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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 1. Gerontologia

PERFIL DOS IDOSOS DA UNIDADE DE ABRIGO

Elydiana de Souza Soares 1
Maria Helena de Paula Frota 1, 2
(1. Universidade Estadual do Ceará - UECE; 2. Orientadora)
INTRODUÇÃO:

Estamos vivendo um período de profunda transformação demográfica, nunca antes registrada na história: o mundo está ficando grisalho. No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, existem hoje, aproximadamente, cerca de 16,4 milhões de pessoas com mais de 60 anos, o que corresponde a mais de 9,6% da população total; o Ceará possui 759.293 mil pessoas nessa mesma faixa de idade. Tais dados, levam-nos a centrar as atenções para o Ceará e a sua única instituição pública asilar destinada a idosos sem referência familiar  - a Unidade de Abrigo. Há na instituição citada, basicamente duas categorias de idosos: os asilados, que por algum motivo foram excluídos das relações sociais e familiares (ex-moradores de rua, vítimas de violência etc.) e os participantes de um Grupo de Convivência, que não residem dentro da instituição, estando integrados à comunidade e às suas famílias. Este trabalho teve como principal objetivo construir o perfil desses idosos, que constituem o público alvo da referida instituição, buscando informações acerca de sua faixa etária, dos níveis de escolaridade, da fonte de renda e do estado civil, além dos motivos causadores da institucionalização. Consideramos pertinente o delineamento desse perfil, visto a necessidade da instituição em conhecer melhor as particularidades dos idosos que atende, possibilitando a mudança no atendimento e o planejamento de futuras ações, que levem em conta as individualidades da pessoa idosa.

METODOLOGIA:

Os dados coletados nesta pesquisa correspondem ao período de junho de 2005 a março de 2006. Para alcançar os objetivos propostos, lançamos mão da pesquisa documental. Esta se deu através de consultas aos prontuários dos idosos abrigados, que contém todas as informações (sexo, data do nascimento, escolaridade, estado civil, história de vida, motivo da solicitação do abrigo, tipo de abrigo solicitado etc.) acerca dos idosos que dão entrada na instituição. Além disso, foram feitas consultas às fichas de inscrição dos idosos que participam do Grupo de Convivência; estas fichas, preenchidas no momento de admissão do idoso no Grupo, possuem informações específicas sobre estes idosos, como: idade, fonte de renda, estado civil, história de vida, situação familiar e econômica etc. Após a coleta de dados nos prontuários e fichas de inscrição, passamos para a tabulação das informações. A exatidão dos dados encontrados foi essencial para a conclusão desta pesquisa.

RESULTADOS:
Atualmente a Unidade de Abrigo atende cerca de 129 idosos, destes 55,82% estão abrigados na instituição e 44,18% são integrantes do Grupo de Convivência. As mulheres correspondem a 72,1% do total. A divisão entre as faixas de idade corresponde às seguintes porcentagens: 41,87% dos idosos possuem entre 60 e 69 anos; 38,76% possuem entre 70 e 79 anos; 14,73% estão entre 80 e 89 anos; e apenas 2,32% possui mais de 90 anos. Das pessoas participantes do Grupo, apenas 2,32% não é idosa. Em relação à escolaridade: 48,07% não são alfabetizados; 19,38% são apenas alfabetizados; 23,25% possuem o 1º grau incompleto e 6,98% possuem o 1º grau completo. Nenhum dos idosos abrigados possui escolaridade acima do 1º grau completo; já no Grupo 2,32% possuem o 2º grau completo. A grande maioria dos idosos, um total de 57,36%, é solteira e nunca casou legalmente. Do restante, 17,83% são casados, 17,83% são viúvos e, apenas, 6,98% são separados. A renda mensal de 53,49% provém da aposentadoria, em sua grande maioria fornecida pelo Benefício de Prestação Continuada – BPC, que é regulamentado pela Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS aos maiores de 65 anos.  No Grupo, 6,98% idosos são assistidos por pensões. Enquanto 31% idosos não possuem nenhuma fonte de renda. Ressaltamos aqui, que 8,54% dos idosos são integrantes do Projeto “Idoso no Trabalho”, resultado de uma parceria entre a Justiça Federal do Ceará e a instituição.
CONCLUSÕES:

Concluímos assim, que o número de idosos atendidos pela instituição não chegando a 1% da população com mais de 60 anos do estado do Ceará; o que endossa a idéia de que o Estado ainda precisa avançar na execução de políticas públicas voltadas para as pessoas idosas. A exemplo do que se encontra na maioria dos Grupos de Convivência ou instituições asilares para idosos no Brasil, o sexo feminino é predominante na Unidade de Abrigo; fato que exige dos profissionais desta, um atendimento diferenciado, visto a questão de gênero perpassar todos os níveis econômicos e etários.  Outro dado importante a ser observado e trabalhado pelos profissionais, diz respeito à idade desses idosos: muitos estão a pouco tempo vivenciando a velhice, o que pode causar em alguns depressão e baixa na auto-estima decorrente da não aceitação da sua condição de idoso. Uma característica marcante desse grupo, é o baixo índice de escolaridade, a grande parte sequer concluiu o primeiro grau, o que demanda da própria instituição um incentivo e apoio aos idosos que desejam retomar os estudos, ou mesmo, iniciá-los. Verifica-se ainda, a fragilidade das relações sociais desses, visto que mais da metade é solteira e/ou nunca casou legalmente; o que demanda a promoção de atividade socializadoras para a construção de vínculos com outras pessoas. A fonte de renda demonstra a importância do Benefício de Prestação Continuada - BPC para essas pessoas, já que mais da metade delas têm como única fonte de recursos financeiros, o referido benefício. Sendo assim, faz-se urgente o apoio a iniciativas como a parceria da instituição com a Justiça Federal, que insere o idoso no mercado de trabalho. A compreensão dos dados colhidos pode ser facilitada pelo entendimento das diversas histórias de vida desses idosos, que muitas vezes vindos do interior do Estado, viveram em condições subumanas e enfrentaram muitas dificuldades.

 
Palavras-chave: idoso; abrigo; grupo de convivência.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006