IMPRIMIR VOLTAR
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática

ANÁLISE DA VARIAÇÃO DA SALINIDADE NO ESTUÁRIO DO RIO APODI-MOSSORÓ/RN E SUA RELAÇÃO COM ALGUNS ASPECTOS LIMNOLÓGICOS

Diógenes Félix da Silva Costa  1
Renato de Medeiros Rocha 1
Milton Araújo de Lucena Filho 1
Adalberto Fernandes Silva 1
(1. Universidade Federal do Rio Grande do Norte / UFRN)
INTRODUÇÃO:

A presente pesquisa foi realizada no estuário do rio Apodi-Mossoró, situado no litoral setentrional do estado do Rio Grande do Norte (Brasil), a partir da foz do referido rio ao longo de aproximadamente 24 km, extensão delimitada pelo limite máximo de influência das marés. Tal extensão se deve ao fato de que esse rio era intermitente, mas que passou a ser perenizado posteriormente. Todavia, a vazão de água doce não tem força suficiente, e o leito do rio funciona como um evaporador natural, onde, por influência da forte evaporação diária (1cm/m3), a água chega a atingir concentrações salínicas em torno de 110 g.l-1. Sendo assim, nestes ambientes, um dos fatores que mais influencia sobre o comportamento dos agentes bióticos e abióticos é a salinidade. No decorrer da pesquisa foram registradas as variações mensais de pH, temperatura, transparência, nitrato, nitrito e fosfato, a fim de se verificar alguma relação destes fatores com as variações da salinidade. Como produto final da pesquisa, foi gerado um banco de dados que auxiliará no correto uso, manejo e gerenciamento destas águas. A importância deste trabalho repousa tanto na necessidade de estudar e preservar estes ecossistemas, como pelo fato de que duas das principais atividades econômicas do RN – a atividade salineira e a carcinicultura – se localizam neste estuário, gerando dejetos e/ou rejeitos passíveis de serem despejados no meio ambiente aquático.

METODOLOGIA:

As amostras foram coletadas da água superficial (até 50 cm de profundidade) ao longo de 11 (onze) pontos fixos de coleta, cobrindo toda a extensão do estuário (aproximadamente 24 quilômetros), em duas campanhas de campo, de fevereiro a setembro de 2004, e de fevereiro a agosto de 2005. Os valores da salinidade foram coletados em maré cheia e maré vazante, já as demais variáveis apenas na maré cheia, a partir da foz do referido rio, adentrando no estuário por mais dez pontos, visando o acompanhamento geral das variações destes fatores. As medições dos valores da salinidade foram realizadas diariamente com um refratômetro (Fisher), cuja medida de valor é dada em graus Baumé (ºBé), onde 1 ºBé corresponde a 10g.l-1. Os valores do pH e temperatura da água foram medidos in situ com um pHmetro / termômetro digital (HI 8314 membrene pHmeter), e a transparência da água foi obtida através do disco de Secchi. Quanto ao método das análises dos nutrientes, as análises do nitrato foram realizadas nos métodos descritos no Standard Methods (1998); as do nitrito foram realizadas como descrito em Mackeret et al. (1978); e o fosfato pelo método do fosfovanadomolibdato, descrito em Vogel (1989). As amostras foram coletadas em garrafas de 1 litro, previamente lavadas com água deionizada, e acondicionadas  em um isopor com gelo. Todas as tabelas e gráficos, assim como o tratamento destes foram realizados no programa Microsoft Excel XP.

RESULTADOS:

A partir das análises realizadas, observou-se uma variação periódica em todos os aspectos analisados, tendo como maior destaque a variável salinidade, apresentando uma variação diária entre 0 e 3.6 ºBé (fevereiro a maio) e 3,3 a 7 ºBé (junho a setembro). Comparando os valores da salinidade com todas a variáveis, verificou-se que a redução deste fator implicou na elevação das concentrações dos nutrientes, caracterizando-se uma relação inversamente proporcional, onde a salinidade atua como um regulador natural das concentrações destes. Para salinidades entre 4 e 6 ºBé, os valores do nitrato, oscilaram entre 0 e 0,01 μg/l, e de 0,05 a 0,15 μg/l em salinidades de 1 a 2 ºBé. Os valores dos nitritos variaram entre 0,08 e 0,55 μg/l em salinidades de 6 e 0 ºBé, respectivamente. O fosfato apresentou uma variação de 0,0 a 0,02 μg/l com salinidades entre 0,0 e 3,6 ºBé em 2004; e 0,02 a 0,15 μg/l com salinidades entre 3,6 a 6 ºBé em 2005, chegando-se a estes últimos valores apenas no final da zona considerada como de influência da salinidade (0,0 - 2,5 ºBé).  A temperatura da água permaneceu praticamente constante, entre 27 e 30º C, com picos de 32º. Tanto a transparência e quanto o pH da água não apresentaram relação direta com a salinidade e sim com a quantidade de matéria em suspensão na água, onde o pH variou entre 7,7 e 8,6, e a transparência entre 20 e 110 cm (este último valor encontrado apenas na foz do estuário).

CONCLUSÕES:

De acordo com os valores mostrados acima, pode-se observar que existe uma dinâmica interna de nutrientes e demais fatores físico-químicos no estuário do rio Mossoró/RN, relacionados entre si e principalmente com as concentrações de cloreto de sódio (NaCl) dissolvidos no meio. Como base nessa análise, a pesquisa identificou que o ambiente estudado se trata de um estuário negativo (MARGALEF, 1978), onde a água do oceano entra com uma força maior em relação à do rio, fazendo com que esta se concentre no interior do estuário. Somando-se com a intensa evaporação, ventos constantes e altas temperaturas durante a maior parte do ano, esse ambiente se torna hipersalino, atribuindo-lhe esta caracterização talvez única em todo o país. Os fatores analisados apresentaram uma variação espaço-temporal na camada superficial da água no decorrer de toda pesquisa (fevereiro – setembro/2004 e fevereiro – agosto/2005), com alterações mais bruscas nos valores na medida em que se adentra no estuário, sendo o fator salinidade o de maior influência sobre os outros. Ao serem observados os gráficos comparativos entre a salinidade e os outros fatores, identificou-se que esta variável exerce uma influência inversamente proporcional sobre estes, atuando como um regulador das concentrações de nutrientes na água do estuário.

 
Palavras-chave: Limnologia de estuários; Ambientes hipersalinos; Ecologia aquática.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006