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C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 6. Zoologia
DIETA DE Tropidurus torquatus (WIED, 1820) (SQUAMATA: TROPIDURIDAE) EM UMA ÁREA DE AFLORAMENTO ROCHOSO NO MUNICÍPIO DE JUIZ DE FORA, MG
Samuel Campos Gomides 1
Aline de Oliveira Santos 1
Leonardo Barros Ribeiro 2
Bernadete Maria de Sousa 3
(1. Graduandos em Ciências Biológicas da UFJF; 2. Pós-Graduando em Ciências Biológicas da UFJF; 3. Orientadora do Departamento de Zoologia/ICB/UFJF)
INTRODUÇÃO:
Os lagartos do gênero Tropidurus ocorrem em áreas neotropicais, e no Brasil, na Floresta Amazônica, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Canga e Restinga. A espécie T. torquatus apresenta populações litorâneas, insulares e interioranas, ocorrendo no Cerrado e áreas abertas pertencentes aos domínios da Mata Atlântica, sendo também encontrado em ambientes alterados pela ação antrópica. Por ser um lagarto comum, estudos envolvendo diferentes aspectos ecológicos têm sido abordados recentemente, embora em Minas Gerais os poucos estudos regionais de destaque para as espécies do gênero correspondem aos realizados na Serra do Cipó sobre a dieta, modo de forrageamento e uso de microhábitat por T. montanus e T. nanuzae e no município de Diamantina sobre a dieta, padrões de atividade e uso de microhábitats por T. hispidus e T. montanus. Apesar da ampla distribuição e diversidade, informações sobre aspectos da auto-ecologia das espécies pertencentes ao gênero Torquatus ainda são escassas para as espécies interioranas. Portanto, pretendeu-se com o trabalho em questão, investigar a existência de variação quantitativa e/ou qualitativa na composição dos itens alimentares de uma população de T. torquatus no domínio Atlântico, ao longo das estações chuvosa e seca, buscando compreender os seus hábitos e evidenciar o papel ecológico que desempenham no seu ambiente, contribuindo assim, de uma maneira geral, para o conhecimento desta fauna da região
METODOLOGIA:
As coletas foram feitas em uma área de afloramento quartzítico delimitada (21º 48’ 27,5” S; 43º 35’ 31,7” W), com aproximadamente 60m de largura x 90m de extensão em relação à margem esquerda do rio do Peixe, localizada no distrito de Toledos, inserido na mesorregião da Zona da Mata Mineira, sudeste do Estado de Minas Gerais, fazendo parte da microrregião do município de Juiz de Fora. O clima é Tropical de Altitude, caracterizado por uma estação mais quente e chuvosa e outra menos quente e mais seca. A pluviosidade média anual é de 1.536mm e as temperaturas médias anuais de 19,4ºC. Um total de 30 indivíduos adultos de T. torquatus foi coletado por armadilhas de cola no período diurno (de 13:00 às 17:00). Em seguida foram pesados com uso de balança manual e medidos com paquímetro. Posteriormente foram mortos com éter e dissecados em laboratório e os conteúdos estomacais identificados sob estereomicroscópio e conservados em álcool a 70%. Os lagartos foram fixados em formol a 10%, conservados em álcool a 70% e depositados na Coleção Herpetológica da UFJF. Estes foram categorizados como adultos de acordo com o tamanho mínimo de maturidade estabelecido, sendo de 70mm de comprimento rostro-anal para os machos e de 65mm para as fêmeas. Os itens alimentares foram quantificados usando os métodos de freqüência de ocorrência e numérico.
RESULTADOS:
Foram obtidos 299 itens-presa do conteúdo estomacal de 15 indivíduos adultos de T. torquatus coletados em parte na estação chuvosa, entre outubro e novembro de 2005 (3 machos e 12 fêmeas) e 122 de outros 15 indivíduos coletados em parte na estação seca, entre agosto e setembro 2005 (4 machos e 11 fêmeas). Os conteúdos estomacais foram analisados e os itens não identificados foram descartados. Foram capturados moluscos e artrópodos pertencentes às classes Arachnida, incluindo aranhas e opiliões, Collembola e Insecta, incluindo Blattodea, Coleoptera, Lepidoptera, Hymenoptera e Orthoptera. Os itens-presa categorizados como material vegetal, também foram encontrados no conteúdo estomacal. As presas em potencial mais freqüentes encontradas no conteúdo estomacal foram as formigas e aranhas na estação chuvosa (83,94 e 5,01% respectivamente) e formigas e frutos na estação seca (55 e 10% respectivamente). A maior diversidade de itens-presa na dieta de T. torquatus foi observada na estação chuvosa, sendo que os itens moluscos, aranhas e ortópteros só foram ingeridos nesta estação. O item-presa Collembola só foi ingerido na estação seca.
CONCLUSÕES:
A análise dos dados coletados, indica que a população de T. torquatus da região se alimenta de artrópodos, principalmente de formigas, corroborando com trabalhos anteriores. O hábito onívoro também foi constatado para a espécie pois, além de ter ingerido flores e frutos, foi observado em campo, ao longo das coletas, o comportamento onde o indivíduo executava, por várias vezes, a investida em flores, sugerindo ingestão não acidental de plantas. A diversidade de presa na dieta de T. torquatus variou temporal e espacialmente, com uma composição de trocas de dietas com alimentação aparentemente oportunística, já que o espectro e as proporções dos tipos de presa ingeridas foram mais evidentes na estação chuvosa, quando estão mais disponíveis, embora Formicidae tenha permanecido como principal presa. Com os resultados obtidos pode-se concluir que na estação seca T. torquatus investe, proporcionalmente mais em material vegetal do que na estação chuvosa. Tal fato pode ser explicado, provavelmente, pela menor oferta de artrópodos na estação seca. O hábito alimentar de T. torquatus pode ser considerado como oportunista, consumindo o que está em maior disponibilidade no meio e, generalista, quanto à diversidade de itens-presa ingeridos. O comportamento de perseguição a Himenópteros foi observado, onde o tropidurídeo perseguia abelhas que forrageavam nas flores da região, demonstrando que estes não são estritamente senta-e-espera como postulado.
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Lagarto; Estratégia de caça; Hábitos alimentares.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006