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C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 6. Morfologia e Taxonomia Vegetal
Melastomataceae na Reserva Biológica de Poço das Antas, Silva Jardim, Rio de Janeiro, Brasil
José Fernando Andrade Baumgratz 1
Maria Leonor D’El Rei Souza 2
Danielle Carvas Carraça 1
Bianca de Andrade Abbas 1
(1. Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro/JBRJ; 2. Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC)
INTRODUÇÃO:
A família Melastomataceae é pantropical, com a maioria (70%) das espécies neotropicais. No Brasil é a sexta maior família de Angiospermas, com ca. 1.500 spp., sendo encontrada desde a região amazônica e do centro-oeste até o Rio Grande do Sul, ocupando praticamente todas as formações vegetacionais. No estado do Rio de Janeiro mostra-se muito diversificada, ocorrendo em restingas e principalmente em formações de mata atlântica, como florestas pluviais montanas e alto-montanas e campos de altitude. A Reserva Biológica de Poço das Antas, localizada no município de Silva Jardim (22º30-33’S, 24º15-19’W), com ca. 5.500 ha e vegetação de floresta pluvial atlântica baixo montana, é uma importante Unidade de Conservação na região central do estado fluminense, cuja flora vem sendo estudada por especialistas do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. As coleções resultantes desses estudos têm assinalado a importância das Melastomataceae na paisagem local, onde diferentes espécies compõem várias formações vegetacionais, e destacado seu papel na alimentação da avifauna e do mico-leão-dourado. Assim, propôs-se realizar um estudo sobre a diversidade taxonômica dessa família, analisando-a nas diferentes fitofisionomias que compõem a paisagem, incluindo as antropizadas. Apresenta-se uma chave analítica para identificação dos táxons, descrições, ilustrações, dados de distribuição geográfica e fenológicos e particularidades ecológicas dos táxons no ambiente.
METODOLOGIA:
Os dados fisionômico-florísticos e de vegetação que caracterizam a área da Reserva foram obtidos em literatura recentemente divulgada pelo Programa Mata Atlântica (PMA), do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ). O levantamento dos táxons foi feito com base nas coleções dos herbários FLOR, HB, R e RB. Realizaram-se expedições científicas para coletas de amostras botânicas, além de obtenção de dados e fotografias dos ambientes, dos habitats e de particularidades morfológicas (vegetativas, florais e frutíferas) e informações de fenologia. O material coletado foi herborizado segundo técnicas usuais e identificado com base em literatura especializada. As descrições foram restritas aos táxons na Reserva e objetivas aos caracteres mais diagnósticos de cada um, embora para todos tenha sido abordada a morfologia dos ramos e folhas, possibilitando uma análise comparativa dos espécimes no contexto da paisagem. Os dados a respeito da distribuição geográfica, usos e nomes populares foram obtidos em etiquetas de material de herbário, na literatura e consultas à comunidade local.
RESULTADOS:
Na Reserva, as Melastomataceae estão representadas por 33 espécies e uma variedade: Aciotis (1 sp.), Clidemia (4), Henriettea (1), Leandra (2), Miconia (15 spp. e 1 var.), Ossaea (2), Rhynchanthera (1) e Tibouchina (7). Nas áreas planas, onde a fisionomia campestre predomina, alguns representantes constituem elementos formadores de capoeiras, de importância para o processo de restauração florestal, tais como C. biserrata, C. hirta, M. calvescens e M. prasina. Nas florestas mais conservadas, situadas sobre morros e áreas aluviais, as espécies ocupam o sub-bosque e o dossel. O sub-bosque é o mais diversificado em espécies, onde os indivíduos estão representados por subarbustos a árvores de médio porte (até 10 m alt.), como os dos gêneros Clidemia, Henriettea, Leandra, Miconia, Ossaea e Tibouchina. No dossel, as Melastomataceae alcançam de 12 a 25 m de altura e com fustes retilíneos e maiores em diâmetro e em comprimento que as do sub-bosque. Nesse estrato a família está representada apenas por M. cinnamomifolia, M. lepidota, H. saldanhaei, T. estrellensis e T. granulosa. Esse trabalho representa o primeiro registro de ocorrência, para a Reserva e o mun. Silva Jardim, de C. capilliflora, C. dentata, L. nianga, L. reversa, M. albicans, M. ibaguensis, M. latecrenata, M. lepidota, M. pusilliflora, M. saldanhaei, M. vauthieri var. saldanhaei, O. amygdaloides, O. confertiflora e T. urceolaris, além de constituir registro inédito de C. dentata para o estado do Rio de Janeiro.
CONCLUSÕES:
A diversidade das Melastomataceae na Reserva mostra expressiva predominância de espécies de Miconia em relação aos demais 7 gêneros, sendo mais freqüentes nos sub-bosques. Algumas espécies são características de alguns habitats, como M. saldanhaei, R. dichotoma e T. trichopoda, encontradas somente em formações aluviais. Outras são freqüentes em áreas antropizadas, podendo ser caracterizadas como pioneiras secundárias: C. biserrata, C. hirta e M. albicans, M cinnamomifolia, M. prasina, M. staminea, T. estrellensis e T. granulosa. A única espécie herbácea é A. paludusa, de formações mais abertas, porém em locais sombreados e úmidos. Alguns táxons são pouco freqüentes, como C. capilliflora, L. nianga, M. cinerascens, M. latecrenata, M. saldanhaei, M. vauthieri var. saldanhaei e T. urceolaris. Enquanto C. capilliflora e as espécies de Miconia são encontradas em áreas sombreadas e úmidas no interior da mata submontana e/ou aluvial, as demais ocorrem ou em locais abertos e, em geral, parcialmente sombreados, nas bordas de mata, como L. nianga e T. urceolaris. Já T. gracilis é uma espécie de rara ocorrência e localizada, até o momento, apenas em uma área campestre degradada, continuamente sujeita ao rocio de manutenção. Esta espécie deve ser indicada para projetos de revegetação, como medida de preservação. As características para o reconhecimento dos táxons circunscrevem-se principalmente em variações do indumento, folha, inflorescência, botão, cálice, estames, frutos e sementes.
Instituição de fomento: CNPq
 
Palavras-chave: Melastomataceae; Reserva Poço das Antas; Rio de Janeiro.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006