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A. Ciências Exatas e da Terra - 6. Geociências - 1. Climatologia

NOVENTA E QUATRO ANOS DE VARIAÇÃO DE TEMPERATURA NA BACIA DO RIO PARI

Antonio Rocha Vital 1
Cleusa Aparecida Gonçalves Zamparoni 1
(1. Universidade Federal de Mato Grosso, ICHS, Dep. Geografia)
INTRODUÇÃO:

O modelo de civilização do mundo ocidental, foi concebido baseado na premissa que os recursos naturais são infinitos e que o planeta por nós habitado pode ser indefinidamente explorado e possui a capacidade de receber todo detrito da humanidade. Além disto, segundo Gray (2005), a maior parte das pessoas pensam que pertence a uma espécie que pode ser independente das leis da natureza. A área objeto deste estudo é a bacia hidrográfica do Rio Pari, localizada a margem direita do Rio Cuiabá com uma área de 74.272 ha, dividindo com o perímetro urbano da cidade de Várzea Grande com seu exutório no Rio Cuiabá à  S15º 38" 36" e WO 56º 09' 30". O local é ocupado por pequenas e médias propriedades que exploram uma pecuária pouco tecnificada, cana de açúcar para produção de rapadura e ração, mandioca para venda "in natura" e fábrica de farinha e horta semi comercial para produzir excedente para venda. Este crescimento desordenado alterou fortemente a hidrografia e o clima. A desestabilização da baixada cuiabana e de seus planaltos marginais afetou a bacia do Rio Cuiabá, única fonte de água potável de superfície que abastece os dois maiores centros urbanos do estado, Cuiabá/Várzea Grande. Para estudar esta desestabilização a análise dos dados de temperatura é fundamental para entender as demais conseqüências como alteração na evaporação.

METODOLOGIA:

Após uma ampla revisão bibliográfica, o trabalho foi realizado procurando resgatar os dados meteorológicos do maior espaço de tempo, conseguindo com isto cobrir quase um século, dividido em três séries sucessivas, em arquivos da congregação salesiana e no INMET, posto de Várzea Grande-MT. Inicialmente procurou-se seguir a tendência geral das análises meteorológicas que usam o estudo de temperatura e para tal utilizam a média como informação básica. Posteriormente utilizando planilha de EXCEL e elaborando tabelas e gráficos que comparados com informações de revisão bibliográfica permitiu a conclusão final do trabalho. Para esta análise foi feita a aglutinação de todas as temperaturas média anuais dos períodos 1911-1993, da normal - 1961-1990 - e de 1984-2004. Mas BUNYARD (2001) em artigo na Revista Ecologist afirma que o aquecimento global não significa simplesmente dias mais quentes, mas é o aumento nas  temperaturas noturnas. Baseado nesta informação foi feito também para a região do Rio Pari, o estudo das temperaturas mínimas, média das mínimas, média do ano e menor temperatura do ano.  

RESULTADOS:

Observando então o gráfico construído constata-se os dez primeiros anos mais quentes que o normal, seguido por onze anos de temperatura inferior à normal, exceto dois anos. A este período segue novo acréscimo que volta a decrescer em 1989, iniciando então outra série de alta, de quatorze anos, até 2003. Ocorre então ligeira queda, mesmo assim acima da normal e inicia outra série de alta. As três séries de temperatura possuem o mesmo comportamento ao longo dos dozes meses do ano, primeiro e quarto trimestre mais quente, apresentando a série 1984-2004 maior temperatura média e este aumento concentrou-se nos primeiros meses do ano (Jan/Mar), o aumento em relação a normal é de 0,2ºC no total médio. A série normal (1961-1990) apresentou a média mais baixa (22ºC) e a série 1911-1933 menor valor de média no mês de junho, 22ºC. A tendência polinomial no gráfico das mínimas permite deduzir que as menores temperaturas do ano decresceram no primeiro período atingindo 16ºC e começaram a crescer no período normal até a aproximadamente 18ºC em 2004. Estas informações confirmam para a região a constatação de BUNYARD (2001), que os estudos de aquecimento global deve ser feito pela menor temperatura do ano. Confirmam também que a área em estudo vem sofrendo ligeiro aquecimento, igualando a outros estudos efetuados em regiões globais.

CONCLUSÕES:

Finalmente ao analisar os gráficos e tabelas com a diferença da tendência polinomial das médias das mínimas, média anual e menor temperatura do ano tem-se, que apesar da aparente queda da temperatura, temos cada vez maiores temperaturas mínimas, acompanhando a tendência mundial. Esta alteração é importante para mamíferos, anfíbios, peixes e principalmente microrganismos. Na área de saúde publica o aumento de temperatura é também importante. Tomando o caso da malária, doença comum nas regiões tropicais, o aumento da temperatura em torno de 1,5ºC eleva a infestação do estado de endemia-baixa para endemia-alta, (YANG, 2000). O aumento da temperatura favorece também a ampliação da área de incidência do transmissor da doença de chagas, Rodnius robustos (ROCHA A.D.e al, 2001). Na agricultura esta variação também é importante, principalmente para as culturas mais sensíveis como o cultivo de café: segundo ASSAD (2004), considerando um aumento de 1ºC, 3ºC e 5,8ºC na temperatura média global, o cultivo do café arábica nos estados de Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Paraná será drasticamente reduzido nos próximos 100 anos, se mantida as condições genéticas e fisiológicas das atuais variedades. No caso de Goiás, Minas Gerais e São Paulo, a restrição ao cultivo atingira mais de 95% da área dos estados inviabilizando a cultura do café. Para o Estado de Mato Grosso é bom lembrar que a soja é altamente sensível a luminosidade, fator ainda não estudado. 

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Temperatura mínima; Rio Pari; Climatologia.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006