A enorme freqüência e gravidade de maus tratos contra a criança e o adolescente vêm mobilizando profissionais de várias áreas de atuação com a cooperação da sociedade, em geral. Pesquisas realizadas apontam que quando a criança é vítima de agressões, é grande a chance da família manifestar perfil de violência  pelo menos em um dos responsáveis (35%), uso de drogas (20%), desemprego (35%), agressão verbal ou física entre os pais (28%) e histórico de violência na geração anterior (30%). O desenvolvimento psicossocial de crianças e adolescentes constitui um processo dinâmico e complexo, que requer tempo, espaço e condições adequadas. A associação de múltiplas situações de risco pode comprometer o desenvolvimento pessoal, a aquisição de habilidades e o desempenho de papéis sociais em gerações jovens. Na tentativa de reverter esse quadro e os diversos fatores de risco presentes em nossa sociedade, são necessárias intervenções com planejamento prévio e investimento por parte da sociedade e das entidades governamentais. Essa idéia pode sugerir uma estratégia para transformar a estrutura social vigente nas instituições de atenção direta à juventude para diminuição de fatores de risco e que promovam o desenvolvimento dos indivíduos. Este projeto visou levantar dados, junto a uma população de crianças e adolescentes com passagem pelo Conselho Tutelar da cidade de Londrina, sobre situações de riscos  promovidas no contexto familiar, a dinâmica e motivo da denúncia e encaminhamentos intermediados por várias agências aos Conselhos da cidade.

Trata-se de uma pesquisa descritiva de levantamento de dados com uma fase exploratória inicial, visando obter informações sistematizadas sobre as ações de triagem e encaminhamento de crianças e adolescentes a órgãos, programas, ou ao retorno familiar,  após a denúncia de negligência, maus tratos ou violência por seus cuidadores. Em Londrina - PR as crianças e adolescentes, vítimas de maus tratos, são atendidos, normalmente, pelo Conselho Tutelar. O órgão atendeu em sede única situada à Rua Benjamin Constant, 800, centro, até 2003, sendo desmembrado em três unidades, a partir de 2004.  Denúncias de casos de violência podem ser feitas por telefones. O órgão mantém um celular de plantão 24 horas. Após identificar o tipo de violência, que pode ser física, psicológica e / ou sexual, o órgão encaminha  os filhos e  suas famílias para projetos específicos. Outros tipos de fatores podem ser alvo de denúncias e encaminhamentos.

Dados sobre os encaminhados, como: idade, sexo, escolaridade, filiação, convivência com familiares, procedência por regiões de Londrina e outras localidades, número de ocorrências, agente e motivos da denúncia foram registrados. No que se referem às medidas familiares, encaminhamentos envolvendo advertência, orientações e inclusão em programas especiais, além de diligências à residência, recambio da criança ou adolescente para a cidade de origem, à promotoria da comunidade para atendimento jurídico, requisição ou apoio das polícias militar e civil, regularização de documentos e encaminhamento a setores de profissionalização. A análise de dados separa os números de atendimentos em função da sua natureza: conduta própria; envolvimento com tráfico de drogas; fuga de casa; deslocamento para outra cidade sem autorização; ato infracional; prostituição; trabalho infantil; omissão dos pais e vida na rua; os agentes responsáveis pelas violências cometidas contra os adolescentes; os encaminhamentos protetores feitos pelo Conselho Tutelar aos pais e à família, às organizações, como a escola, centros de atendimentos médicos, abrigos e outros

A contribuição da pesquisa está na organização de um banco de dados sobre crianças e adolescentes; levantando informações sobre as condições gerais de desenvolvimento em situações de riscos e o  planejamento de programas de intervenção que possam  reverter tais condições  ou  amenizar este problema de ordem social.