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F. Ciências Sociais Aplicadas - 1. Gestão e Administração - 8. Organizações e Alternativas Organizacionais

O PROCESSO DE TRABALHO EM UMA COOPERATIVA DE TRIAGEM DE LIXO DO MUNICÍPIO DE JABOTICABAL-SP

Ana Claudia Gianinni Borges  1
Ana Paula Leivar Brancaleoni 1
Perla Calil Pongeluppe Wadhy Rebehy 1
(1. Economia Rural, FCAV, UNESP Jaboticabal)
INTRODUÇÃO:

Com o processo de reestruturação produtiva, que se acentua no Brasil a partir da década de 90, acirra-se o problema da empregabilidade no país, ampliando o desemprego estrutural. Conjuntamente observa-se uma menor atuação do Estado na regulação capital/trabalho e no atendimento das demandas sociais. Este conjunto de transformações, entre outras, estimula a busca de alternativas de emprego e de geração de renda, provocando um crescimento de organizações do terceiro setor, cooperativas e associações. No município de Jaboticabal-SP foi criada, no ano 2001, uma cooperativa de triagem de lixo, sendo esta incluída na proposta de política pública municipal em economia solidária. O objetivo desta cooperativa, segundo documentos oficiais da prefeitura, era oferecer trabalho para catadores e separadores de lixo deste município. Inicialmente a prefeitura reuniu essas pessoas e as organizou em um grupo que posteriormente, por iniciativa do próprio poder público, veio a se constituir enquanto uma cooperativa. Após esse processo foi firmado um convênio entre estas partes, contudo os termos de compromisso foram elaborados exclusivamente por técnicos da gestão pública. Esse convênio propunha a concessão de suporte material, técnico e financeiro aos cooperados, em contrapartida a prefeitura se beneficiaria com a separação do lixo orgânico do reciclável, aumentando a vida útil do aterro. Contudo, muito pouco dos aspectos financeiros e técnicos previstos pela parceria foram cumpridos. Diante do apresentado, esta pesquisa tem por objetivo analisar o processo de trabalho nesta cooperativa. Pretende-se compreender se se trata de uma possibilidade emancipatória, como um espaço de construção de outras relações de trabalho que não aquelas resultantes do trabalho alienado.

METODOLOGIA:
Utilizou-se uma metodologia qualitativa nos moldes propostos pela pesquisa-ação. Os dados foram coletados através de reuniões sistematizadas com o grupo de cooperados e tiveram freqüência semanal ao longo de cinco meses.
RESULTADOS:
Constatou-se que, por sua implementação não ser decorrência da iniciativa e participação dos cooperados, e sim do poder público, não houve a apropriação do sentido cooperativista. Foram reproduzidas no cotidiano a vivência de um trabalho alienado do ambiente de fábricas, bem como, as relações autoritárias. Essa ocorrência não se deu somente pela maneira imperativa em que foi criada, mas também pela história de cada um dos membros da cooperativa no que se refere às suas vivências em processos de trabalho anteriores e pela dinâmica do capitalismo vigente. Desse modo, tendem a repetir o conhecido. Identifica-se que a cooperativa funcionou enquanto um mecanismo de precarização das relações trabalhistas, bem como da permanência de uma política assistencialista, refletida na falta de estímulo à auto-gestão. Estas ausências não permitiram que novas perspectivas fossem construídas, mantendo o “sonho” do trabalho com registro em carteira. Nota-se ainda um descompromisso do poder público com a questão do lixo, repassando aos cooperados essa responsabilidade.
CONCLUSÕES:

Portanto, as iniciativas em economia solidária que visam o rompimento com o assistencialismo e o trabalho alienado devem, necessariamente, ter como ponto fundamental a participação do coletivo, o desenvolvimento do sentido cooperativo e da auto-gestão.

 
Palavras-chave: Processo de trabalho; Auto-gestão; Cooperativas.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006