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D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva
ADOLESCÊNCIA E ALCOOLISMO: SUPORTANDO A ANGÚSTIA DE INVENTAR O FUTURO
Guilherme Pimentel Jordão 1
Glacy Gonzales Gorski Garcia 1
Ana Paula de Lima Barbosa 1
Maria Júlia Correia Lima Nepomuceno Araújo 1
Ana Luísa Lopes Gama 1
Denise Nocrato Esmeraldo 1
(1. Universidade Federal de Campina Grande)
INTRODUÇÃO:
Nada é mais corporal que o exercício do poder. Quando o corpo manifesta-se contra o poder, exercer-se-á sobre ele outra forma de disciplina, como advogam a medicina e o Estado em relação às toxicomanias, conceitual e socialmente afastadas do alcoolismo, este bem ajustado aos expedientes da cultura. No início do século XX, a psiquiatria, através de uma leitura higienista, buscava apoio na atitude proibitiva do Estado, de quem esperavam acolhida para sua posição anti-liberal. O florescimento de uma cultura hedonista nos anos 60, contestadora da repressão, marca a queda dos referenciais que se segue de angústia. Especialmente na adolescência, fenômeno que marca a passagem para a vida adulta, cujo aparecimento dá-se por transformações do corpo capazes de promover a experiência do sexo no real, essas mudanças reforçaram o consumo de drogas, incluído o alcoólico, às qual são iniciados cada vez mais cedo, e cuja responsabilidade sobre o possível rompimento legam sempre aos expedientes policiais do Estado, que preenchem o vazio da lei. Diante do exposto, a esta pesquisa, que objetiva verificar a prevalência do uso de álcool entre adolescentes assistidos pelo Programa de Saúde da Família, observar a correlação entre este processo e fatores de risco físicos e psico-sociais e a avaliar do o nível de entendimento do público pesquisado, cabe desempenhar um papel de crítica a forma de tratamento do alcoolismo na adolescência, quer no âmbito da clínica ou das políticas públicas.
METODOLOGIA:
Consiste na discussão e produção textual de conclusões retiradas a partir do contacto estabelecido  com os 442 adolescentes, inseridos em grupos de jovens organizados pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS) do Programa de Saúde da Família (PSF) em Campina Grande - PB. Os sujeitos acima foram entrevistados pela equipe que compõe o projeto – 40 adolescentes por grupo de jovens – até o ano de 2005 totalizando, com base num questionário padronizado, com 42 itens referentes a dados sócio-culturais e opiniões do entrevistado. Os resultados foram analisados com o auxílio de um computador IBM 486 mod. 76e, utilizando o programa estatístico “Statistical Package for Social Sciences” (SPSS; FOR WINDOWS).
RESULTADOS:
De uma amostra caracterizada por uma média de idade de 15,5 anos , encontramos 38,2%  que declararam consumir bebidas alcoólicas, enquanto 61,8% não. A renda familiar mensal era em média e 1,47 salários mínimos. Observou-se que do total, 74,5% receberam orientação a respeito da toxicomania. Dentre os motivos para não beber, 38,0% dos não consumidores referiram o sabor desagradável como principal, 26,9% seus efeitos, ao passo que entre os consumidores, a demanda pelos efeitos perfez 17,8 % da motivação para a inicio da ingesta alcoólica, 24,9% dos bebedores afirmando já terem sentido uma vontade irresistível de beber, com a finalidade de sentir os efeitos do álcool ou dirimir os efeitos de sua ausência. Afirmam problemas familiares 32,14% dos adolescentes consumidores de álcool, os quais se dão preferencialmente com os pais. Cerca de 95,9% dos entrevistados concordam que o consumo de álcool acarreta problemas à saúde, enquanto 85,2% concordam com um programa nacional permanente de proibição do consumo de álcool.
CONCLUSÕES:
É curioso notar a forma de investimento no consumo de álcool, que na adolescência costuma estar associado a mecanismos de subjetivação e formação de grupo, surgirem como sintomas individuais, reação à falta de horizontes para o futuro, que os fazem valer-se da droga unicamente pela necessidade de sentir seus efeitos e tamponar a angústia. O sintoma toxicomaníaco entre os adolescentes das diferentes classes sociais, responde ao padrão superficial assumido pela cultura atual, marcada pela derrocada dos grandes sistemas que sustentavam o edifício moderno, substituídos por um padrão radical de consumismo acrítico, marcando o momento atual por uma desconfiança em relação a verdade. O efeito desse desenho pode ser notado, com relação ao nosso objeto de pesquisa, na recorrência do apelo à solução policial, que marca uma similaridade incontestável entre a demanda de assistência por parte dos adolescentes de hoje e as soluções morais dos higienistas do começo do século XX. Perscrutando os riscos e possibilidades do sujeito contemporâneo, recusando o apelo à fuga cínica que propõe o tóxico, interrogamo-nos a respeito da solução para a angústia do “pós-moderno”; Lacan, apoiado em Joyce, nos propõe uma chave: saber fazer com seu sintoma uma obra.  
Instituição de fomento: Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: psicanálise; alcoolismo; adolescência.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006