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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 1. Lingüística Aplicada
APLICANDO A INTERDISCIPLINARIDADE ATRAVÉS DAS ESTRATÉGIAS DE LEITURA NO ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA
Cláudia Estima Sardo 1
(1. Universidade Estadual do Oeste do Paraná)
INTRODUÇÃO:

As atividades de leitura de um livro didático para o ensino de Língua Estrangeira foram alvo de análise dentro de uma perspectiva da Análise do Discurso e de suas tentativas para um estudo com base interdisciplinar. Os resultados mostram que alguns requisitos foram atendidos quanto à inclusão de temas interdisciplinares, à presença de textos autênticos e à exploração de algumas estratégias de leitura que favorecem o estudo interdisciplinar, ainda que se restrinjam à localização linear de informações no texto e a leitura crítica seja pouco explorada.

A importância deste estudo reside, primeiramente, na preocupação com a formação de estudantes que estejam preparados para interpretar criticamente as leituras que vivenciam no seu dia-a-dia. O interesse também reside no fato de que não raro o livro didático apresenta-se como o único livro que entra nos lares dos estudantes, por muitas outras vezes, constitui-se no conteúdo de um curso e por, também, auxiliar no desenvolvimento profissional do próprio professor.

METODOLOGIA:

O livro analisado, Great!, é direcionado para o ensino de língua inglesa de 5as séries, do ensino fundamental, sendo que a habilidade que é priorizada no presente estudo é a leitura. O livro que compõe o número um de uma série de quatro livros, possui uma unidade introdutória e outras quatro unidades. As unidades estudadas foram analisadas conforme as propostas de Coracini (1999), Grigoletto (1999), Ur (2000) e Crawford (2002) para a análise de livros didáticos, na qual são apontadas as estratégias de leitura priorizadas em cada unidade do livro dentro de uma perspectiva interdisciplinar.

 

RESULTADOS:

O livro analisado propõe uma ênfase a uma estratégia de leitura predominante em cada unidade, a qual traz novas informações sobre um determinado tema. As estratégias de leitura tratadas são: previsão, skimming, scanning, referência, inferência, identificação dos pontos principais, resumos e dedução de significado das palavras pelo contexto. Com base nos dados coletados, prevalece a estratégia de scanning, a qual busca a interpretação já pronta dentro de uma linearidade, seqüenciada no texto, na qual as informações são encontradas através do reconhecimento explicito das informações. Em menor número, explora-se o conhecimento prévio e o uso de ilustrações para a compreensão dos textos. A reflexão é proposta em um número reduzido de atividades, sendo que o reconhecimento de cognatos e palavras familiares é a estratégia utilizada em menor incidência.  Se por um lado a estratégia pretexto para o ensino de gramática  é pouco explorada, que por sua vez favorece um ensino comunicativo da língua, por outro lado, o ensino comunicativo é desfavorecido pelo uso reduzido de inferências e predição que poderiam ser mais utilizadas para a compreensão dos textos.

Observa-se, também, a prevalência significativa do texto não autêntico, didatizado, para o aluno com o intuito de facilitar o seu trabalho, não se considerando o quanto esta simplificação descaracteriza os textos e, desse modo, dificulta a formação de um aluno que tenha uma leitura crítica.

Temas como o meio ambiente, a pluralidade cultural, o trabalho e o consumo buscam o estudo de temas transversais e estudos sobre Ciências (mudanças climáticas), a Arte (quadros, imagens, figuras), a História (família) e Geografia (fatores sócio-geográficos em agrupamentos humanos) figuram como temas com a proposta interdisciplinar.

 

CONCLUSÕES:

Através da análise das atividades de leitura propostas neste estudo, pode-se perceber que o volume analisado traz uma razoável exploração de estratégias de leitura dentro de uma proposta interdisciplinar por meio de tentativas de uso de textos autênticos, da exploração de gêneros e temas de interesse dos alunos os quais possibilitam a exploração de conhecimentos que os alunos possuem, de conhecimentos adquiridos em outros contextos, sejam eles escolares ou de mundo. No entanto, em outras ocasiões, o texto é utilizado como pretexto para o ensino de gramática e as questões de reflexão apresentam-se em número bem menor, as quais caso fossem exploradas, favoreceriam um ensino interdisciplinar.  Em decorrência desse fato, a formação do aluno crítico é estabelecida ainda muito a critério do professor, na sua disposição e condição pessoal e de formação para conduzir as reflexões em sala de aula. A impressão que transparece é que as autoras do livro passam essa responsabilidade inteiramente para o professor. Pergunta-se, até quando os textos de língua inglesa nos livros didáticos discutirão a superficialidade, delegando a reflexão para outras disciplinas? Acredita-se que a mudança nas estatísticas brasileiras para um ensino de sucesso somente ocorrerá quando o aluno for encarado como sujeito operante dentro de um momento histórico e munido da crítica de seu contexto

 
Palavras-chave: interdisciplinaridade; material didático; estratégias de leitura.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006