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D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 4. Saúde Pública
A NEGOCIAÇÃO DA ORDEM INSTITUCIONAL ENTRE PROFISSIONAIS DE SAÚDE E ACOMPANHANTES DE CRIANÇAS INTERNADAS EM HOSPITAL PÚBLICO
Angela Maria Hygino Rangel 1, 2
(1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO / ESS; 2. INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA / FIOCRUZ)
INTRODUÇÃO:
Esta investigação tem como objeto as práticas de negociação da ordem hospitalar e as representações acerca da presença do acompanhante em um serviço de pediatria, objetivando compreender: 1. como relações entre profissionais e acompanhantes (re) organizam as regras institucionais; 2. como estas são aplicadas e negociadas cotidianamente.
METODOLOGIA:
Pesquisa qualitativa: entrevistas semi-estruturadas e observação participante.
RESULTADOS:
São poucos os agentes e usuárias que conhecem as regras que regulam a presença do acompanhante.Registram-se negociações envolvendo troca de pacientes com outro hospital, entrada de acompanhantes e visitas.Não são negociadas:entrada de alimentos;horários das refeições;deslocamento do médico de seu posto; uso de jaleco e crachá; proibição de fumar.Dependendo da enfermaria, as negociações são mais, ou menos, flexíveis. Alguns profissionais são mais abertos às negociações, outros são mais rígidos, o que ocasiona conflitos entre acompanhantes e profissionais.As acompanhantes, mães de modo geral, questionam a regra que determina o uso de roupas “adequadas”,o que os profissionais consideram “o maior problema que enfrentam no serviço”.
CONCLUSÕES:
O moralismo parece acoplado a um padrão de relação assimétrico e hierarquizado. As análises que se fazem sobre os usuários são, em primeiro lugar, formulados por profissionais, considerados superiores em virtudes e procedimentos. A presença de acompanhantes, ainda parece ser entendida como uma “concessão” de profissionais que ocupam, hierarquicamente, um status superior.No caso da presença do acompanhante ser entendida como concessão e os beneficiários não responderem de acordo com o que se espera, ou seja: humildade, gratidão, comportamento reto, qualquer desvio, parece representado como conduta não apropriada para quem está ali “de favor”. Outro aspecto é a formalidade institucional que visa homogeneizar condutas. Roupas constituem parte de um código de conduta. O problema não está em notar as diferenças e sim em como lidar com elas. Se as roupas das acompanhantes são consideradas inapropriadas, deveriam ser motivo de uma reflexão em equipe e com as usuárias, de modo respeitoso e democrático.Apesar dos conflitos e do fato das acompanhantes “desrespeitarem quase todas as regras”,os profissionais defendem sua permanência, ressaltando os benefícios que trazem a recuperação da criança e a ajuda resultante da redução na sobrecarga de trabalho a que os profissionais, notadamente os de enfermagem, estão submetidos.
 
Palavras-chave: Negociação da ordem hospitalar; Acompanhanmento de crianças hospitalizadas; Criança hospitalizada.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006