão subjetiva da realidade feita por cada falante. Escrever a história como romance e romances com os fatos da história já não significa apenas uma correção da versão oficial, nem tampouco um ato de oposição ao discurso do poder constituído, são as duas coisas. As ficções sobre história reconstroem versões, se opõem ao poder e ao mesmo tempo apontam para o futuro, sendo denominado como Romance Histórico.

A metodologia utilizada será a análise estrutural da narrativa “Cunhataí”, e em segundo momento um estudo histórico da Guerra do Paraguai, utilizando-se de estudos comparados, para confrontar os discursos e confirmar a presença das características do novo romance histórico, classificados por Seymour Mentom, Angel Rama e outros, ressaltando o dialogismo, a intertextualidade, a heteroglossia, a fim de classificá-lo como novo romance histórico.

O romance histórico contemporâneo tende a criar um espaço de reconstrução do imaginário e das tradições culturais de uma determinada comunidade. Este fato está presente em Cunhataí, que resgata a história da Guerra do Paraguai, criando um mundo perdido que só existe na memória.

 Através da análise da narrativa e de estudos comparados apontados por Tânia Carvalhal, nota-se no romance “Cunhataí” o discurso histórico sendo a Guerra do Paraguai, precisamente no ano de 1865 e no discurso ficcional, a narrativa literária através da história amorosa de Micaela, uma sinhazinha de Campinas e o triângulo amoroso, com Ângelo e o Capitão Santa Cruz. Também foram identificadas quatro das seis características apontadas por Seymour Mentom, a fim de classificar o romance como novo romance histórico brasileiro.

No romance “Cunhataí”, Lepecki ultrapassa o triangulo amoroso trazendo a Guerra em sua degradante miséria, com isso rediscute os acontecimentos da história tradicional. Ou seja, classifica-se “Cunhataí” como Novo Romance Histórico, uma vez que rediscute os acontecimentos históricos e a própria história, também na obra foram classificadas quatro das seis características do Novo Romance Histórico apontadas por Seymour Menton.

Fazendo uma leitura do texto narrativo ficcional e o texto narrativo historiográfico presentes na narrativa, nota-se que estes se entrelaçam afirma-se também a uma função desmistificadora, sobretudo na literatura latino-americana, além do estritamente estético. Em fim “Cunhataí” é um romance de caráter histórico-ficcional, obra de algum fôlego, lirismo e informações sobre a região na época Mato Grosso e a fronteira com o Paraguai, guerra que nos dias atuais podem ser vista através de homenagens feitas a muitos heróis e “cunhataís” anônimas.