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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana

ORGANIZAÇÃO SOCIAL EM REDES DE SOLIDARIEDADE: UMA PERSPECTIVA GEOGRÁFICA

Carolina Tavares Oliveira Borges 1
Vanda Ueda 1
(1. Programa de Pós-Graduação em Geografia/Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
INTRODUÇÃO:

O atual encolhimento das distâncias entre os lugares, derivado das grandes inovações tecnológicas que marcaram a história da humanidade, como as ferrovias, as rodovias, o telégrafo, o telefone e, mais recentemente, a informática, foram determinantes para a história das redes técnicas bem como da globalização.

Acreditamos que a globalização é idealizada e em discursos intelectuais mais otimistas, no sentido de conectar todos os lugares e todas as pessoas, isto é, suas perspectivas integradoras estão muito aquém do sugerido pelo termo, haja visto a grande quantidade de pessoas à margem do processo. Verificamos que há um descompasso entre os tempos vividos (rápidos ou lentos) nos diferentes lugares e, além disso, as ações continuam acontecendo no âmbito local e não no abstrato global, ou, conforme CASTELLS (2001, p. 502): “Na essência, o capital é global. Via de regra, o trabalho é local”. Assim, os lugares são mediadores entre o mundo e o indivíduo (SANTOS, 1997).

Por isso, acreditamos que as redes de solidariedade se apresentam, hoje, como uma alternativa para os indivíduos de menor poder aquisitivo, que são, muitas vezes, excluídos do contexto da globalização.

Desta forma, confiamos que, por se caracterizar como ciência social, a Geografia deve estar em dia com o estudo da produção sócio-espaço-territorial, para identificar as reais necessidades das comunidades organizadas que se determinam a resistir à desterritorialização iminente.

METODOLOGIA:

Nosso trabalho foi desenvolvido a partir revisão bibliográfica e de subsídios fornecidos pela Guayí, uma ONG (Organização Não-Governamental), sem fins lucrativos, constituída como OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). Fundada em julho de 2001, é composta por um conjunto de colaboradores oriundos dos movimentos sociais e da experiência de gestão participativa de Porto Alegre. É integrante da Associação de Empreendimentos Solidários EMREDE do Rio Grande do Sul, contribuindo com a formação em autogestão, assessoria para a atividade econômica e estímulo à autogestão de rede entre os empreendimentos solidários.

A Guayí, que significa semente no idioma Guarani, tem como objetivo estimular a auto-organização da sociedade na construção de seus direitos, nas perspectivas generosa e solidária , de um outro mundo possível, onde haja socialização dos frutos do desenvolvimento e de todas as dimensões do poder, com respeito às diferenças, não sendo estas motivo de desigualdade social. Esta possibilidade de sociedade só pode ser coletiva, plural e profundamente democrática.

Neste sentido, são aplicados os princípios da economia solidária, que se caracteriza como uma maneira de fazer economia baseada na solidariedade e no trabalho. Na economia solidária, é o ser humano e não o lucro o que está em primeiro lugar.

RESULTADOS:

Entendemos que mesmo as parcelas excluídas fazem parte tanto do sistema capitalista quanto do processo de globalização, e que a manutenção dos mesmos somente é possível com a reprodução das camadas marginalizadas. Porém, destacamos nesta análise  a reprodução dos agentes sociais, via, principalmente, organização e dignidade.

Com o que observamos, acreditamos que as redes de solidariedade nascem, por intermédio da proximidade e da convivência entre os indivíduos, na necessidade de resolver seus problemas em comum, cujas soluções beneficiam a todos os envolvidos. Seu caráter sócio-inclusivo possibilita, além da integração dos indivíduos em torno de ideologias e propostas comuns, a continuidade do trabalho, o desenvolvimento de novas propostas e a ruptura com um status quo econômico-político-ideologicamente verticalizado e sem expectativas para essas parcelas da população.

Com isso, as redes de solidariedade emergem como alternativa autonomista à ordem global em prol de interesses coletivos locais, dimensionando apropriadamente o sentido dinâmico da organização reticular, pois estas redes se apresentam de forma orgânica, com dinâmica própria modificando-se de acordo com as necessidades dos indivíduos envolvidos.

Ademais, na economia solidária, observamos a dimensão sócio-humanista que a economia adquiriu, porque a ela se incorpora a solidariedade em todos os aspectos, seja na produção, na distribuição ou no consumo. Além disso, evidencia que as ações e as organizações que se constituem dessa maneira, contém uma perspectiva socioeconômica delineada como alternativa estável e sobrevivência e de participação, ou seja de fazer com o outro.

CONCLUSÕES:

As redes de solidariedade constituem mais do que uma forma de sobrevivência frente à exclusão social, mas uma estratégia alternativa de inserção e, conseqüentemente, de participação no processo da globalização, ainda que os interesses dos agentes que às compõem estejam muito mais ligados à reprodução social e manutenção territorial do que à competitividade mercadológica global e à acumulação de capital. Além disso, a análise das redes apresenta-se muito mais profícua em suas dimensões socialmente atuantes e participativas nas mais diversas realidades às quais se fazem necessárias.

Com isso, as redes de solidariedade emergem como alternativa autonomista à ordem global em prol de interesses coletivos locais, dimensionando o sentido dinâmico da organização reticular, pois estas redes se apresentam de forma orgânica, com dinâmica própria modificando-se de acordo com as necessidades dos indivíduos envolvidos.

Temos a certeza da contribuição geográfica nesta análise e entendemos que seu aprofundamento, tanto teórico quanto prático, torna-se indispensável à medida que sua produção vem sendo ampliada nos mais diversos campos disciplinares.

Instituição de fomento: Bolsista CAPES
 
Palavras-chave: redes; solidariedade; inclusão social.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006