IMPRIMIR VOLTAR
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica
A REPRESENTAÇÃO DAS MULHERES NO LIVRO DIDÁTICO “PEQUENA HISTÓRIA DO MARANHÃO”
Odaléia Alves da Costa 1
(1. Mestrado em Educação, Universidade Federal do Piauí / UFPI)
INTRODUÇÃO:
O presente estudo apresenta dados de uma pesquisa preliminar realizada no Programa de Pós-Graduação em Educação (Mestrado em Educação) da Universidade Federal do Piauí intitulado “A representação da mulher em livros didáticos de Estudos Sociais do Maranhão, nas décadas de 70 a 90 do século XX”. Neste trabalho analisamos a obra “Pequena História do Maranhão” de Mario M. Meireles, editada em São Luís do Maranhão (MA) pelo Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado - SIOGE. Através do decreto nº 1732, de 9 de setembro de 1960 assinado por Eloy Coelho Neto, governador do Estado do Maranhão, este livro foi adotado nas Escolas Primárias do Estado do Maranhão. A primeira edição da obra é datada de 1959 pela editora do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC do Rio de Janeiro.
METODOLOGIA:
Esta pesquisa foi realizada tendo como marco teórico, as concepções da História Nova, que dá prosseguimento aos Annales. Realizou-se a leitura seqüencial de todos os capítulos do livro procurando identificar as representações da mulher maranhense. Para análise dos textos, utilizou-se o conceito de representações sociais, tal como concebe Chartier. Para este autor, as representações sociais são práticas culturais, isto é, elas são estratégias de pensar a realidade e construí-la. As representações sociais “não são de forma alguma discursos neutros: produzem estratégias e práticas (sociais, escolares, políticas) que tendem a impor uma autoridade à custa de outros, por elas menosprezados, a legitimar um projecto reformador ou a justificar, para os próprios indivíduos, as suas escolhas e condutas.” (CHARTIER, 1990, p. 17). Conforme nos adverte Chartier, as representações supõem um campo de concorrências e de competições: “as lutas de representações têm tanta importância como as lutas económicas para compreender os mecanismos pelos quais um grupo impõe, ou tenta impor, a sua concepção do mundo social, os valores que são os seus, e o seu domínio.”(1990, p. 17). A história das representações tendeu a firmar-se como complemento e nova orientação da história cultural, uma vez que significou, para os herdeiros da tradição dos Annales, a possibilidade de integração dos atores individuais ao social e ao histórico.
RESULTADOS:
O livro didático analisado foi escrito a pedido da Profª. Odila Soares que declarava ter grande dificuldade enquanto professora primária em obter dados sobre a História e a Geografia do MA. Mário Meireles, o autor, é membro da Academia Maranhense de Letras e tem várias produções no campo da literatura, dentre elas, o Guia Turístico de São Luís do MA. De um total de 15 capítulos da obra “Pequena História do Maranhão”, apenas 2 fazem referência a mulheres. No ítem “Franceses no Maranhão”, a mulher é representada através de uma lenda. Ali, a representação feminina se dá através de Nossa Senhora que não se manteve neutra, mas que se posicionou a favor dos portugueses, operando um milagre que foi primordial para a sua vitória. Apesar do milagre realizado pela Virgem Maria ter sido decisivo para a vitória dos portugueses na Batalha de Guaxenduba para ser considerada como verdadeira precisa do elemento fé que não pertence a todos os sujeitos. A outra mulher citada por Meireles tem um papel secundário, quando da invasão dos holandeses no MA, tendo intercedido por seu marido para que o mesmo não fosse morto. A mulher de Pedro Dessais e os padres jesuítas, dotados de meiguice, amor, piedade e compaixão impediram a morte de um “herói” maranhense. Apesar do ato de docilidade por parte da mulher, nem sequer seu nome foi mencionado. As mulheres estiveram esquecidas e quando não ocupavam papéis secundários ou que permeavam o imaginário popular na historiografia dos livros didáticos do MA.
CONCLUSÕES:
A mulher maranhense foi representada no livro didático “Pequena História do Maranhão” apenas em dois momentos. O primeiro operando um milagre, quando da expulsão dos franceses do Maranhão, e o último lutando pela permanência de vida do esposo que se negou a prestar juramento à bandeira da Holanda, quando estes estiveram no Maranhão. Apesar dos avanços em termos de discussão e mobilização das mulheres a nível internacional e nacional, principalmente a partir da década de 1960, isso não se reflete nos livros didáticos de História do Maranhão.Vale nos questionar: por que as discussões em torno do feminismo não se refletiram na historiografia do livro didático maranhense? Contudo, os materiais escolares são elementos privilegiados de difusão das representações sociais, sendo assim, o livro didático “Pequena História do Maranhão”, veicula uma imagem da mulher como ocupante de um papel secundário na História do Maranhão, omitindo a existência de outras representações da mulher existentes na sociedade maranhense.
 
Palavras-chave: representação; mulher; livro didático.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006