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F. Ciências Sociais Aplicadas - 2. Economia - 11. Economia
AS MUDANÇAS DE CENÁRIO E O NOVO PERFIL DA COTONICULTURA APÓS OS ANOS 90
Vera Mariza Henriques de Miranda Costa 1
Eduardo Róis Morales Alves 1
(1. Grupo de Pesquisa Multidisciplinar “Gestão das Organizações”. Depto CAT - UNIARA)
INTRODUÇÃO:
A década de 60 constituiu um marco no processo da modernização do agro brasileiro. A principal responsabilidade pela dinâmica das atividades agrícolas, no período 1965-985, foi atribuída à configuração do que se conceituou de Complexo Agroindustrial – CAI, caracterizado por forte articulação entre agricultura e indústria "para frente" e "para trás" do segmento agrícola, responsável pela modernização de parcela significativa de atividades aí desenvolvidas. Constituem exemplos de segmentos que se modernizaram, na dinâmica do CAI: tomaticultura, suinocultura, avicultura e citricultura. Outros segmentos, dentre eles a cotonicultura, não se enquadraram nesse padrão de modernização. A partir do final dos anos 80, em razão de alterações no cenário mais amplo - tecnológicas, organizacionais, do comércio internacional – e ainda da redução da intervenção estatal sobre a economia brasileira e, especificamente, sobre as atividades agroindustriais, a dinâmica desencadeada nos anos 60 passou a dar sinais de esgotamento. Atividades não dinamizadas “via” CAI sofreram, de forma mais direta, os impactos da mudança de cenário. Assim, a produção de algodão, a partir dos anos 90, passou a evidenciar problemas de competitividade, redução da área cultivada e do volume produzido, configurando a “crise do algodão”. Nesse contexto, o presente trabalho tem por objetivo apresentar as condições locacionais, tecnológicas e organizacionais da cultura do algodão anteriormente e posteriormente aos anos 90.
METODOLOGIA:
Foi adotada a postura explicativa, segundo a qual, no contexto do processo de desenvolvimento “via CAI”, o impulso e a orientação das atividades estiveram sob o comando da indústria – a montante e a jusante da agricultura – e do Estado. As mudanças, a partir do final dos anos 80 geraram um “vazio” de comando e a necessidade de novas formas de gestão e de coordenação dessas atividades, anteriormente dinamizadas pela forte articulação entre agricultura e indústria. Assim, nos anos 90, tanto a evolução da economia brasileira como a do setor agroindustrial impuseram aos agentes produtivos uma reestruturação para a garantia da própria sobrevivência. A partir dessa década, diversos segmentos agropecuários passaram por processos de reestruturação produtiva e organizacional, afetando as relações entre agricultura e indústria bem como as estabelecidas ao interior de cada uma dessas atividades. A investigação partiu do suposto de que as condições de perda de competitividade vivenciadas pela cotonicultura não devem ser analisadas como específicas a essa atividade, mas de âmbito maior, decorrentes da perda de dinamicidade do processo de modernização da agricultura sob o impulso do CAI. Valendo-se de fontes secundárias, relatórios de pesquisa, teses e trabalhos publicados, foi feita a caracterização da cotonicultura: no contexto do período marcado pela dinâmica do CAI e após o esgotamento desse impulso, tomando-se como marco divisor os anos 90.
RESULTADOS:
A crise na cotonicultura tradicional que se manifestou nos anos 80 exigiu respostas do Estado e dos agentes produtivos da cadeia. Enquanto em 1985 a área plantada era de 3,7 milhões de ha., a safra 96/97 registrou 750 mil ha., acarretando queda na produção de aproximadamente 300 mil toneladas, tornando os produtores domésticos responsáveis por apenas 40% do consumo interno, estimado, no final dos anos 80, em 850 mil toneladas. Em 1997 o Brasil foi o maior comprador mundial de algodão, onerando a balança comercial em torno de US$ 1 bilhão. Esse desempenho provocou o fomento de um novo padrão de produção de algodão no país. O Estado (FINAME/BNDES) financiou o investimento a juros e condições de pagamento privilegiados, induzindo mudanças no padrão tecnológico, acarretando o deslocamento geográfico da produção, tradicionalmente concentrada no norte do estado de São Paulo, na região de Ituverava, para o Centro-Oeste brasileiro, resultando em alterações no perfil dos produtores. A modernização da base técnica e a ampliação das escalas de produção possibilitaram o crescimento exponencial da produtividade. No início dos anos 2000, com tecnologia tradicional, a produtividade era de 76 @/ha., com custo de produção médio de R$ 8,86/@ e escala média de 16 ha.. Com tecnologia mecanizada, a produtividade atinge 250@/ha, a um custo de produção de R$ 5,08/@ e escala média de 230 ha.. O custo da colheita manual, das regiões tradicionais, de R$ 2,00/@ caiu, com a colheita mecanizada, para R$ 0,90/@.
CONCLUSÕES:
Pôde-se constatar que os elos da indústria de transformação com o segmento agrícola produtor de algodão, até os anos 90, foram frágeis, não viabilizando a modernização desse segmento, no ritmo em que foram atingidas outras atividades. O modelo tradicional se esgotou e um novo padrão emergiu, baseado em escalas crescentes, mecanização e tecnificação. Com as alterações no padrão tecnológico, adotadas na nova região produtora, a estrutura da atividade passou de pequenas propriedades, na maioria dos casos em regime de arrendamento, para a responsabilidade de grandes propriedades, inclusive com a participação de capital estrangeiro. Pôde se observar, ainda, a perda de importância das “algodoeiras” a favor da atuação de grandes grupos de perfil oligopolista, com tendência à verticalização da atividade e à ampliação da produção própria, em mãos da indústria processadora. Ficou evidenciada a necessidade de políticas específicas para minimizar os impactos negativos da adoção do novo padrão produtivo sobre os produtores de menor porte e sobre a dinâmica das regiões que abrigam a cultura do algodão em moldes tradicionais.
Instituição de fomento: FUNADESP
 
Palavras-chave: Cotonicultura; Mecanização; Deslocamento geográfico.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006