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C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 4. Ecologia
ESPÉCIE INVASORA ACHATINA FULICA (BOWDICH, 1822) (MOLLUSCA – ACHATINIDAE) NO BAIRRO JARDIM VISTA ALEGRE, GUAÍRA, PARANÁ, BRASIL.
Adilson Rodrigues 1
Cristina Viana Sales 1
Dhonatan Oliveira Santos 1
Eliege dos Santos Viana 1
(1. Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul/Unidade Universitária de Mundo Novo)
INTRODUÇÃO:

A espécie invasora Achatina fulica, originária da África, é uma espécie conhecida pelo seu alto potencial invasor constando como uma das cem piores espécies da Lista da União para a Conservação da Natureza (UICN) e seu avanço é motivo de preocupação em muitos países, incluindo o Brasil (23 Estados), por seus danos à agricultura, saúde pública e meio ambiente. A espécie exótica de caramujo gigante africano, Achatina fulica, foi introduzida no Brasil no fim da década de 80, para alimentação humana na tentativa de substituir o escargot (Helix aspersa). Não tendo boa aceitação no mercado, criadores desta espécie abandonaram exemplares no meio ambiente, onde encontraram condições propícias para disseminação. É uma espécie voraz que pode alimentar-se de, pelo menos, 500 plantas de culturas agrícolas de interesse comercial. O Achatina fulica é hospedeiro intermediário de nematóides do gênero Angiostrongylus e transmite o Angiostrongylus cantonensis, que causa a angiostrongilose meningoencefálica em humanos e o Angiostrongylus costaricensis que causa a angiostrongilose abdominal, ainda subdiagnosticadas em humanos e que podem levar ao óbito. A infecção se dá pelo contato direto com o caramujo infectado ou através do consumo de vegetais contendo o muco produzido pelo molusco, sendo que as crianças são as mais atingidas. O cultivo de Achatina fulica está sendo abolido do País. O presente estudo teve como objetivo caracterizar a presença do Achatina fulica no bairro jardim vista alegre, município de Guaíra, no estado do Paraná.

METODOLOGIA:

O bairro jardim Vista Alegre está situado 24’05’15.13”S ; 54’15’16.13”W, no município de Guaíra, Paraná, Brasil. A coleta foi diurna, feita manualmente com uso de luvas, realizada nos meses de janeiro e fevereiro em áreas delimitadas de 25 m² em locais aleatórios.

 Os caramujos foram procurados em toda a área, sendo vistoriado embaixo de troncos caídos, entre raízes, na vegetação, nos muros e paredes (até uma altura de aproximadamente 2 m), entre a serrapilheira e sob uma camada de 5 cm de solo. Em cada local, foi realizada uma coleta, totalizando 53 amostras e 1325 m2 de área vistoriada. À medida que os indivíduos foram coletados, as dimensões da concha foram tomadas com o paquímetro. Os animais foram medidos e organizados em seis classes de tamanho até um máximo 13,5 cm. Os indivíduos mortos, representados por conchas vazias foram também contados e medidos para avaliação da taxa de mortalidade.

RESULTADOS:

Nas 53 visitas domiciliares foram coletados 813 caramujos, de tamanhos variados, totalizando cerca de 630 exemplares vivos que foram incinerados e enterrados e 183 indivíduos mortos.

Dos indivíduos vivos recolheu-se 11,45 kg do molusco, com uma média de 11,88 animais vivos por terreno vistoriado. Os indivíduos mortos, representados por conchas vazias foram também contados e medidos para avaliação da taxa de mortalidade. Obteve-se como resultado 630 indivíduos vivos e 183 indivíduos mortos sendo que destes, 80% entre os vivos e 93,7% dos mortos estavam concentrados nas classes de até 5,5 cm. Desta forma, poucos indivíduos atingem a idade adulta quando a fertilidade é muito alta e o controle populacional ocorre naturalmente nas fases iniciais de desenvolvimento. Estimando-se que haja em torno de 3000 caramujos no bairro.

Observa-se assim um índice elevado na ocorrência do caramujo Achatina fulica no bairro. Já que este além de ser hermafrodita, põem muitos ovos, cerca de 100 a 500 por vez e no ano até 1200 ovos. Desse modo, fazem-se necessárias medidas preventivas para o controle deste molusco na região. Tais medidas devem incluir visitas periódicas aos locais mais infestados e a conscientização da população quanto ao contato com o muco produzido pelos moluscos por onde são liberadas as formas infectantes ao homem. É de fundamental importância o controle desta espécie de caramujo terrestre, por ser considerado praga agrícola e urbana, poder hospedar os nematódeos Angiostrongylus cantonensis (Chen, 1935) e A. costaricensis causadores da angiostrongilíase meningoencefálica e abdominal, respectivamente, além de sua concha servir de reservatório para possíveis focos do mosquito da dengue.

Os dados do presente estudo se constituem de importantes elementos para o diagnóstico da ocupação recente de A. fulica no bairro jardim vista alegre.

CONCLUSÕES:

A presença evidente de A. fulica na comunidade e o transtorno causado pelo caramujo que devora as cercas vivas, plantas ornamentais e alimentícias, e ameaça à saúde humana, não são dados suficientes para sensibilizar as pessoas, uma vez que poucos moradores se dispõem a contribuir com o manejo da espécie.

A comunidade deve estar atenta à invasão da espécie no ambiente natural. A coleta do lixo é uma das questões de infra-estrutura que deve ser urgentemente tratada e discutida com as autoridades, pois além de proporcionar a instalação desta e de outras espécies exóticas traz sérios problemas ambientais e de saúde. O diagnóstico da estrutura da população e como está usando o ambiente disponível ao longo do ano, ressalta a importância no monitoramento ambiental durante e após a ação de controle e manejo. Esse estudo também é um importante subsídio para estudos em outras regiões, porém o manejo deve ser adequado para cada realidade e para que seja efetivo, é extremamente importante um diagnóstico prévio.

 
Palavras-chave: Caramujo africano; ecologia; invasão biológica.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006