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D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 7. Enfermagem

O ENSINO DO AUTOCUIDADO COMO ALTERNATIVA DA ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO JUNTO AO IDOSO INCONTINENTE

Melissa Orlandi Honório 1
Silvia Maria Azevedo dos Santos 1
(1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA/UFSC)
INTRODUÇÃO:

O presente trabalho vem apresentar a sistematização de uma prática de enfermagem voltada para a reabilitação do idoso incontinente. A incontinência urinária, por sua vez, ainda consiste-se em um dos grandes desafios para a geriatria. Isto não só pela enorme complexidade que existe na abordagem da mesma, mas também pelos transtornos impactantes que esta pode gerar na qualidade de vida das pessoas acometidas. Sabe-se, contudo, que os tratamentos oferecidos a esta clientela, muitas vezes, estabelecem-se em torno unicamente de abordagens invasivas ou medicamentosas. Este fato acaba por deixar à mercê outros tratamentos que também vêm mostrando eficácia para certos tipos de incontinência urinária. Tendo em vista a crescente demanda de idosos incontinentes e a ausência de um serviço público de enfermagem em Florianópolis voltado a esta clientela é que este trabalho foi desenvolvido. O mesmo teve como principal objetivo implementar uma assistência de enfermagem que viesse possibilitar, através do ensino do autocuidado, a recuperação total ou parcial da incontinência urinária e a conseqüente recuperação da qualidade de vida dos idosos atendidos.

METODOLOGIA:

A pesquisa e assistência foram desenvolvidas no ambulatório do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina, através do encaminhamento dos profissionais do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Ensino Geronto-geriátrica- NIPEG. Como estudo piloto foram atendidos 4 pacientes em um período de 2 meses. Todos do sexo feminino, com idades entre 58 e 83 anos e que apenas iniciaram o tratamento após assinarem o termo de consentimento livre e esclarecido. A assistência baseou-se na Teoria do Autocuidado de Orem, bem como nas concepções de Educação de Freire. A mesma consistiu na educação dos pacientes incontinentes, estimulando-os a autocuidar-se através de atitudes que pudessem mudar a sua situação de saúde. Desta forma, a paciente era estimulada a melhorar a alimentação, reduzindo dieta com irritantes vesicais, melhorar hábitos intestinais, associando isto a um retreinamento da bexiga e o aprendizado de exercícios para o assoalho pélvico. Todas as atividades educativas foram abordadas sempre partindo do conhecimento prévio trazido pelo idoso, através de uma relação dialógica. Para a coleta de dados foram utilizados 3 instrumentos. O primeiro dele – entrevista semi-estruturada- foi utilizado para abordar aspectos gerais referentes a qualidade de vida, incluindo também aspectos de autonomia e independência. Os demais – formulário de avaliação e diário miccional- foram utilizados para abordar questões específicas da incontinência urinária.

RESULTADOS:

Inicialmente percebeu-se que durante os atendimentos 50 % das pacientes verbalizaram a possibilidade inicial de cirurgia, tendo em vista que não tinham conhecimento de outros tratamentos. Sabe-se que a cirurgia ainda hoje é muito indicada, porém quando bem diagnosticado, vários tipos de incontinência urinária podem ter sucesso com tratamentos conservadores. A eficácia do tratamento proposto, por sua vez, pôde ser percebida objetivamente em consultório, através do toque vaginal para percepção da melhora da contração muscular, testes de esforço, diário miccional e avaliação da realização correta dos exercícios. Contudo, o feedback subjetivo ainda pode ser considerado muito importante. É através dele que é possível perceber a satisfação do paciente e a percepção dele em relação às perdas. Neste sentido, todas as pacientes atendidas mostraram satisfação com os atendimentos bem como apresentaram redução significativa das perdas urinárias nos 2 meses de tratamento, percebidas objetivamente pela redução no número de absorventes diários. Assim, 50 % das pacientes apresentaram recuperação total da continência e os demais 50% passaram a utilizar apenas 1 absorvente ao dia, por precaução.   

CONCLUSÕES:

 A teoria do autocuidado de Orem e as concepções de educação de Freire que serviram de cenário para a assistência desenvolvida puderam orientar as consultas e práticas educativas feitas pela enfermeira. Também serviram de guia para os acompanhamentos realizados e avaliação da assistência prestada. Assim, a educação voltada para o autocuidado, pôde auxiliar a enfermeira a levantar as exigências de autocuidado bem como implementar as ações necessárias para que as pacientes pudessem as suprir. A educação participativa, por sua vez, foi possível na medida em que as pacientes foram co-partícipes nos processos decisórios e ativos nas atitudes de autocuidado facilitando assim, a aderência ao tratamento. Desta forma, pôde-se concluir que a assistência de enfermagem, através do ensino do autocuidado, mostrou-se eficaz junto a clientela pesquisada e propiciou uma significativa melhora em sua qualidade de vida. A recuperação da continência urinária apresentada por essas pacientes evidenciou não só que esse é um tratamento possível, de baixo custo, mas também sendo necessário ser dispensado na atenção básica de saúde. Além disso, o estudo desvelou mais um campo de atuação para a enfermagem gerinto-geriátrica.

 
Palavras-chave: incontinência urinária; enfermagem; autocuidado.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006