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G. Ciências Humanas - 5. História - 7. História Política

A IGREJA CATÓLICA E A DITADURA NA REGIÃO DO SERIDÓ POTIGUAR

Túlio Gabriel Dantas Cortês 1
Henrique Alonso de A. R. Pereira 1
Kelly Cristina Araújo 1
Francisco Flávio Epifânio 1
(1. Depto. de História e Geografia, UFRN)
INTRODUÇÃO:

Os anos de chumbo da ditadura militar que compreenderam de 1964 a 1985 criaram uma situação insatisfatória para uma boa parte da população. Porém, a historiografia a respeito deste assunto ficou em grande parte restrita aos acontecimentos ocorridos nos grandes centros urbanos brasileiros. Mas isso não quer dizer que os militares deixavam as demais regiões do país livres para realizarem suas manifestações e mostrar o seu descontentamento acerca da situação. Esse foi o caso do Seridó potiguar, a denominação que recebe a região sertaneja do Rio Grande do Norte.  Lá as notícias sobre o governo militar chegavam através das emissoras de rádio que eram subordinadas as suas ordens e mandados. Normalmente, qualquer manifestação que estimulasse a organização de trabalhadores em sindicatos era mal vista pelo governo ditatorial.  Como conseqüência desta realidade, os programas voltados aos trabalhadores seridoenses empreendidos pela Igreja Católica através da Rede Católica de Rádio também eram sancionados e seus líderes (religiosos) vigiados.  Muitas vezes estas lideranças foram enquadradas pelo governo como suspeitas de incentivar o comunismo.  

METODOLOGIA:

Este trabalho utilizou-se da história oral como ferramenta metodológica.  Este estudo fez parte de uma pesquisa maior que procurou analisar e estudar as memórias da Ditadura Militar no Rio Grande do Norte.  Assim, foi realizada pesquisa oral através de entrevistas com pessoas, normalmente clérigos, que estiveram envolvidos diretamente nos trabalhos da Igreja Católica no Seridó.  Depois de realizadas as entrevistas, elas foram transcritas e, posteriormente, foi também realizado um extenso trabalho pós-entrevista no qual os textos das transcrições iniciais foram editados e, por fim, analisados.

RESULTADOS:

A pesquisa revelou que apesar da Igreja Católica no Seridó não definir uma opinião clara de apoio ou não à Ditadura Militar, haviam correntes diferentes e diametralmente opostas com relação a essa questão.  Na versão dos entrevistados identificaram dois grupos.  O primeiro, considerado mais radical, entrou em choque com os militares fazendo várias denúncias e tomando iniciativas de apoio a trabalhadores perseguidos.  O segundo grupo, assumiu postura diferente, preferindo ficar à margem das discussões, ainda que em alguns momentos tenha recriminado algumas atitudes implementadas pelos militares.  A pesquisa demonstrou que, no Seridó potiguar, os membros da Igreja se posicionaram a favor das questões trabalhistas, dando assistência e orientação aos trabalhadores que desejavam  se organizar em  sindicatos.  Para tanto, utilizou-se fartamente do MEB (Movimento de Educação de Base). Assim, apesar de ser uma pequena área do Rio Grande do Norte e não ter sido palco de conflitos violentos entre militares e civis o Seridó era “vigiado” constantemente pelas forças políticas que, por sua vez, eram subordinadas aos militares do mais alto escalão.

CONCLUSÕES:

A Igreja Católica no Seridó foi alvo de sanções, sendo observada a toda hora pelos representantes locais governo militar.  Não era incomum que muitas missas e celebrações ecumênicas fossem gravadas e, posteriormente, analisadas.  O objetivo era  identificar e punir qualquer atitude considerada subversiva por parte das forças ditatoriais. Neste contexto, padres, seminaristas e religiosos foram fichados nas delegacias de polícia, sendo essa uma das formas mais comuns de intimidação utilizada no  Seridó.  A esse propósito, a pesquisa não obteve relato da ocorrência de tortura e conflitos armados na região.

Instituição de fomento: Propesq/UFRN
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Ditadura Militar; Igreja Católica; Seridó.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006