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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho
TERCEIRIZAÇÃO E COMPLEXIFICAÇÃO: ESTUDO EM UMA EMPRESA TERCEIRIZADA DO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES NO RIO GRANDE DO SUL
Daniel Gustavo Mocelin 1
Elvis Vitoriano da Silva 2
Sônia Maria Guimarães Larangeira 3
(1. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia/UFRGS; 2. Bolsista IC-PIBIC-CNPq / UFRGS; 3. Orientadora - Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
INTRODUÇÃO:
Estudos já demonstraram que as mudanças nas formas como se organizam as empresas compõem um processo de ajuste característico da nova fase de desenvolvimento do capitalismo relacionado, por um lado, à globalização da economia ampliando a concorrência entre os agentes do mercado e, de outro lado, à reestruturação das empresas de diversos setores econômicos convidadas a produzir mais e melhor. Uma prática comum observada nas empresas após a reestruturação produtiva foi o fenômeno da terceirização do trabalho. O estudo aborda um caso do setor de telecomunicações no Rio Grande do Sul, discutindo as mudanças de procedimento organizacional, demonstrando como as transformações no âmbito da empresa central de uma rede de empresas transformaram qualitativamente uma das unidades que compõem essa rede. Este trabalho propõe relativizar a perspectiva sobre a terceirização, demonstrando que os efeitos do fenômeno da terceirização não são estáticos, mas que também transformam a empresa contratada, causando sua complexificação em termos de organização, serviços prestados e força de trabalho. Dito de outra maneira, o que ocorreu no início da adoção do procedimento de terceirização nas telecomunicações, transforma-se quando se consolida uma nova configuração do setor, segundo princípios de racionalização, qualidade, e competição de mercado.
METODOLOGIA:
Entende-se por complexificação um processo que representa uma melhora qualitativa numa dada organização em que ocorre gradativo avanço de competências. No estudo, esse processo foi identificado na empresa terceirizada por aspectos tais como transferência da força de trabalho no interior da rede de empresas (trabalhadores desligados da empresa mãe e alojados em outra unidade da rede), crescimento do número de empregados, formalização total dos vínculos trabalhistas, profissionalização do setor de recursos humanos e segmentação da força de trabalho. A pesquisa consiste num estudo de caso realizado na empresa terceirizada no ano de 2004, e assenta-se em estudos prévios realizados sobre o setor de telecomunicações e em fontes secundárias, como relatórios anuais das empresas e estatísticas oficiais. Desde sua criação nos anos 1980 até o presente, a empresa investigada passou por mudanças significativas: de uma pequena oficina informal tornou-se uma grande empresa que empregava, em 2004, mais de 1.900 trabalhadores (grande parte desses empregados são egressos da empresa estatal, ou de outras terceiras). Todavia, as mudanças mais intensas e que determinaram a considerar a complexificação da empresa, ocorreram no período entre 2000 e 2004. Destaca-se que este trabalho é parte do projeto Telecomunicações no Brasil relações de trabalho e emprego pós-privatização, coordenado pela Dra. Sônia Maria Guimarães Larangeira, do Programa de Pós-graduação em Sociologia da UFRGS.
RESULTADOS:
A empresa terceirizada investigada, além de serviços de manutenção, reparo e instalação, realizados desde sua criação, passou a realizar serviços mais complexos como instalação de fibra ótica e serviço de banda larga, e, a partir de 2001, o monitoramento virtual da rede externa atendida pela concessionária. Essa cadeia de situações permite constatar que a redução dos empregos na sede regional da Tele Cento-Sul, empresa central da rede em estudo, acompanha o aumento no número de empregos alocados na empresa terceirizada estudada. O crescimento de empregados na terceira está relacionado com o repasse de competências da concessionária para a contratada, o que, conseqüentemente, provocou, na empresa terceira, uma diversificação da composição da sua força de trabalho, demandando uma estrutura de cargos e funções que se refletiu, também, na “profissionalização” do setor de recursos humanos. Associado a essas mudanças, a terceirizada formalizou totalmente os vínculos trabalhistas, eliminou procedimentos de quarteirização anteriormente adotados, e constituiu uma segmentação da força-de-trabalho mais heterogênea. Dois tipos distintos de funções são desempenhadas na terceira: serviços convencionais de manutenção e reparo da rede e de instalação, realizados por técnicos de campo (trabalho externo) com formação tradicional; e serviços de operação da rede externa (monitoramento e programação) que fornece suporte aos técnicos de campo, realizado em sede através de comunicação eletrônica.
CONCLUSÕES:
As transformações na empresa estudada ainda repercutem em outras direções. Nos últimos anos, existe a preocupação da empresa terceira em melhorar o desempenho em termos dos indicadores de qualidade, em resposta às demandas agora vigentes no setor não apenas em razão da competição, mas, sobretudo, pela fiscalização da Agência Nacional de Telecomunicações. A leitura sobre a terceirização no setor de telecomunicações no início da reestruturação do setor no Brasil demonstrou um processo precarizador. Entretanto, uma abordagem que avalia esse procedimento segundo o tempo e o ambiente social em que ocorre demonstra uma situação de complexificação – observou-se um processo de tornar-se mais complexo, de variação de complexidade – da empresa terceirizada. A lógica de racionalização das operadoras durante a reestruturação repete-se nas empresas terceiras num momento posterior, mesmo que de modo distinto. A empresa terceirizada concentra responsabilidades mais complexas transferidas gradualmente pela sua contratante, resultando em mudanças de estrutura e organização, “profissionalizando-se”. Consolidada uma nova configuração do setor e encorajadas pelas mudanças na empresa central, as empresas terceirizadas envolvidas na rede de empresas adaptam-se a nova situação, proporcionando mudanças em termos de organização, serviços prestados e força de trabalho. Desta forma, a terceirização pode ser vista sob uma outra face: como um processo que transforma qualitativamente a empresa terceira.
Instituição de fomento: CNPq
 
Palavras-chave: Novo cenário do setor de telecomunicações; Terceirização nas telecomunicações; Complexificação organizacional em empresas.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006