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F. Ciências Sociais Aplicadas - 12. Serviço Social - 2. Serviço Social da Criança e do Adolescente

FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO EM SITUAÇÕES DE ABUSO SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES. A PARTICIPAÇÃO MATERNA NO ROMPIMENTO DO ABUSO E NOS PROCESSOS DE REESTRUTURAÇÃO DOS VÍNCULOS FAMILIARES.

Moanna Matos  1
Catarina Maria Schmickler 2
Fernanda Ely Borba 3
(1. Acadêmica de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC.; 2. Profª. Drª. da Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC.; 3. Mestranda em Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC.)
INTRODUÇÃO:

Esta pesquisa, desenvolvida no Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Violência - NEPEV, investigou os fatores de risco e de proteção preponderantes nas ocorrências de abuso sexual contra crianças e adolescentes. O interesse pela investigação dos fatores apresentados é resultante de estudos anteriormente realizados pelo NEPEV, com mães de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual, os quais indicaram que: uma história de abuso-vitimização vivida pela mãe durante a infância ou adolescência e a forma de proteção de que ela foi objeto influenciam diretamente no processo de resiliência materno, e ainda, na capacidade de proteção que essas mães desenvolvem para com seus filhos. Diante disso, procuramos aprofundar nossos conhecimentos acerca desta complexa temática, relacionando-a com a capacidade de proteção materna. Buscamos identificar os fatores de risco e de proteção para a ocorrência de abuso sexual no ambiente doméstico. Considerando que muitas mães apresentam história de abuso sexual na infância, buscamos identificar, a partir do processo de resiliência destas mães, os fatores individuais, familiares e sociais preponderantes para a proteção de crianças e adolescentes sexualmente abusados. Por fim, pretendemos produzir conhecimento novo e fornecer subsídios para a formulação de políticas e de programas sociais voltados à garantia de direitos de crianças e adolescentes e das famílias que vivem em situações de risco.

METODOLOGIA:

Os objetivos propostos pela pesquisa só poderiam ser alcançados através de um estudo exploratório e de natureza qualitativa, pois diante de um tema-tabu, este é o método mais eficaz, uma vez que permite ao pesquisador explorar temáticas onde predominam segredos, fenômenos ligados ao comportamento desviante e à criminalidade. Inicialmente foi realizado um levantamento do estado da arte sobre o assunto. A “Trajetória” de Vida foi a modalidade de investigação adotada, o que permitiu a apropriação da riqueza de informações que os sujeitos acumularam ao longo da vida, e da relação entre os acontecimentos passados e os fatos atuais. Foram entrevistadas sete mães, que apresentaram história de abuso-vitimização durante a infância e adolescência: seis delas atendidas no Projeto Sentinela da Prefeitura Municipal de Florianópolis/SC, outra que não recebeu atendimento institucional. Os depoimentos das mães foram gravados em fitas magnéticas e posteriormente transcritos. A interpretação das informações teve como base o levantamento de categorias de análise. O material coletado foi trabalhado nas dependências do Departamento de Serviço Social da UFSC, com suporte bibliográfico e instrumental do NEPEV. É importante ressaltar que os materiais resultantes dos estudos realizados anteriormente pelo NEPEV também subsidiaram o presente trabalho, visto que estavam inseridos na mesma temática e muitos de seus resultados puderam corroborar para as conclusões alcançadas nesta investigação.

RESULTADOS:

Os relatos das mães apresentaram uma história de abuso-vitimização durante a infância e adolescência. Como fatores de risco foram encontrados: 1) Familiares: relacionamentos definidos pelo poder e pelo medo; uso de bebida alcoólica; conflitos familiares constantes; presença de violência física; ausência de afeto materno; ausência de uma pessoa de confiança, o que impossibilitou o relato dos abusos sofridos pelas mães; trabalho feminino exigindo a ausência das mães do lar; renuncia dos cuidados com filhos, entregando-os aos familiares. 2) Individuais: dificuldade em confiar nas pessoas e estabelecer vínculos; medo e estratégias de fuga diante das dificuldades pessoais; incapacidade de lidar com as lembranças dos abusos sofridos. Quanto aos fatores de proteção capazes de romper com o ciclo de abusos identificamos: 1) Familiares: relacionamentos pautados no apoio mútuo e na proteção; educação acompanhada de diálogo aberto; grandes expectativas de futuro para os filhos; incentivo ao estudo; preservação da identidade individual dos filhos e respeito à liberdade. 2) Individuais: iniciativa para buscar e enfrentar mudanças; momento de transição para vida adulta com significado positivo para a vida das mães; idealização de uma família diferente da família de origem; sonhos individuais definidos para o futuro; melhoria da capacidade de significação dos traumas, quando a mãe tem atendimento profissional.

CONCLUSÕES:

Concluímos que a mãe é a figura preponderante para a proteção de seu(s) filho(s) nos casos de abuso sexual. A presença de uma pessoa de confiança, seja a mãe, um parente ou alguém do contexto social onde a criança ou o adolescente está inserido, é imprescindível para evitar a continuidade do abuso. Uma criança que não encontre acolhimento corre risco de revitimização por meses ou até anos. Quanto mais próximo for o relacionamento entre mãe e filho, maior será a possibilidade de rompimento do ciclo abusivo, como também melhor será o processo de ressignificação do abuso pela criança ou adolescente. Relacionamentos familiares pautados no apoio mútuo, respeito e confiança, tendem a fortalecer a unidade familiar o que, por sua vez, poderá tornar a família resiliente, ou seja, menos vulnerável aos riscos que poderão surgir ao longo de sua trajetória. É fundamental, ainda, a existência de uma rede de serviços sociais atuando na perspectiva protetiva das famílias, fornecendo-lhes subsídios que possam garantir autonomia e capacidade de rompimento com o ciclo de tutela que comumente se reproduz nos programas de atenção aos seus usuários. As ações interventivas dos profissionais devem pautar-se numa rede de serviços interdisciplinares que estejam efetivamente interligados, conectando as diferentes demandas dos indivíduos, a fim de evitar ações isoladas e segmentadas.

Instituição de fomento: PIBIC / CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: abuso sexual; fatores de risco; proteção materna.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006