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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
A IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO NA ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA
Maurício Cesar Vitória Fagundes 1
(1. UNISINOS)
INTRODUÇÃO:

O texto que apresento é fruto de uma pesquisa realizada sobre a construção coletiva de um projeto político-pedagógico – PPP - de intencionalidade emancipatória, em uma escola particular do município de Pelotas (RS), que teve sua gênese e desenvolvimento ao longo de dez anos, no período compreendido entre 1993 e 2002[1]. Esta pesquisa teve como objetivo problematizar a construção e implementação de um PPP em uma Escola de Educação Básica.

Ao problematizar a implementação do PPP, a partir de uma perspectiva dialética de conhecimento, coloco-o como elemento que totaliza, em espaço micro, as relações sociais, econômicas, políticas e ideológicas desenvolvidas na sociedade. E, em assim sendo, o Projeto, explicitando ou não, discutindo ou não intencionalidades e fazeres, reflete tanto na formação/ação como na docência/discência, tornando-se um elemento fundamental nos processos de avaliação, bem como de repensar essas relações.



[1] A pesquisa que faço referência e que destaco este texto foi apresentada como dissertação de mestrado ao Programa de Pós-Graduação da UFPel – orientado pelo Prof. Dr. Gomercindo Ghiggi.

METODOLOGIA:

Para analisar o processo desenvolvido pela comunidade escolar, formada pelos alunos, professores, funcionários, famílias e equipe diretiva, utilizei a categoria totalidade entendida por Kosik (1986: 35) “como um todo estruturado, dialético, no qual ou do qual um fato qualquer (classes de fatos, conjuntos de fatos) pode vir a ser racionalmente compreendido”. O autor esclarece, ainda, que acumular todos os fatos não significa conhecer a realidade e todos os fatos no seu conjunto não constituem a totalidade, mas uma representação dessa totalidade.

Apoiei esta pesquisa em um campo teórico sócio-educacional, tendo como referencial os olhares de Gramsci, Freire, Marx, Kosik, entre outros, que abordam a perspectiva emancipatória da educação. Percorro, para tal, o caminho da abordagem qualitativa e de caráter etnográfico, através de um estudo de caso. 

Minha observação e a vivência do processo, ao longo de aproximadamente dez anos, me proporcionou elementos para análise da construção e implementação do projeto político-pedagógico da instituição em foco, ampliado, pelo dizer dos demais sujeitos desta pesquisa, através de entrevistas e questionários.

RESULTADOS:

A construção coletiva do PPP possibilitou aos seus sujeitos a compreensão da realidade como “um todo estruturado em curso de desenvolvimento e de auto-criação” (Kosik, 1986: 35). A partir desse momento as discussões passaram a ser desenvolvidas permeadas pela categoria marxista da totalidade, como forma possível de entender a realidade social e do movimento do PPP que se pretendia desenvolver. Essa compreensão foi significativa na sustentação e compreensão do processo vivenciado. O PPP passou a ser entendido como uma parte de um todo maior – processo educativo regional/nacional em uma sociedade estruturada – de forma não isolada, mas imerso nele, compreendendo a relação da parte com o todo em uma unidade dialética da estrutura e da superestrutura. Portanto, não como algo que tem existência em si, mas somente a partir da produção social de seus sujeitos, ou seja, do diálogo entre professores, alunos, funcionários, pais, direção e comunidade. No dizer de Marx (2001), seriam eles considerados sujeitos histórico-sociais que constroem e manifestam sua essência, não como “uma abstração inerente ao indivíduo isolado”, mas como inseridos “na sua realidade, como um conjunto das relações sociais” (p. 101). 

Compreendido nessa visão de totalidade, o PPP evidencia sua perspectiva ontológica ao colocar seus sujeitos concretos que, por suas práxis objetivas, produzem a realidade enquanto sujeitos histórico-sociais de seu tempo.

CONCLUSÕES:

A diferença produtiva do Projeto instalou-se cada vez mais fortemente, à medida que ficava mais contornada a postura de que a dinâmica da Escola, seu planejamento, construção, sucessos, fracassos, regras, responsabilidades, enfim, seu “ethos”, era obra coletiva, fosse para sua sustentação ou enfraquecimento.

A conquista desse “ethos”, identificada e instalada no interior da Instituição, apesar de lenta, gradual e historicamente processual, não evitou ou superou todas as crises, até mesmo porque são próprias do processo. Porém, sua explicitação fundava o caminho para sua superação. 

A relação da educação com a totalidade concreta será mais descortinadora das relações sociais, econômicas, políticas e ideológicas da sociedade vigente, quanto mais contínua for sua dialetização.

Finalizo retornando aos sujeitos do processo e suas relações com o PPP. O vínculo de apropriação construído a partir do fazer coletivo de forma dialética, proporcionou o amadurecimento e consolidação do PPP. A relação fundante das ações de seus sujeitos era a de direito acima da de dever, de construção de autonomia e não a reprodução de idéias de alguns “iluminados”. Assim, ao (re)descobrir no fazer do ofício pedagógico, o prazer, o sabor e a alegria pelas descobertas, incluindo a ampliação do conhecimento, (re)descobria-se, portanto, a capacidade de transformar o mundo (Lorieri e Rios, 2004).

Instituição de fomento: CNPq
 
Palavras-chave: Projeto político-pedagógico; totalidade; emancipação.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006