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C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 6. Zoologia
AMPLIAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DE ESPÉCIES DE ANUROS PARA AS PORÇÕES CENTRAL E SUDESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
Ígor Luís Kaefer 1
Camila Both 1
Sonia Zanini Cechin 2
(1. Curso de Ciências Biológicas / UFSM; 2. Profa. Dra. Depto. de Biologia / UFSM)
INTRODUÇÃO:

Dados sobre a distribuição geográfica de espécies são fundamentais para a compreensão da biodiversidade e, consequentemente, para o planejamento e a tomada de decisões sobre estratégias de conservação. O conhecimento atual em relação à biogeografia de espécies de anfíbios para as porções central e sudeste do Estado do Rio Grande do Sul está baseado em um número limitado de trabalhos publicados. A detecção do declínio de populações e de suas causas é muitas vezes dificultada devido ao desconhecimento de suas áreas de ocorrência. Considerando-se os poucos estudos biogeográficos realizados na região, nós buscamos comparar dados obtidos pelo grupo de pesquisa do Laboratório de Herpetologia, da UFSM, referentes às espécies encontradas nessas áreas, com registros anteriores. Deste modo, procuramos ampliar e atualizar a base de dados a respeito da distribuição geográfica dos táxons encontrados nas áreas estudadas.

METODOLOGIA:

Foram analisados dados de inventários de fauna de três áreas das regiões central e sudeste do Rio Grande do Sul: Microbacia do Rio Ibicuí, município de Itaara (2005 e 2006); Serra do Sudeste do RS, município de Dom Feliciano (2002 e 2003), e região da Quarta Colônia, abrangendo cinco municípios (Nova Palma, Agudo, Dona Francisca, Ibarama e Arroio do Tigre) (1998 a 2005). Os dados obtidos foram comparados com informações anteriores acerca da distribuição geográfica da anurofauna do Estado. Espécimes-testemunha, coletados nas diferentes áreas, foram depositados na Coleção Herpetológica da Universidade Federal de Santa Maria (ZUFSM). A conferência das respectivas identificações foi realizada por Mirco Sole e Diego Baldo. As distâncias geográficas, em linha reta, foram calculadas com uso de aparelho GPS (Global Position System).

RESULTADOS:

Com a comparação dos dados foi possível verificar a ampliação da distribuição geográfica de quatro espécies, pertencentes a três famílias de anfíbios anuros presentes no Estado do Rio Grande do Sul. Melanophryniscus pachyrhynus (Bufonidae) teve sua distribuição estendida em direção ao noroeste em aproximadamente 146 km a partir do município de São Lourenço do Sul, após registro ocorrido no município de Dom Feliciano, em abril de 2002. A distribuição de Aplastodiscus perviridis (Hylidae) ampliou-se em aproximadamente 225 km ao sudoeste a partir de Lagoa Vermelha, com a descoberta de um exemplar no município de Itaara, em dezembro de 2005. Adenomera araucaria (Leptodactylidae) foi registrada em Ibarama. Esse registro, ocorrido em dezembro de 2003, amplia a distribuição na direção centro-oeste em 292 km a partir da localidade-tipo, São Francisco de Paula. Proceratophrys bigibbosa (Leptodactylidae) tem o registro mais a oeste no município de Arroio do Tigre. A espécie foi encontrada nos municípios de Ibarama e Nova Palma, em novembro de 2000, onde até então não havia sido registrada.

CONCLUSÕES:

Além da ampliação da distribuição para quatro espécies, houve o primeiro registro para a porção central de dois táxons. A descoberta de Melanophryniscus pachyrhynus em outra localidade é de grande interesse científico, já que a espécie era conhecida unicamente por sua localidade-tipo, São Lourenço do Sul, e consta na lista vermelha da IUCN (International Union for the Conservation of Nature and Natural Resources) como táxon com insuficiência de dados. Aplastodiscus perviridis tem seu primeiro registro para a região central do Estado. Adenomera araucaria foi descrita no ano de 1998 e possuía registro apenas para as imediações do Município de São Francisco de Paula, no nordeste do Estado. Proceratophrys bigibbosa é particularmente citado na lista vermelha da IUCN, como próximo de ameaça de extinção, em virtude de sua restrita distribuição e a progressiva perda e degradação de habitat. Para esta espécie, ainda nomeada como P. cristinae, em 1980, consta um único registro na cidade vizinha de Arroio do Tigre. Em 2001, este táxon passa para a sinonímia de P. bigibbosa. Considerando-se a grande quantidade de áreas agrícolas e de barragens no Rio Grande do Sul e o crescente avanço na extensão de áreas alteradas, novos levantamentos faunísticos se fazem urgentes em outras localidades, preservadas ou já degradadas. Através disso, poderemos conhecer melhor a distribuição da anurofauna do Estado e contribuir para a sua conservação.

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Anura; Biogeografia; Rio Grande do Sul.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006