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C. Ciências Biológicas - 2. Biologia - 1. Biologia da Conservação
A influência de fatores externos sobre a maturação ovariana e o desenvolvimento embrionário do camarão de água doce Macrobrachium olfersi (Crustacea, Decapoda) em condições experimentais.
Lizia Carbolin Martins 1
Francielle Regina Ceccato 1
Talita Medeiros de Souza 1
Marcela Purificação 1
Kauê Tortato 1
Yara Maria Rauh Müller 1
(1. Universidade Federal de Santa Catarina CCB/BEG)
INTRODUÇÃO:
Na Ilha de Santa Catarina são registradas espécies nativas de camarões da família Palemonidae que habitam córregos e corpos de água-doce. Tais espécies destacam-se por sua importância na cadeia trófica e por sua utilização tanto em ações de repovoamento, como na realização de estudos de biomonitoramento de ambientes aquáticos. Macrobrachium olfersi é um palemonídeo de grande representatividade, que tem sido utilizado como modelo experimental na realização de estudos envolvendo desenvolvimento embrionário, reprodução e comportamento, pois possui características que o credenciam para estudos em aquário, como a produção e o transporte de numerosos ovos em uma câmara incubadora, a possibilidade de acompanhar macroscopicamente a maturação ovariana, o dimorfismo sexual externo e o grau de resposta fisiológica a ação de fatores externos. O presente estudo visa analisar a influência das variáveis ambientais temperatura e fotoperíodo, bem como da ablação do pedúnculo ópticos sobre os processos de maturação ovariana e desenvolvimento embrionário de M. olfersi em condições de laboratório. Os resultados obtidos poderão contribuir para um melhor conhecimento da ação reguladora direta e indireta na reprodução e desenvolvimento.
METODOLOGIA:
Adultos de M. olfersi foram coletados no Parque Municipal da Lagoa do Peri (IBAMA 157/2005) e levados ao laboratório para sexagem, biometria, aclimatação (15 dias). Machos e fêmeas (1:3) foram acomodados em aquários (30L), com aeração permanente, sendo definidos 4 grupos experimentais: Grupo I - controle mantido na condição de fotoperíodo natural, temperatura de 25oC (±1oC) e sem remoção de pedúnculo óptico; Grupo II - mesmas condições do controle, exceto quanto ao fotoperíodo (14h claro/10h escuro); Grupo III - temperatura controlada em 28oC (±1oC) e as demais variáveis iguais ao controle; Grupo IV - variáveis idênticas ao controle com fêmeas submetidas a ablação unilateral do pedúnculo. As fêmeas foram monitoradas diariamente para acompanhamento da maturação ovariana e das desovas. Os estágios de maturação ovariana foram identificados macroscopicamente através das mudanças de coloração e tamanho por transparência da carapaça. As fêmeas que ficaram ovígeras durante o experimento tiveram amostras (n=100) de ovos retiradas, os quais foram analisados in vivo para identificação do estágio embrionário e medidos (n=5) em seu eixo maior e eixo menor para obtenção do volume. O restante da amostra de ovos foi destinada a quantificação do teor de água determinado pela diferença entre o peso fresco e peso seco, obtidos após desidratação da massa de ovos na estufa a 60 oC durante 48 horas. Os dados quantitativos foram analisados estatisticamente através de sumário estatístico e ANOVA.
RESULTADOS:
Durante o estudo foram analisadas fêmeas que apresentavam comprimento total de 42.75 a 60.3mm, sendo a fecundidade média igual a 2210 ovos. Nos quatro grupos experimentais foi reconhecida a mesma seqüência de estágios de maturação ovariana (imaturo, maturação inicial, intermediária, avançada e maduro). Contudo, no grupo IV verificou-se que 83,3% das fêmeas apresentaram desovas consecutivas, enquanto no grupo I 25% das fêmeas seguiram esse perfil. Ainda no grupo IV foi observada uma redução de 11 dias no período entre desovas. Quanto ao tempo de desenvolvimento embrionário, foi observada a duração de 11 dias no grupo da temperatura, 12 dias no grupo do fotoperíodo e 14 dias nos grupos da ablação e controle. Foi possível caracterizar em todos os grupos os estágios pré-naupliar (disco germinal), naupliar (lobo óptico, estomodeu e dos apêndices naupliares) e pós-naupliar (sistemas orgânicos). Nos grupos II e III, com menor tempo de desenvolvimento, a redução ocorreu na duração do estágio pós-naupliar. O volume dos ovos variou de 0,046mm3 (1º dia de desenvolvimento) a 0,070mm3 (14º dia) no grupo controle, não havendo diferenças significativas nos valores obtidos para os demais grupos. O teor de água dos ovos do grupo I aumentou gradativamente ao longo do tempo de desenvolvimento de 3,5.10-5g (1º dia desenvolvimento) a 6,9.10-5g (14º dia), correspondendo a um incremento de 49,3%. Já nos demais grupos, o aumento no teor de água dos ovos foi de 56,6% no grupo III e 62,3% no grupo IV.
CONCLUSÕES:
Os resultados obtidos neste trabalho mostram que na espécie nativa Macrobrachium olfersi, os fatores externos estudados interferem de modo mais significativo nos processos reprodutivos do que nos processos de desenvolvimento. O fotoperíodo e a temperatura mostraram-se influentes no tempo de desenvolvimento embrionário, que foi brevemente reduzido. Já a ablação unilateral do pedúnculo óptico das fêmeas acarretou em um aumento significativo nas desovas, sem influenciar na sucessão dos estágios de maturação ovariana e no desenvolvimento dos embriões. Estes dados refletem a dependência que os camarões de água doce apresentam em relação às flutuações das condições do ambiente. As variáveis estudadas mostraram-se importantes para os processos de desova e/ou desenvolvimento embrionário, mas sem comprometer o sucesso reprodutivo da espécie. Desta forma, o conhecimento e a identificação das condições favoráveis para a reprodução e desenvolvimento embrionário da espécie são essenciais para a conservação dos estoques naturais e a elaboração de programas de repovoamento.
Instituição de fomento: PIBIC/UFSC
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Macrobrachium olfersi; maturação ovariana; desenvolvimento embrionário.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006