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C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 4. Fitogeografia

ANÁLISE DA AÇÃO ANTRÓPICA SOBRE FRAGMENTOS DE MANGUE NO DELTA DO RIO PIRANHAS-AÇU (RN).

 

Adalberto Fernandes Silva  1
Renato de Medeiros Rocha  1
Diógenes Félix da Silva Costa  1
Milton Araújo de Lucena Filho  1
Alanfagner de Queiroz Morais  1
(1. Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN)
INTRODUÇÃO:

O litoral setentrional do Rio Grande do Norte (Brasil), apresenta alguns fragmentos de manguezais virgens, que por estarem localizados próximos a urbanizações, estão sofrendo fortes pressões antrópicas. A presente pesquisa foi realizada em uma antiga área de salina, (cerca de 50 ha) no delta do estuário Piranhas-Açu (5° 7’ 35,9” S e 36° 43’ 49,0” W). A área é banhada por 08 (oito) gamboas que se subdividem em canais menores, provenientes de um “braço de mar”, denominado rio dos Cavalos (afluente do rio Piranhas-Açu). Esta pesquisa tem como objetivo principal a identificação e o registro das agressões que ameaçam a preservação do ambiente estudado, que apresenta uma exuberante biodiversidade vegetal de espécies de mangue, como as do mangue preto (Avicenia sp.), vermelho (Ryzhophora mangle) e o branco (Laguncularia racemosa). Diversos autores já registraram a preocupação com o desaparecimento do mangue, que em muitos casos poderiam estar relacionados com a questão física, topográfica ou climatológica (LACERDA, 1997; VANUCCI, 2002; SCHAEFFER-NOVELLI, 1986,1991), ou ainda a agentes antrópicos que “atuam como fatores crônicos, perpetuando sua ação e seus impactos em longo prazo, podendo inclusive provocar a morte do manguezal” (SCHAEFFER-NOVELLI, 1995). Devido ser uma área bastante visada economicamente, o manguezal estudado sofre com as conseqüências destas pressões antrópicas (sobretudo dos catadores de caranguejos), que desequilibram este frágil ecossistema.

 

METODOLOGIA:

O presente trabalho utilizou imagens de satélite CBERS 2 para a identificação de possíveis áreas degradadas em um pequeno fragmento de mangue, na nas prximidades da cidade de Macau/RN. Foram realizadas 04 (quatro) campanhas de campo ao local, nos meses de janeiro e fevereiro de 2006, tendo como base as marés mais altas, para se identificar a área de influência das mesmas. Foi necessária a utilização de uma lancha para percorrer as gamboas com a finalidade de georeferenciar (GPS de navegação Garmin GEKO de 12 canais) os locais de entrada e atuação dos caranguejeiros, além de identificar as áreas afetadas; as entrevistas foram realizadas com 5 pescadores locais, obtendo-se informações sobre o perfil do caranguejeiro e registrando-se os principais efeitos de sua atuação na degradação do manguezal. Utilizou-se a fotografia como recurso complementar.

RESULTADOS:

 

 

Ficou constatada a degradação no manguezal produzida pelos catadores de caranguejo-uçá (Ucides cordatus), que atuam de forma clandestina neste ecossistema. São de grande pressão as ações praticadas, sobretudo a derrubada de árvores como Laguncularia racemosa (mangue branco) e Rhyzophora mangle (mangue vermelho); a madeira dessas árvores é utilizada como pontes nas gamboas, na construção dos acampamentos e trilhas, além de servirem para barrar a entrada das águas fluviais, gerando danos irreversíveis ao ecossistema. Espécies com mais de 08 (oito) metros de altura dificilmente reabilitam-se depois de determinadas intervenções antrópicas. Mais de 500 armadilhas para captura de caranguejos foram encontradas nas trilhas e acampamentos nas margens das gamboas, além das diversas “técnicas” de caça que permitem diferenciar sua origem: paraibanos e pernambucanos são mais “sutis”, coletando os caranguejos apenas com armadilhas de latas de óleo de cozinha, nas quais os mesmos entram e ficam presos. os cearenses, além de “fecharem” as gamboas para promover a falta d’água em determinados locais, tornando a “caça mais fácil”, usam pás e enxadas para escavar buracos, chegando à profundidade de um metro. Devido às margens da vegetação serem bastante fechadas, os caranguejeiros retiram-na para assim transitarem com maior facilidade, abrindo trilhas e clareiras por todo o local, as quais foram fotografadas e demarcadas geograficamente (UTM), facilitando a sua localização em visitas futuras.

CONCLUSÕES:

O manguezal da região setentrional do Rio Grande do Norte está sendo dizimado pelas atividades predatórias dos caranguejeiros e nada está sendo feito para sua conservação. Ações mitigadoras devem ser tomadas de imediato por órgãos competentes, pois a fauna e a flora desses ecossistemas estão rigidamente adaptadas, sendo, por isso, sensíveis a qualquer alteração em seu meio. De acordo com as agressões identificadas no ambiente estudado, se fazem necessárias a realização de atividades que vizem o correto uso e manejo sustentável desse ecossistema, assim como deve ser levada em conta o seu alto potencial para a implanatação de áreas de conservação ambiental, possibilitando à biota local a perpetuação das suas espécies, com a mínima interferência das atividades humanas. Por fim, é lamentável a falta de estudos sobre o ciclo de vida do caranguejo-uçá nesta região, que possibilitem uma futura utilização sustentável e a preservação local deste recurso natural.

 
Palavras-chave: Manguezal; Impactos ambientais; Ucides cordatus.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006